sábado, 22 de outubro de 2011

Questionamentos.


Como a Filosofia ensina que o importante não é responder, mas questionar, vamos a algumas “questões”, apenas questões:

1. O Estado justifica salários estratoféricos, por exemplo, pros meninos da Receita Federal ganhando 20 mil (isso o escrito) dizendo que se não pagar “bem”, o funcionário público “se corrompe”. Mas então o Estado admite que aprova bandidos e que eles só não praticam crimes em razão de um salário [absurdamente] alto como esse?

2. Por esta mesma lógica, o delegado de polícia civil de SP ganhando 5000 reais de salário, pode delinquir, porque neste caso o Estado aceita que ele seja corrupto, já que para este funcionário o salário é de apenas 5 e não 20? (não se venha com a balela de que um é federal e outro é estadual, essa razão cartesiana, detalhista e nazista é imprestável quando se discute princípios).

3. Por esta lógica ainda, o jovem funcionário da Receita que ganha 20 é, para o Estado, muito mais “valioso” do que, por exemplo, um médico cirurgião ou neurocirurgião que, aprovado num concurso, ganha um décimo disso, 2 mil reais? Não se precisa discutir a “diferença” abissal entre um neurocirurgião ou cirurgião cardiovascular e funcionários da Receita, ou se precisa? (não se venha com a balela 2 de que o funcionário lida com dinheiro e, de novo, pode ser corrompido – então ele é “corrompível”, dotado de corrompibilidade?, ou seja, um bandido em potencial? – e gera receita para o Estado por meio de suas “fiscalizações” e atividade, de novo esses argumentos discriminatórios e separatistas são velhacos).

4. O grande problema do país qual é, educação, certo? Porque então o funcionário da Receita (fiquemos nele, tudo bem que no Senado Federal o salário sai em escandalosos quatro contracheques, conforme confessou aquele célebre funcionário concursado à Veja – não se sabe se ele ainda vive) ganha 30 vezes o que ganha um professor de 1º grau? Será que o funcionário da Receita é 30 vezes mais importante do que um professor alfabetