sábado, 8 de outubro de 2011

"Cultura" e amor.


[Era do pós-consumo. Mercadorização. Amor verdadeiro. Deus bondoso ateu e generoso]

O incômodo do fim ou da libertação da história, iniciado em 1989, gerando a fatídica década de 90 com a pós-história ou o pós-consumo, inventa um amor híbrido, semi lascivo, estético mas extremamente engajado a um nihilismo doloso inconceptual. Uma merda sequer dotada de cheiro, um nada perceptível com as contradições aporéticas até para os intelectuais.

A mercadorização de tudo transforma a cultura em imagem plásmica e o amor em exposição-parada, em que a reivindicação precisa ser feita como que se para legitimar o que seria natural.

O Amante verdadeiro desaparece, dorme um sono sequer masturbativo, politicamente correto numa poética da insurreição, jamais teorizada por Ranajit Guha ou seus 3 rivais.

Tentemos o Amor verdadeiro, delicado, precioso, mesmo que mortal e dolorosamente solitário, sartreano em sua existencialidade doída, ou por fim somente teorético.

Que Fukuyama esteja certo "hoje", numa pós-aplicação de sua visão para que o Amor renasça urgente, até 2010.

Que a vida mantenha suas imperfeições e artesanalidades defeituosas para a chance do amor não desapareça. Que um Deus (ateu e bondoso), meta-existencial nos dê o sonho da paixão e a plenitude do amor. Sorte para todos nós, mesmo os falsos pensadores que vivem tormentosamente. Jean Menezes de Aguair

Freud, a psique, a sexualidade, o sonho e o amor.

 [Amor. Sonho. Freud. Sexo. Sonhar-com-você]

O que subjaz da perda do amor sequer verificado? Um ao qual a percetibilidade não tenha logrado aderir nas paredes do coração? A psique em Freud, antes de ser uma entidade física, é uma estrutura de significado que tem a ver com processos simbólicos, que cobra interpretação, até para ser reconhecida como vida psíquica, um modelo behaviorista.

Não procedem as críticas de que o estudioso houvera sido influenciado por um positivismo e por um vitalismo sexualista, já que grande parte de sua produção está ligada à sexualidade. Em Interpretação dos sonhos, vê-se um Freud ligando o sonho a um desejo, em termos de realização, no sentido de que o desejo não fosse compreendido num nível de seu conteúdo manifesto.

Se todo sonho contém, como ensinado, uma mensagem escondida relacionada à sexualidade do sonhador, por que não se sonha cotidianamente com o ser amado? Seria porque o amor é negado no plano da sexualidade ou porque o amor é insuficiente?

Freud também ensina e define o conceito de deslocamento, uma das formas de se sonhar sob disfarce da mensagem inconsciente que, juntamente com o conceito de condensação, é um dos lados primários do sonhar. Pela condensação, o sonhar é pobre, é aquém de o que a mente consegue abstrair, por outro lado é um sinal de realidade efetiva, já que ligado ao desejo.

Às vezes sonhar com “você” é tão bom, é tão juntivo, perfectibilizador, justo e gozal... Jean Menezes de Aguiar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O paradigma Eliana Calmon

Publicado no jornal em 6.9.2011
http://www.jornalodiasp.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=51&Itemid=58


[Judiciário. CNJ. Jô Soares. Chico Anysio. Transparência]

                A juíza Eliana Calmon, corregedora nacional de justiça tem uma personalidade forte. Sua declaração sobre “bandidos de toga” não deixa qualquer dúvida. Nalguns ouvidos isso foi mel, noutros foi picada de abelha. Houve quem se sentisse “ofendido”, e houve quem tivesse a alma lavada. Eliana atirou no que viu e acertou o que viu e o que talvez nem tivesse ideia que existisse. Mas toda depuração é bem-vinda. Viva Eliana Calmon.

                Sempre houve certo tabu em se criticar o Judiciário, porque em primeira ou última análise é-se julgado por ele. A imprensa o poupa, os outros Poderes também. Numa observação sistemática e sociológica isso fica bem nítido. Todos deitam falação aos “políticos”; é fácil falar mal de deputados, senadores, governadores, prefeitos, presidente, afinal eles estão “longe” de uma potencial afetação no plano pessoal. Mas a figura do juiz é um pouco diferente. Ou era.

                Sob essas reservas da crítica ao Judiciário vai sendo tecida uma mentira social à qual matérias jornalísticas, reportagens e imputações contra este Poder são suavizadas. Jô Soares e Chico Anysio, por exemplo, já demoliram pela comédia, políticos, figuras públicas oficiais, generais, delegados e outros tantos. Mas não há lembrança de terem brincado com o Judiciário. Aí se nos aparece Eliana Calmon e, parafraseando Voltaire, se ela não existisse, precisaria ser inventada.

                Longe de representar qualquer brincadeira, a corregedora diz publicamente de sua corporação o que nenhuma corporação gosta de ouvir. É o famoso sprit des corps, o corporativismo que protege e blinda, e não quer que críticas saiam para o público que “se aproveitará” delas. O filósofo Jacques Ellul afirmou no Le Monde: “começo por criticar tudo que me é simpático. Assim, não critico a direita porque não tenho nada em comum com ela, mas a esquerda, onde tenho amizades e afinidades”. A invejável Calmon cumpriu esse importante papel da crítica, falou de sua corporação. E cada um que fale da sua, o quanto queira.

                Críticas à própria corporação só fazem bem, são saudáveis e dignificam uma instituição. O Judiciário não é mambembe a uma fala de Eliana; ele aguenta e deve eticamente refletir. O que não pode e representa um vexame é apressarem-se agoniados defensores querendo tapar sóis com peneiras. Essa atitude é que gera suspeição e, sim, esta, é que expõe uma instituição a olhos críticos de observadores inteligentes.

                Eliana ganha o colo, o respeito e a admiração da intelectualidade. Para virar Cult, agora, é um pulinho, ainda que, obviamente, essa jamais tenha sido sua intenção. Para ser convidada por Jô Soares para uma noitada divertida no programa do Gordo não falta mais nada. Eliana Calmon virou pauta, no jornalismo. Não porque tenha falado mal, não se há ser primário aqui. Mas porque teve uma bela coragem uterina de dizer coisas sérias e responsáveis com um olhar técnico e de dentro, visando a depurar publicamente a magistratura, que é pública, existe sob dinheiro público.

                Mas por que Eliana fez assim, publicamente? Por que pede, nitidamente, socorro à imprensa, à OAB e principalmente à sociedade – quem banca o Estado e pode, com todas as letras, fiscalizar suas entranhas. O Judiciário ganha respeito qualificado com a fala de Eliana Calmon porque se estima que haja ali quem não tema a crítica, até goste; quem não se curve ao politicamente correto de achar que não pode criticar. O coro de apoio à magistrada certamente será engrossado, saudavelmente.

                Que bom seria se cada instituição, as vaidosas, as que se escondem, as que buscam a TV nas investigações e tantas outras, tivesse uma Eliana Calmon para revelar suas situações publicamente. A essência de democracia passa pela publicidade e discussão dos problemas, não pelo disfarce malandro deles. O setor público deve satisfações constantes e a crítica interna é um tipo de satisfação.

                O paradigma Eliana Calmon é um marco. Não por dar de presente manchetes lucrativas à imprensa; não para motivar vinganças primárias de invejosos que gostam de dizer: “– tá vendo?” O caso é que corregedores devem corrigir.  Ainda que isso não envolva, obviamente, escândalos, mas envolve satisfação pública. A campanha de esvaziar o CNJ é conservadora e cínica. Como se ele não pertencesse constitucionalmente ao Poder Judiciário. Querem-no como um filho espúrio. Mas ele está apenas abaixo do Supremo.

                O Judiciário não perdeu com a crítica de Calmon, ainda que com seu jeitão de mãezonha ríspida que se precisar bate corretamente no filho que ama, sem o modismo de que palmada traumatiza. Esta visão de que o Judiciário não perdeu pode ser, reconheça-se, uma visão romântica ou esperançosa, vá lá; que seja. Mas esperam-se novas vozes sérias e firmes a agir na transparência da instituição.

                Talvez, mais degradante do que a mazela e a falcatrua, coisas próprias do ser humano desviado, e esses seres há em qualquer instituição, sejam as tentativas de se encobrir, pelo corporativismo, os erros. A sociedade não quer funcionários públicos assim. Tentar sugerir ou passar a imagem, de que uma instituição é imune, estéril ou isenta de maus profissionais é o que não se quer ouvir. Em tempos de Twitter e informações instantâneas, um corporativismo que não acompanhe o perfil social do consumidor de um Estado honesto, essencialmente honesto, não se sustenta. Mesmo que este consumidor ou sociedade com o seu dinheiro e em sua vida privada não ostente esta honestidade cobrada do Estado.

                Vivas a Eliana Calmon por sua coragem. Atraiu olhos de repulsa suspeitos, mas virou a queridinha de, certamente, a maioria da sociedade brasileira. Eliana Calmon merece um beijo de muitos. E o Judiciário está de parabéns pela escolha de sua corregodora. Que outras entidades saibam fazer igual. Jean Menezes de Aguiar

Pais de filhas

[Filhas. Amor de pai. História de pais]

por Jean Menezes de Aguiar, quinta, 22 de setembro de 2011 às 14:58

Ser pai de filhas, só filhas, deve ser um espetáculo em todos os casos, sem um homem para atrapalhar o agarramento com seu tolo complexo trofeico de macho que um dia será eretizado e um dia deixará de ser, humilhando-o pela perda da tal potência. Filhas são especiais, no reino felino são as leoas que caçam, correm, golpeiam e matam. O matar fêmeo é belíssimo, visa a alimentar a prole e o próprio macho. O ocaso das filhas pode se dar por sua morte, certamente a dor máxima de um pai, visitar um túmulo de filho em prantos surdos ou berrados de um pedaço seu que foi arrancado quando ele talvez desse a vida para aquela não extirpação.

Há outras perdas, severas e impiedosas a matar um pai aos poucos e silenciosamente, seja num momento de alegria que ele daria tudo para dividi-lo com as filhas, seja em momentos de conquista, paladares novos, descobertas, tristezas, inseguranças, bebedeiras, cansaços, doenças e vitórias. A relação filha pai deve ser a mais séria que há, a mais profunda e mais densa. Filhos não são criados para o amor, nessa sociedade boçal, só para fuder meninas. Só as filhas o são, e pagam preço alto pela ignorância desses sujeitinhos aí assim. O Édipo poda a mãe em cobrar amor do filho, já a carência estimula o pai a buscar colinho no pequeno e frágil colo da filha. Se o menino não aguenta o pai porque entre eles há o jogo disputal da força, a menina com a doçura aguenta totalmente, é o que o pai necessita, já que contra ela ele jamais oporá a força. Ser pais de filhas, o máximo está aí.

Passei a conversar com amigos como é ser pai de filhas, pergunto e ouço longos e amorosos relatos, atentamente. Vejo os olhos brilharem infinitamente em pais de filhas, pelo orgulho, pelo mimo e pela esperança. Filha é geradora de esperança, porque um dia emprenhará e fará o pai um avô, de seu próprio ventre. Filha compõe-se em véu no altar, uma estrela única no casamento, já o filho se perde no meio da multidão com tantos iguais a ele, o noive não vale nada, só a noiva é brilhante. Há anos coleciono histórias de pais de filhas, lindas, poéticas, densas e doces. Admito que raros pais sejam efetivamente profundos na criação, no sentido de agudizarem o diálogo ao infinito, sem pudores, sem cerimônias, sem meias palavras, esses são os melhores, os mais amados. Pais que olham pras filhas e cobram – diz eu te amo, vai, diz 5 vezes só pra mim!

Tenho na memória um certo pai que amava suas filhas, apenas filhas,  tão intensamente quando podia, afinal ele era um homem dos mais densos que conheci, um advogado batalhador e guerreiro. Trago este amigo perdido nos idos da vida no coração. Vejo seu sorriso mais velho neste Facebox e busco suas filhas e me maravilho. Ele conseguiu fazer delas o espelho de o que ele é, tenho certeza que sim. Cada uma das suas mais lindas que a outra, e todas, a cara daquele pai amoroso, denso, entregue e necessitado delas. Lembro de certos momentos da adolescência de uma ou de outra aos quais ele, rabugento, reclamava de uma ou outra, mas o pano de fundo era apenas um, o amor. Suas quatro filhas são o exemplo da vitória que qualquer pai gostaria de ser e ter. Acompanhei de perto por um bom tempo a criação dessas meninas e aquela relação ficou em mim como se eu pudesse ser aquele pai, quem dera, aquele homem tão amado quanto este exemplo de pai que foi e continua sendo.

Sonho pelo sonho dos outros e me sinto feliz. Minha felicidade quieta e particular neste momento talvez seja parecida à retratada no poema A alegria dos peixes, a vida de Chuang Tzu, quando ele e Hui Tzu atravessavam o rio Hao. Após um diálogo, Tzu interrompe e afirma: “O que você me perguntou foi ‘Como você sabe o que torna os peixes felizes?’ Dos termos da pergunta você sabe evidentemente que eu sei o que torna os peixes felizes. Conheço as alegrias dos peixes no rio através da minha própria alegria, à medida que vou caminhando à beira do mesmo rio”. É isso. Consigo criar uma felicidade ouvindo histórias de pais sobre suas filhas e lembrando daquele amigo. Por essas filhas e por esses pais consigo conhecer as alegrias deles através da minha própria alegria, à medida que ouço suas histórias.

A “poesia” aí, ramo que Nietzsche reserva para o quarto dos fundos de alguma moral (A gaia ciência) se me apresenta como um pano morno para uma felicidade que se mostra fria e somente esse pano consegue aquecê-la a ponto de se tornar um linimento. Essa a beleza da vida, ter amigos para ouvir as histórias de filhas, orgulhosos, seguros e vencedores. Histórias de filhas para contar, esses pais têm e quanto são pedidas as histórias mais eles as contam. Experimente pedir a um pai alguma história de filha e verá. Alguns riem do interesse de porque se querer saber das filhas, mas nunca vi um pai se cansar de contar histórias de filhas.

Trabalhei com um coronel que perdeu uma filha com 17 anos numa situação simplesmente inenarrável. Encontrei aquele pai uma semana depois. O andar e o olhar dele me marcaram a vida profundamente, nem preciso detalhar. Nunca esquecerei. É a antítese de quem tem histórias de filhas. Este pai terá e contará as histórias de sua menina por toda a vida, mas até o décimo sétimo ano da vida dela, quando então as histórias param, simplesmente param. Ele não tem mais o que contar dela. Ficou outra, mas aquela se foi. A vida não é composta apenas de histórias vitoriosas das filhas, mas de outras também.

Este texto passa por incontáveis clichês, mas falar de filhas é assim. Não vejo os pais aos quais coleciono minhas histórias de filhas se importarem a mínima para clichês, eles não estão filosofando, não estão numa banca de exame. Eles apenas vivem a experiência máxima de serem pais de filhas. Outro dia estava vendo um pai que tem um filho e duas filhas. Quando eles se foram do nosso encontro, as meninas o abraçaram como duas moças a proprietarizar o pai, uma de cada lado, há dominialidade ali, coisa que o menino não vive. Elas só admitem dividir o pai entre ambas, já que a relação com a mãe é outra. Enquanto pai elas reinam absolutas num código que talvez nem ele saiba, ou nem elas confessem. Assim é a vida de pais de filhas.

Certa vez fui instado diretamente por um pai a cuidar bem das suas três filhas pelo tempo que eu fosse viver com elas. Comprometi meu coração e minha razão na jura de fiel cumprir a missão. Naqueles anos, desenvolvi carinhos, mas elas não eram minhas filhas, não sei, por ali, nem de longe, o que é a experiência. Quando tento comparar o brilho dos olhos das histórias dos pais às que tenho daquele tempo não restou nada comparável em mim ao que vejo na força dos pais. A força. A força dos pais. Se da física o conceito de “força” é um dos mais difíceis, nas relações de pais e filhas há uma força oculta que move outras forças ostensivas e visíveis e tudo se torna poderoso e denso. “Quem dera que eu dera um certo amor”, escrevi outro dia numa letra de música com certa licença poética, imaginando que há amores que simplesmente não se vão, apenas ficam, adormecidos ou mortos, mas ficam.

Vejo o amor dos pais por suas filhas assim. Há berros, zangas, brigas, xingamentos, insultos, há o que tiver de haver, de pais para filhas; tenho ouvido isso.  Mas há o pano de fundo de um amor infinito, eterno que não quebra, mesmo que as filhas o reneguem, o amaldiçoem, o escorracem e se separem dele. Ouvi uma história assim, dilaceradora e à pergunta se aquele pai ainda amava suas filhas a resposta foi imediata. Faço esse texto misto de piegas com bobo, dirão uns, em homenagem aos pais que têm filhas. O escritor não acerta em tudo, escreve bobagens também e certamente esta é mais uma bobagem, isso quando o que ele considera bobagem é o único que se presta de sua produção. Devemos viver nossas bobagens publicamente, aí sim é vivê-las. Há quem "não tenha" bobagens para viver, talvez haja, não é o meu caso.

Agradeço aos pais pela alegria que eles me dão, deixando eu ouvir as histórias de suas filhas, suas infinitas, perfeitas, maravilhosas, lindas e eternas filhas. Para eles elas são mais que isso, mas o léxico ainda não inventou palavras e eu não estou sabendo descrever muito bem a sensação. Jean Menezes de Aguiar.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A irreverência assusta. Mas por quê?

[palavrão. neoescravidão salárica. homem-chorinho. homem-rock. "cocô com alcacuz". Nietzsche.]


Por que a irreverência assusta. E assusta a quem? E o que é irreverência? Em primeiro, assusta, sai do padrãozinho, sai do comum, sai do ordeiro, do domesticado, do obediente e do cumpridor de normas, inclusive a de não falar “errado” (= falar merda). A irreverência sai fora desses padrões. O palavrão como superproduto da irreverência é um brasão diplomador do irreverente. Óbvio que não só ele, e ele às vezes se torna até algo bobo, quando não sinérgico a uma poesia episódica que o explique, ou comova. Não que o irreverente “tenha” que falar palavrão, não que ele “faça força” para falar transgressivamente, mas porque se lhe é natural a fala livre, liberta de argolas de aço no pensamento e na fruição do léxico. Assim, há quem ache que o palavrão não é “de bom tom” (viva Calcanhoto com a música Senhas), não é coisa de gente “educada”, como se educação pudesse ser ligada à estética da palavra dita, ou a uma semântica. É claro que se intromete aí o preconceito. Do nada, aparece a coisa do preconceito fazendo presença.
Depois, já fica fácil supor “quem” se assusta, ora, os assustáveis. Nessa sociedade atual, quebradiça e mundo-corporativada (a neoescravidão salárica), parece que muita gente “quer” ser assustável. Homens grandes, velhos de guerra, se assustam com frases e palavras ditas (coisas que jamais os estupraria, mas os caras se assustam). É meio patético ver um marmanjo (ou uma marmanja! Que fique muito bem claro!) se assustando com... palavras. Mas, gosto não se discute, quer viver “em sustinhos”, siga em frente. Opção de cada um. Talvez seja a comparação entre o homem-chorinho e o homen-rock, lembrando que há chorinhos suntuosos e rocks miseráveis.
Quanto à irreverência em si, jamais pode ser “calculada”. Não se tolera o “que faz força para ser irreverente”. Esse sujeito é um saco, é o famoso “metido a...”. E tem mais, irreverência sem conteúdo também é uma tragédia, meio parecida com o que Habermas sugere, citando que o amigo Marcuse classificaria os trejeitos da geração berlinense: “cocô com alcaçuz” (Era das transições). A filosofia sempre estudou a transgressão, infinitamente,  antes mesmo de Erasmo com sua “loucura” famosa (Elogio); passando por Baudelaire (Ges. Schriften) conceituando o chatismo do “dândi” (ô gentinha provinciana que frequenta desfiles de moda fantasiada para aparecer, entre faniquitos e surtos histéricos), e Nietzsche, delicioso e absoluto em A gaia ciência, falando que “foram os espíritos fortes e os espíritos malignos, os mais fortes e os mais malignos, que obrigaram a natureza a fazer mais progressos...”. A irreverência a se respeitar não é a da aparência, mas aquela que se fecha o olho e simplesmente ouve o discurso, e há discurso, há conteúdo, há intelectualidade. Esteja com que roupa, indumentária, fantasia ou adereço estiver. O conteúdo, esse é o segredo. Nada mais que ele. Jean Menezes de Aguiar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eu amo vcs.

recado geral...

Eu amo vcs, mesmo quem eu nao conheço muito, aqui nao conheço nada, zeraço. Não consigo dar atenção a ninguém, não dá tempo! "Tenho" que "produzir" as minhas bobagens e o pior é que preciso de vcs pra me empurrar e continuar até o "fim". Fiz este BLOG, é de todo mundo, entrem baguncem, proponham temas, venham escrever em parceria comigo (só que eu falo bobagem né? rs), vamos aprender a errar menos, a ser menos pior e a sonhar em transformar o mundo. Se não for o sonho, pouco nos resta aqui, isso é "papo sério", né não? Obrigado a cada um de vcs que eu nem respondo, não é falta de amor em mim (não mesmo!), é a loucura e a demência da pressa urbana. 

As 5as feiras tenho uma coluna no O DIA SP, um jornal que existe há mais de 70 anos... quem tiver um tema "interessante" dá um alô, manda pra mim, de repente conseguimos fazer uma matéria legal sobre o assunto, de preferência nas áreas que eu tenho menos dificuldade né? Essa onda aqui do Blog tá muito legal e é isso aí. Sintam-se em casa, aqui, pra bater à vontade (claro que tem aquela paradinha da Terceira Lei de Newton, o tal do Princípio da Ação e Reação que diz que “Toda ação provoca uma reação de igual intensidade e direção, porém, em sentido contrário", ou seja, em termos de blog "deu, toma", mas é com carinho... sem ódio no coração, rs...).

ABRAÇO GERAL, Jean.

Liberal, liberdade e outras mentirinhas por aí...

Liberdade. Sociedade. Beijo lésbico. Ego.

"Liberal eu não sou! Não acredito na liberdade em si, e nem acredito na possibilidade de encontrar instituições que dariam forma para 'a' liberdade". Jacques Ellul, filósofo, sociólogo, etnólogo, em entrevista ao Le Monde. 13.9.81.

O que diria Ellul hoje duma sociedade que inventa uma culpa psicanalítica por criticar, meramente por isso, mas despecaminiza todas as faltas de éticas, inclusive as que seriam objeto imanente de crítica? A questão da liberdade transcendeu a possibilidade de ficar nu ou se masturbar onde se quisesse, um tônus anárquico clássico, para chegar à abstração teorética do patrulhamento. O cerceamento da liberdade nessa sociedade-mundo-corporativo é cem vezes mais nefasta que o velho e romântico poder andar nu pelas ruas, além de se pegar um resfriado. Nao levo a conversa para a arte onde a ontogênese daquela contextura é livre e aberta e será inautorizada qualquer tentativa de falação. Ops, menos falar bem de Hitler em Cannes, como foi o diretor de cinema que cumpriu seu papéu propagandístico personalista, um caminho com volta, claro. Como Rafinha Bastos será perdoado por essa leniência urbana aliada a um perdão cristão velhado e em desuso, salvo para os "nossos". Nossa sociedade não pune mais, nem as crianças detestáveis, nem os "jovens" matadores com 17 anos, nem os presidiários, cuja onda é pô-los na rua o mais rápido, e as vítimas e famílias que se lixem. A última moda é mocinhas de 15 anos experimentarem o beijo interfêmeo na boca, lingual, nem numa lesbianidade declarada, mas inocuidade mental da rapidificação da experiência verdadeira, homem mulher, só que pelo viés da transgressão. Nem elas se comem, nem dão, garantindo assim um consumo sociologicamente patético de relações vazias e semitolas. Isso não é liberdade esgarçada, é detraqueísmo mental, perda da reflexão com o Eu e o Outro e a vida pela subjacência, não pela superfície do belo. Depois continuo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Considerações sobre a mediocridade

Considerações sobre a mediocridade

por Jean Menezes de Aguiar, sábado, 4 de junho de 2011 às 12:52
Há dois tipos de fracos: o passivo e o comissivo. O medíocre é o fraco comissivo e arrogante, ele aguenta o enfrentamento por um tempo, consegue sustentar algum embate. Já um exemplo típico de fraco passivo é o escapista, este prefere perder tudo a enfrentar qualquer coisa. Isto é secular. Rudolf Von Ihering na obra A luta pelo direito, compara o inglês ao austríaco, mostrando que o inglês gasta 10 moedas para recuperar uma, já o austríaco perde direitos e não reage, é um evitador de problemas. Mas o mesmo Ihering cita Kant “se você quiser se equiparar a um verme não reclame de ser pisoteado pelos outros”. Assim, o enfrentamento tem seu lado ruim, todos sabemos, mas a covardia e o temor burro e escapista parecem ser 10 vezes pior. O medíocre é fraco e quebradiço, isso não há dúvida, mas ostenta uma blindagem de verniz, e todo verniz estala, que aparenta alguma força, engana incautos que não sabem observar com acuidade.  Ouve-se por aí que os medíocres são unidos, que andam em bando. Numa repartição pública, por exemplo, as fofoqueiras são unidas, os invejosos também. Mas quando se fala que os medíocres andam em grupo, muitas vezes não se teoriza porque há esse ajuntamento humano coincidente sobre um modo de ver o mundo e a si próprio. Nietzsche, A gaia ciência, 23, referindo-se ao corrupto, fala da “malignidade e o prazer de ser maldoso”. Essas pessoas com esse prazer são insuportáveis e asquerosas. É totalmente diferente da brincadeira ainda que "maldosa", mas franca como brincadeira, sem querer implicar. Intelectuais, por exemplo, costumam aguentar essas brincadeiras sem se “magoar”, e dão o troco, e todos riem muito. Mas o prazer de ser maldoso, espezinhando o outro é próprio dos baixos e medíocres. Parece que a união dos medíocres é a consequência da negatividade que eles projetam gerando incômodo ou mesmo inaceitação no seio social que, por sua vez, não projeta a mesma negatividade ou o mesmo incômodo. Aí eles são excluídos, ou ativamente pela sociedade – um núcleo de boas pessoas que os rechaça –, ou se sentem tão loucamente superiores a tudo e a todos que eles próprios resolvem se excluir, porque não conseguem eco de maldade ou negatividade que realimente a mediocridade. E a mediocridade necessita, para sobreviver, ser reoxigenada por visões negativas, implicantes e invejosas, de uma maneira geral. Mas então um conceito formal passa a ser necessário, podendo-se entender por mediocridade a forma de buscar analisar sempre pelo lado negativo, implicante, piorado ou de crítica baixa um objeto qualquer de atenção, seja material ou humano, mesclando inveja, interesse, autoprojeção, esforço para obtenção de vantagem e rebaixamento do outro, porque somente com o rebaixamento do outro o medíocre acredita que consegue subir ou aparecer. E isso tudo pode ser de forma "suave", preste atenção! O medíocre precisa chamar atenção de forma artificial, porque ele subestima a atenção que qualquer um provoca naturalmente no outro, mesmo que com coisas corretas e inteligentes. Esta atenção normal para ele é pouca, sua mediocridade o lançará aos abismos de inventar atenção, mentir e criar condições efervescentes para uma então superatenção. Parecem estar aí todos os elementos constitutivos do conceito da mediocridade.
Jean-Paul Sartre em seu ensaio sobre ontologia fenomenológica, O ser e o nada, analisa a mentira e a má fé, abrindo o 2º capítulo estudando a negatividade, no sentido de que o ser humano não somente revela negatividade no mundo, mas também toma atitudes negativas com relação a si. Daí, pode-se concluir que toda mediocridade envolve esse misto de negatividades sartreana: uma banda da mediocridade é projeta no mundo, é para-o-mundo ou para-o-outro, gerando mal ou incômodo no outro; mas indubitavelmente a outra banda é para consumo interno do próprio medíocre que, perceptivelmente ou não, será geradora de mal a ele. Sartre, não propriamente detendo-se no medíocre, teoriza o homem do Não, chegando a falar em certos homens que terão o Não por toda a vida, por toda existência na terra. O filósofo alemão Max Scheler falará em “homem de ressentimentos”, a que Sartre dirá ser o Não. Aí também aparece nosso medíocre em toda sua pujança. O medíocre é um ressentido, um carcomido, mas antes um ressentido por si próprio. Quem mais vitima o medíocre é ele próprio. Há nele um Si normal e um Si com patologia, isto é nítido. Este segundo Si guerreia sempre e direto com todo o seu Ser-em-si, para utilizar a linguagem de Sartre, sem que o primeiro Si, normal, consiga vencer. Alguns medíocres conseguem identificar claramente em si e nos outros esse Si patológico, mas veem-se vencidos por ele. Não conseguem reagir.  Heidegger chama a mentira de mit-sein (ser-com), no medíocre há um mit-sein em relação a esse Si detestável, pois que o medíocre vive com esse Si patológico. E o pior, às vezes o agente quer expulsá-lo, conscientemente, mas não consegue, parece que a mediocridade tem raízes biológicas. Não encontrei na literatura biológica pesquisada uma relação explicativa direta, mas faço um parêntese para entrar nessa área de estudo.
Parece não haver dúvida que o século 21 conhecerá novíssimas tecnologias e modos de se viver a vida no plano biológico. O livro do diretor do Projeto de Ciência da Vida na universidade de Harvard, Juan Enriquez, intitulado O futuro e você, mostra dados inacreditavelmente revolucionários de como a genética mudará o mundo e a vida no século 21. No que diz respeito ao “comportamento”, área até pouco tempo blindada em malandra reserva de mercado por profissionais da área “psi” a coisa também ficou seriamente afetada pela biologia. Não é errado dizer que a psicologia se comparada com a biologia, simplesmente parou no tempo, numa circularidade epistêmica não evolucionada, e tentando inclusive se reoxigenar pelos ares de “intelectualidade” da prima-última-moda, a [falsa ciência] psicanálise. Com isso, análises de comportamento mais biológicas ficaram proscritas a partir do pós-Guerra e a ditadura Freud durou décadas. Mas aí houve algumas reações, uma da neurociência/biologia e outra da filosofia clínica. A neurociência conforme ensinada no grande livro de Roberto Lent, Cem bilhões de neurônios – conceitos fundamentais de neurociência, p. 4, admite uma divisão quíntupla: neurociência molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva. Aqui a que nos interessa no estudo da mediocridade é a neurociência comportamental. Só há um porém, os estudos da neurociência “abandonam” os padrões “psi” de análise para se dedicar às estruturas neurais. Ou seja, o comportamento estudado de forma biológica, sem essa baboseira de “observadores clínicos” fazendo cara de sabichões em consultas de 50 minutos “desvendando” os mistérios da mente pelo discurso do “analisado” ou “terapeutizado”. Isso tanto é assim que o consciente e sério professor-adjunto de clínica psiquiátrica de Harvard, John J. Ratey, na obra O cérebro, p. 14, ensina que desde que Freud inventou a técnica de psicanálise, a psique humana tem sido considerada uma estrutura tão hieroglífica dos sonhos que os analistas a envolviam em mistério, sendo eles mesmos “vistos como sacerdotes de uma seita secreta. Nos dias de hoje, é claro, a ciência está começando a substituir numerosos aspectos do modelo freudiano por explicações biológicas.” Não para aí esse cientista, afirma ainda: “Se antes estávamos empenhados em descobrir, através das nebulosidades oníricas, as causas ocultas de um trauma, hoje buscamos o gene, a peça defeituosa de tecido cerebral ou o desequilíbrio neurotransmissor que supomos estar por trás do nosso infortúnio.” Bingo! Uhuuu! Como eu amo a ciência. Já era tempo de ela retomar para si essa discussão “psi”, invariavelmente mentirosa e balelística de “descobrir” traumas e pérolas do subconsciente em “consultas”. Por fim, há se registrar que o biólogo Ernst Mayr, na obra Biologia ciência única, p. 54, registra que a raiz de nossa agressividade vem do Chimpanzé, quando mostra que determinados seres humanos “têm uma tendência inata para comportamento fortemente agressivo similar”. Tanto a biologia como a neurociência não pararam no tempo e produziram novidades que estudiosos estão maravilhados. Mas será a mediocridade um pontinho neural a ser identificado? Os cientistas Jorge Martins de Oliveira e Júlio Rocha do Amaral, na ótima obra Princípios de neurociência, p. 208, apresentam 5 tipos de respostas (motora, emocional, glandular, neurovegetativa e introspectiva) para a formação de um pensamento inteligente e emocional. A análise que faço aqui do medíocre, por mera observação de comportamento visível, é o que em neurociência se chama de “evocação” (estímulo evocador), um processo de resposta. A “nódoa” medíocre é tão visível no ser medíocre e objetivamente tão observável que eu arriscaria a dizer que a mediocridade é, sim, um pontinho neural a ser identificado por neurocientistas. Mas isso é conversa pra outro texto de facebox. Quis apenas registrar que não achei uma justificação biológica para a mediocridade, mas estou convencido que ela possa existir, apenas por percepção e alguns estudos na área.
Há uma ligação muito interessante entre a mediocridade, a honestidade e a mentira. Como o medíocre precisa vencer seus embate, porque “perder” é um dos piores experimentos para ele, ele não hesitará em lançar mão de ardis teóricos, compostos de forma inclusive mentirosa para sair vencedor de um embate ou discussão. Muitos medíocres são bastante operosos e diligentes, mantendo fórmulas prefabricadas para uso a qualquer instante em se veem ameaçados. Temos medíocres na família, no trabalho, em todos lugares. Podemos inclusive casar com medíocres sem perceber. Podemos ter um irmão medíocre ou um pai. O que sobressai é que “ser medíocre” é como se fosse uma doença incurável ou, se se quiser, de cura dificílima. Talvez pela criteriologia do antagonismo e da comparação fique mais fácil visualizar ou imaginar o medíocre. O antagônico do medíocre é a pessoa que premida numa situação de saia justa, não quererá transferir imediatamente a culpa para outrem, buscará analisar; terá a grandiosidade de assumir um erro, mesmo que aquilo possa expô-la; não terá a ânsia de furar uma fila de carros para entrar no estacionamento de um shopping ou uma fila a pé num banco; não usará ardis baixos e indecorosos como pôr o próprio filho para guardar espaço numa fila paralela de supermercado e se ele conseguir chegar 90 segundos na frente da fila em que está a mãe, então ela “passa” para aquela fila; o medíocre é o esperto danosamente qualificado. Nem todo mentiroso é medíocre, mas todo medíocre é mentiroso, não como uma constante, mas episodicamente sim. E a mentira ajunta-se aí à fraqueza. Como o medíocre é fraco, ele usará o atalho da mentira para obter respostas mais ágeis e melhores. É claro que uma vez pilhado terá outras inúmeras razões para ter mentido e sustentará olimpicamente o valor da mentira.
Há também uma ligação muito interessante entre o medíocre e o invejoso. Aí há uma fungibilidade conceitual, perfeitamente bidirecionada. Todo um é outro e todo outro é um. A simbisiose é perfeita. E, particularmente, vejo a inveja meramente como a pedestalização do outro. O invejoso queria ser o outro, como sabe que não é, destila ódio projetado. É uma forma qualificada de mediocridade e talvez a mais fácil de ser encontrada. O invejoso se cura? Certamente não. É neural? Bem, a neurociência e a biologia poderão surpreender com descobertas desconcertantes e maravilhosas. Mas pela unicidade de comportamento da inveja, igual à mediocridade, pode ser perceptível que haja, sim, um aspecto biológico a ser diagnosticado.
O convívio com o medíocre é doloroso, principalmente para quem observa e teoriza suas reações. Ao final de um tempo, invariavelmente, vem o cansaço e certamente a toalha é jogada. Particularmente já convivi com medíocres que me “incomodavam” e eu não sabia o que era. Só muito tempo depois parei para juntar peças e concluí haver naquela pessoa a nódoa comportamental da mediocridade. Aí tudo se clareia e o rótulo cai como uma luva. A mediocridade é triste porque talvez seja incorrigível. O medíocre consciente desse defeito é um sofredor porque suas evocações, suas respostas nascem com o defeito da mediocridade e nalguns casos ele consegue perceber. Talvez uma série de análises filosóficas com percebedores e teóricos da mediocridade possa ajudar o medíocre a controlar suas reações, fazê-lo comparar com outras reações inteligentes, lógicas e geniais, invariavelmente não geradoras de problema. A insistência para-"medicamentosa", se é que se pode falar assim, com esses vieses, da inteligência, da lógica e da genialidade, somada a uma metodologia da comparação, pode dar um resultado excelente para um "divã" de filosofia clínica. Mas vou repetir: filosofia, favor não confundir. Para conhecer um pouco mais da filosofia clínica, o livro de Lou Marinoff, Mais Platão, menos prozac é básico, e ele de quebra ainda expõe muito da mentira do mundo "psi". Beijos e nada de visões medíocres, negativantes e implicantes. Jean Menezes de Aguiar.

Tratado geral do provincianismo urbano

Tratado Geral do Provincianismo urbano

Tratado geral em Facebox é ótimo,  e provincianismo "urbano", rs devassos. Conceituo a pessoa provinciana como “A que educada sob horizontes pessoais e sociais acanhados e preconceituosos, ainda que suaves, projeta no mundo, por restrição ao outro que se lhe difere, uma tacanhez psicológica e de visão de mundo que não logrou evoluir com hábitos contemporâneos, lógicos e inteligentes, ao mesmo tempo que vive de criticar diferenças [do outro] que, em regra, considerará desrespeitosas, transgressoras, e ameaçadoras a algum padrão de sistema, seja ético, educacional, social ou cultural lato sensu, tudo porque “longe” da sua socialidade. O que está perto é palatável, o que está longe será censurável.”
Insiro aí uma divisão, a da pessoa provinciana urbana e a rural.  O provinciano rural (que não é objeto desse estudo) é o capiau, o roceiro, aquelas pessoas que denotam a autenticidade não incomodada e exercem um provincianismo que não patrulha, não é persecutório, e sua crítica ao outro é praticamente íntima ou cochichada de canto, um verdadeiro recato, sufocada na micro amplitude de sua modesta e pacata vida doméstica.
Enquanto isso, a pessoa provinciana urbana apresenta a patologia social no sentido de que os vieses da preocupação e da crítica se sobressaem em tons elevadíssimos; é a baba do preconceito ao mesmo tempo que o furor pela inserção social, modernosa, vistosa, brilhante, fustigada e espumosa. Haverá aí preocupação com a moda, o modismo, os conceitos de tendência, o está se usando, o todo mundo usa, o ninguém mais está usando, o não se usa mais e comportamentos assim ditados sempre por um outro (ainda que se jure por deus que aquele uso que “coincide” com a moda é porque a pessoa “gosta” – aí o estapafúrdio óculos máscara, que merda!; a mondronga bolsa de mulher maior do que ela, um horror; o visualmente ofensivo sapato feminino imitando couve flor subindo pelo tornozelo, imitando bota ortopédica da década de 60, cruz credo; a medonha saia balonê, que nem o corpo da mulher samambaia suportaria, quanto mais qualquer uma por aí; tudo isso maquiavelicamente inventado por alguma biba vingativa apenas para enfeitar a mulher e estas as imbecis (as imbecis!) caem; nos homens o patético sapato de Aladim 3 números acima do tamanho do pé e com o bico apontando para o céu – a última moda em aeroportos naqueles trabalhadores cafonas com seus ternos pretos – ôh gentinha – o sapato é nessa esdruxularia para passar a ideia de que o pênis é grande. Como as pessoas estão inseguras...). Também há em alguns casos, no provinciano urbano, um uso verbal e mesmo uma busca pelo conceitos totalmente cafonas e caídos em desgraça por qualquer ser medianamente inteligente; são os conceitos pós-fúteis do chique, fino, finesse, bom gosto, socialite, in, fashion, descolado e, em geral, pelo que se entende por “conceito” ou “tendência” da moda, que um determinado grupo ou segmento social organizado ou identificável apuser a certa conduta ou modo de ser ou ver as coisas. Tudo isso é provinciano demais, antigo, retrógrado, dir-se-ia “locomotiva”, na expressão ontocafona de Ibrahim Sued, na década de 1970.
No plano dos usos e costumes, a preocupação visível na mulher provinciana, por exemplo, será com o sapato, o esmalte, o cabelo, a roupa e os enfeites. Quando falo em preocupação, é preocupação, neura (ainda que quando se insira essa qualificadora todas neguem e se apressem: – não, neura eu não tenho! Mas tem sim! Ainda que muitas não assumam ou, pior, não percebam). A mulher inteligente (que planalto de prazer! Que orgia maravilhosa de companhia...), agora falando-se agora delas, usa tranquilamente sapato, esmalte, trata do cabelo, da roupa e mesmo se enfeita, mas não tem orgulho em dizer que precisa de 2 horas e meia para se arrumar, nem que tem que se achar acima do peso. Não faz “gracinha” com certas pérolas do consumismo-burro quando abre o guarda roupa com 60 trajes diz que não tem roupa para sair. A pessoa provinciana achará “chique” atrasar encontros, ou o pior, não se importará com atrasos. É a visão do inferno emperiquitada e com excesso de perfume. Uma primeira díade interessante:

Provincianismo
Urbano (cidade grande)                                        Rural
Comissivo (persecutório)                                respeitador (delicado)
Projetante (divulgado)                                   pessoal (familiar)
Teórico (conceitual)                                      natural (espontâneo)
Enfeitado (perua)                                          arrumadinho
Consumista                                                   trabalhador
Viajado                                                        vai à missa
Arrogante                                                     teimoso

Um ponto importante é a estreita ligação entre provincianismo e burrice, pois que o provincianismo ativo (sempre o urbano) é a valoração de um modo de ser que tenta justificar a própria tacanhez e o próprio preconceito a uma modernidade logicamente contrária ao preconceito, considerada esta apenas no conceito de pluralidade e não importância ao que o outro faz ou deixa de fazer. Há também estreita ligação entre provincianismo e patrulhamento, pois que este é o mote disparador do preconceito a quem é diferente. O provinciano não admite como prestável o diferente e sua inadmissão vem sob um pesado preconceito, travestido de crítica.
Há diversos traços do provinciano urbano. Ele é cerimonioso; às vezes sisudo; não é ilimitadamente brincalhão; não é adepto do palavrão (acha “falta de educação”); limita-se pelos conceitos de fino, etiqueta, chique, bom gosto, classe A, vip e outros, buscando mesmo ser assim; não dispensa modos formais de tratamento; assusta-se com o que considera socialmente diferente; não se mistura; não frequenta bandos, faunas, turmas, antros, de quem julga ser uma “ameaça” ainda que o julgamento seja inteiramente irreal e preconceituoso; não tem personalidade suficiente para estar num lugar completamente diferente da sua educação, cultura, modos, hábitos e saber impor-se com naturalidade e satisfação; não sabe sair de “saias justas” pelo discurso, pela inteligência ou pela genialidade; invariavelmente faz força para ser o que não é; e, de uma maneira geral pode ser estudado como uma pessoa nitidamente ligada à burrice, conforme a díade abaixo.

Inteligência                                                                   burrice
Abertura                                                                   visão pequena
Aceitação                                                                 cerimônia
Destraimento                                                            crítica preconceituosa
Destravamento                                                          Inadmissão
Negociação                                                               dificuldades e empecilhos
Alguma lógica                                                            compreensão estanque
Simples                                                                     preocupado
Atemporal                                                                 em fases segmentadas
Gargalha                                                                   cochicha e segrediza

Há estados e cidades grandes brasileiras que se prestam, perfeitamente, para o estudo social do provincianismo burro como posto aqui, ainda que com carrões caríssimos andando por suas ruas, bares imitando os bares dos mega centros, pessoas e suas roupas caras e exclusivamente de grife circulando num footing bem visível e diagnosticador. Numa outra relativização, poder-se-ia dizer que todo o Brasil é provinciano em relação a uma cultura que se lhe estivesse muito “acima”. Quando insiro essa gradação, como a outras existentes aí, imagino que possa despertar a ira de antropólogos e culturalistas (se Alinne B. chegou até aqui, dou um beijo nela pra amansar a Onça), mas peço licença para trabalhar com essas linhas esticadas, tanto em uma metodologia da comparação, quanto na hierarquia, e ainda da classificação. Sei que nalgums momentos, para olhos de um relativista totalitário (insurjo-me contra uma filosofia um tanto quanto vadia que busca esse esgarçamento rompitivo), em que tudo é relativo e até para o imbecil danoso e premeditado há que se guardar espaço, beiro à discriminação ou mesmo ao preconceito. Mas se estou tratando de um ser danoso, como o provinciano comissivo, persecutório e preconceituoso, e que em muitos casos tem tido espaço até na mídia para fundar teorias e culturas, não quero deixar espaço para esta criatura mefistofélica.
Também, movimentos urbanos organizados de certas minorias, começam a ficar nitidamente provincianos, ainda que engendrados num grande centro como São Paulo, pela repetição espumosa e já desnecessária de se fazer barulho ou festa, escândalo ou aparição social ratificadora de padrões íntimos que talvez não precisem ser tão purpurinadamente expostos. Quando a burrice invade a reivindicação esta deixa de se sustentar pelo padrão lógico e sensato, e cai na vala meio perdida da insistência-desobjetada, uma falência que precisa ser inteligentemente avaliada pelos organizadores desses eventos. Por todos, obviamente, a “parada” dos homossexuais. O problema agora já é se quebrar a inércia em movimento, difícil. Será que daqui a 10 anos haverá isso? Será que homossexuais não poderiam contribuir para toda a sociedade inventando um movimento poderoso em prol de uma sociedade sem roubo com o dinheiro público por gestores públicos? Será que eles não poderiam ser “temidos” não apenas pelo “medo” de se preconceituá-los, nesse politicamente correto atual e patrulhado, e não poderiam sê-lo por ótimos movimentos transformadores da sociedade que não tivessem que ver apenas com suas práticas sexuais? A insistência exclusivista no padrão sexual “um dia” vai se tornar provinciana e tola (já é me garante uma amiga deles). Mas essa discussão ainda é muito lateral e concebe vertentes que, todavia, não estão segmentadas na sociedade, ainda havendo nichos de preconceitos.
A síntese, e agora mudando uns 90 graus no assunto para se retomar o provincianismo puro, é que o ser provinciano urbano, seja ele ostensivo ou suave, embandeirado ou disfarçado é um ser visivelmente burro. Seu problema está na burrice com a preocupação e o preconceito.
Faço questão de finalizar sobre o provincianismo com o primeiro pensador que exigiu a imortalidade terrena, aquele que muitos citam por aí, mas se esquecem ou se assustariam em saber que ele teorizou o cristianismo como a mais imprestável das religiões, ligando-o à tentativa de disfarçar a derrota histórica de Jesus e sua vergonhosa morte na cruz, para que parecesse uma vitória em algum mundo do “além”, isto está em O anticristo – maldição do cristianismo. Ele mesmo, Nietzsche. Nós os imoralistas, ensina esse mestre em Crepúsculo dos ídolos, 36, fazemos tão mal à virtude, quanto os anarquistas fazemos aos príncipes; ou seja, só rindo do nosso amadorismo e ineficiência teleológicos. Nossos príncipes [brasileiros] continuam em seus provincianismos sulamericanos e terceiromundistas intocáveis, enriquecendo gerações bisnéticas à custa de tributos, um feudo social bem preoitocentista cru, escravocrata e quadrilheiro. Por isso eu, confesso, busco os “homens superiores”, conforme fala o mesmo “pensador entre os séculos”, em Além do bem e do mal, 72, como aqueles que “apenas” buscam “impressões superiores”. Bastam as “impressões”, o olhar, veja a poesia disso. Esses são os não provincianos, os reais, os homens-fundo. Essas são as mulheres viscerais, as que enfrentam e gargalham, não fingem que precisam beber pouco porque mulher tem que beber pouco, apenas não fingem, não falseiam, suavemente enfrentam. São esses que quero no governo, nos postos, nas direções e nos botequins bebendo de perder o equilíbrio, afogados na superioridade cartesiana e cruenta duma intelectualidade nietzscheana. Fora daí é o enfeite, a peruagem, o modelo mais novo do iphone, e a fulgurância espumosa da azaração facebookiada, sempre com muito sorriso e pouca produção. Muito pouca. Jean Menezes de Aguiar.

Descendemos dos antropoides. Como contestar? [atualizado]

[Não "descendemos" do macado, temos um ancestral comum, há  cerca de 25 milhões de anos.]

Parcela imensa de nossa espécie humana é muito arrogante, metida a saber de coisas que não têm a menor base por total falta de estudo. Chancela, sentencia, afirma e pronto. Não interessam a lógica, o bom senso, a razão, nem análises mais acuradas ou metódicas. Ao contrário, o comportamento ignorante, em muitos casos, é tão enraizado que se julga legítimo à ira, ao ódio, uma vez contestado, ainda que seja por uma demonstração científica serena e bem estruturada. É uma jactância vulgar em saber, conhecer e, afirmar. A manifestação do ignorante, em alguns casos aparece como um orgasmo neural amorfo, imprestável e semelhante ao que ja foi estudado em biologia como “geração espontânea”, surge e pronto, lá está.


Contrariamente ao ignorante está o estudioso, meticuloso e cuidadoso, paciente e conformado com sua impotência e erros. Tomemos por base o biólogo alemão Ernst Mayr, nascido em 1904 e falecido em 2005, professor emérito de Zoologia Comparativa na universidade de Harvard, dentre outras coisas. Mayr dedicou toda sua vida à biologia. E morreu sem conseguir saber e fazer algumas coisas. Na área do que faltou saber, há em sua obra de 2001, O que é a evolução, a humildade de reconhecer que “nosso conhecimento dos hominídeos fósseis ainda é muito incompleto” (p. 276); ou “Parece que a história do homem sempre foi profundamente afetada pelo ambiente” (p. 281 – vê-se a humildade no discurso científico: “parece”); e por fim: “É provável que tenham existido outras subespécies de australopitecíneos nas savanas arbóreas da África ocidental e setentrional, mas nenhum fóssil foi encontrado até hoje nessas regiões” (p. 284), isso para dizer que mesmo assim todas as suposições científicas dão que o Homo tenha evoluído a partir de algumas das populações periféricas. 


Na área de que faltou fazer, numa outra obra dele, Biologia, ciência única, de 2004, já um ano antes de sua morte, temos que Mayr não conseguiu criar uma filosofia da biologia. Cita Ruse, Kitcher, Rosenberg e Soler, como filósofos da biologia, mas se lhes aponta falhas estruturais pela não formação na área. Critica os filósofos da ciência por se aterem exclusivamente à física e, quase que inacreditavelmente, às páginas 32 desta obra, afirma que as teorias de Einstein não afetaram em nada a biologia, assim consideradas as descobertas da década de 1920 – a física quântica, a relatividade e a física das partículas elementares.


Este já cansado Mayr se vai deixando bases e conselhos para a criação de uma filosofia da biologia, afirmando com todas as forças que a filosofia da ciência, em geral, que tem por estrutura o mundo inanimado é imprestável à biologia, devendo-se pensar na criação da filosofia da biologia, cuja base é o mundo vivo.


A beleza e a grandiosidade da ciência estão na plena consciência de seu possível erro, ou melhor, na não arrogância de afirmar o que não sabe efetivamente. Mayr tem a natural honestidade de reconhecer que, por exemplo, em relação às interpretações do método científico conhecido como “comparação”, utilizadas para comparar os fósseis de hominídeos com o Homo sapiens, todas elas (as interpretações) “foram contestadas!”. Ou seja, o cientista não tenta iludir, convencer, mascarar uma realidade, ou utilizar o “argumento de autoridade”. Ele sabe que há contestações e mesmo assim conseguirá [ou não] construir suposições sólidas sobre aquele terreno.

Isso tudo se presta para uma outra comparação. Quando estudamos em paleontologia e em biologia a origem do homem, temos esse tipo de discurso buscadamente exato, preciso, quantificado, preocupado com a demonstração. A ciência trabalha com três vieses de forma muito nítida: demonstrabilidade, repetibilidade e experimentabilidade. Entretanto, quando estudamos a mesma origem do home em criacionistas (os fundamentalistas), os que trabalham com o homem como produto do Criacionismo (a crença na verdade literal da Criação, conforme registrada no Gênesis), encontramos, muitas vezes, um discurso que não percorre um fio condutor lógico demonstrado e preciso.


Há nestes, mitos, crendices, histórias ilógicas, versões consideradas como verdades que não se sustentam. Em alguns casos beiram ou se assemelham às renas voadoras de Papai Noel. Há-se perguntar: como é que adultos “acreditam” nesses “contos”? Não se há discutir desesperos, fé, pedidos de socorro a um deus, nada disso. Nem a figura interessante da coincidência identificável como “milagre”. O fato é que a “narrativa” dos criacionistas para “convencer” um adulto e "inteligente" de que o homem nasceu segundo uma literalidade do Gênesis - uma história "contada", e não de demonstrações químicas e biológicas precisas e testadas, hoje perfeitamente identificáveis, é absurda.


Tudo bem, estudar ciência dá trabalho, custa caro, ocupa tempo, precisa-se de espaço para guardar centenas ou milhares de livros etc. Mas como se pode “contestar” lucidamente, em 2012, com todos os avanços da ciência, a afirmação de um biólogo como James Watson (prêmio Nobel) na obra DNA, p. 74, que “a vida é uma questão de física e de química”?  


Reproduzo toda a fala de Watson, o descobridor do DNA (dupla-hélice): “A descoberda da dupla-hélice foi um golpe de morte no vitalismo. Todo cientista sério, mesmo aqueles de índole religiosa, percebeu que um entendimento pleno da vida já não exigia a revelação de novas leis da natureza. A vida era uma simples questão de física e de química – embora uma física e uma química de organização sofisticadíssima.” Por sorte, trabalho, numa faculdade, com um padre inteligentíssimo, por sua produção intelectual. Trata-se da hipercarismática figura de Giovani Marinot Vedoato, doutor em teologia pela Universidade São Tomás de Aquino, Roma, Itália. 


Giovani, certamente é esclarecido o suficiente para não negar a ciência, como o bispo Richard Harries e os reverendos ingleses que assinaram a carta a Tony Blair, em 2004, com o zoológo Richard Dawkins, referida no livro O maior espetáculo da terra, sobre a preocupação com o ensino fundamental da ciência no Emmanuel City Technology College, em Gateshead, que explicavam que a evolução era uma "posição de fé", da mesma categoria que a explicação bíblica da criação, uma desonestidade explícita.


Para fechar, apenas mais algumas obervações de nossas ligações com os antropoides. Primeiro, Darwin foi o responsável por incluir a espécie humana no reino animal. Isso só vai se dar em 1859, ou seja, relativamente há pouco tempo. Mas como não éramos animais? Que coisa espetacular essa de supormos a hipótese de “não” sermos animais, veja isso! 


"Éramos", mesmos, anjos decaídos dos céus e danem-se as semelhanças com os chimpanzés. Queríamos ser anjos e fomos até o século retrasado. Um segundo ponto é que os primatas são mamíferos mas, espetacularmente, não são parentes próximos de nenhuma outra ordem de mamíferos, têm apenas um parentesco longe com lêmures voadores (Galeopithecus) e com os tupaiídeos (Scandentia). Esta ausência de parentesco, com as identidades que há entre nós e eles é adorável. Dá a certeza de o que afirma Watson (DNA, p. 13) – “os seres humanos são meros macacos modificados”. 


Assim, vamos parar de nos sentir “ofendidinhos” quando se nos chamarem de macacos. Essa é a nossa natureza e esse deve ser o nosso orgulho! Terceiro, das 3 evidências entre nós e os macacos (anatômica, fóssil e molecular), é decisiva a evidência molecular, quando nossas moléculas são mais parecidas com as do chimpanzé do que com as de qualquer outro organismo e, como se não bastasse, os antropoides africanos são mais parecidos com o homem do que com qualquer outro primata. A hemoglobina, por exemplo, dentre outras enzimas, é praticamente idêntica, sendo menor a diferença entre chimpanzé e homem do que entre chimpanzé e outros macacos. Certamente é por isso que Mayr (O que é evolução, p. 272), dispara: “Questionar essas evidências esmagadoras seria uma atitude um tanto irracional”.

Assim, somos macacos melhorados, não há qualquer demérito nisso e um pouco de estudo de biologia faz bem a cabeças teimosas e não ligadas ao conhecimento. Amemos os macacos, afinal temos em nossa espécie algumas fêmeas suntuosas e lindas, como Barbara Berlusconi.


Particularmente, não tenho o menor problema com minha porção macaca e os 3 anos que passei num estágio em zoologia no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, quando jovem, acompanhando diariamente o querido Tião, um Chimpanzé (Pan troglodytes schweinfurthii) que chegou a ser votado para governador do Rio pelos cariocas, só fez comigo me humanizar, afinal o olhar de Tião para os tratadores  e nós que vivíamos estudando lá era somente de doçura e complacência por servir a uma curiosidade humana meio vadia, de "jardim zoológico”, exposto como um brinquedo vivo para pais levarem seus filhos em dias de sol. Tião sabia se vingar, acumulava cuspe no canto da boca e escarrava em alguns escolhidos, ou se masturbava gozosamente para aflição das “moças” que se esforçavam em fingir que não estavam olhando. Isso tudo entre um cigarro e outro. Temos muito mais deles, que são anteriores a nós, do que nossa filosofia boba e teimosa acredita que não. Jean Menezes de Aguiar.

O presente não existe: a física e nós.

O presente não existe: a física e nós.

O “presente” não existe, talvez seja melhor assim. Negar essa entidade opressora, nalguns casos, vê-se necessária. Por isso a ciência se nos é tão fundamental, e aqui especialmente a física, principalmente na viragem do famoso ano de 1905. Aprendemos em física que os conceitos de passado e futuro decisivamente não pertencem à imaginação que fazemos num cotidiano irrefletido dos conceitos. “Espaço” e “tempo” são conceitos que aparecem como “uma idealização e supersimplificação da estrutura real” (Heisemberg). Tudo começa com a repetição da experiência de Michelson, por Morley e Miller, em 1904 dando conta da evidência da impossibilidade de se detectar o movimento de translação da Terra por métodos ópticos, mais o decisivo artigo de Einstein, “Eletrodinâmica dos corpos em movimento”. Aí, talvez, o conceito de “presente” comece a ser discutido, quando, por exemplo, uma sineta posta num recipiente a vácuo não consegue fazer som, enquanto que a luz atravessa tranquilamente o volume esvaziado. Que presente é este que se “parcializa” em relação ao som? Algo se mostrava alvissareiro. O passo seguinte é a saída de cena do conceito [hoje] hipotético do “éter” – na época construiu-se que ondas luminosas pudessem ser ondas elásticas de uma substância totalmente leve e rarefeita, que foi batizada de éter, conquanto não pudesse ser vista ou sentida –. Com a formulação de Einstein, em que o tempo “aparente” de Lorentz passava a ser o tempo “real”, abolindo-se o conceito de tempo real de Lorentz, os conceitos estruturais de espaço e tempo e outros tantos problemas da física passaram a ser resolvidos. Daí, não se precisou mais da manutenção do conceito de um éter que estaria em repouso – o conceito em si perdeu o sentido -, porque todos os sistemas de referência que se movem em translação uniforme se tornavam equivalentes para descrever a Natureza. Poderíamos dizer que, filosoficamente, aqui, dar-se-ia um segundo sinal de afetação ao conceito de “presente”, com essa causação de minus ou de retiramento de substância no conceito mesmo de presente – essa é uma filosofia esgarçada, reconheço, mas ela cumpre um papel de abrir esse micromonolítico teorético que é a afetação do presente pela física –. Retrospectivamente, se quiséssemos, poderíamos não manter neste momento científico toda a afetação conceitual ao presente, já que historicamente há um chamado “princípio da relatividade de Galileu”, identificado como: “Se em um dado sistema de referência, o movimento dos corpos satisfizer as leis newtonianas, então isso será igualmente válido em qualquer referencial que esteja em movimento uniforme, sem rotação, com respeito ao primeiro.” Por que trago esse princípio de Galileu aqui? Porque sua funcionalidade [mecanicista, perdoe-se o pleonasmo] se liga ao presente pela explicação de um moto de cognição da realidade que se aplica ao “tempo” presente. Podemos chamar este de um sinal histórico, bem pretérito a Einstein, já que visava a um câmbio extremamente significativo da realidade vivida. Por fim, fica como definitiva a diferença entre a mecânica de Newton, que constroi o futuro e o passado como separados por um intervalo de tempo, ainda que infinitamente pequeno, o tal do “presente”, e a teoria de Einstein, com a realitividade, amplamente aceita, na qual há outra totalmente diferente situação: o intervalo que separa o futuro do passado é de tempo finito, variando a extensão segundo a distância espacial do observador. Insisto nisso: distância espacial, não “temporal” – sei que devo usar aspas aqui para contrapor “tempo” a espaço, mas esse câmbio paradigmático é a afetação definitiva num conceito filosófico de “presente”. Por isso, toda e qualquer ação só pode se propagar a uma velocidade menor ou igual à da luz, isso retira a “temporalidade” do presente, inserindo a espacialidade. Ou seja, 1) o instante em que um sinal luminoso é emitido da posição do evento, visando a alcançar o observador no instante da observação e 2) o instante em que um sinal luminoso emitido pelo observador no momento da observação, atinge o local considerado, não poderão 1) e 2) ser apropriados pelo observador em termos de conhecer ou mesmo influenciar qualquer evento espacialmente distante, que ocorra propriamente entre esses dois tempos descritos. A física se nos dando essas características dum conhecimento real da variabilidade e ao mesmo tempo estanqueidade nos conceitos de tempo-espaço, no mínimo pela obrigação de que qualquer ação exija uma velocidade menor ou igual à da luz, com os câmbios principiológicos aí verificados, permite divagações sobre o presente, não para destrui-lo raivosamente, mas para desmontá-lo com um jogo de paciência e destreza, estudo e observação que são próprios dos “loucos” que se dedicam a esses movimentos e buscas pelo real.
Jean Menezes de Aguiar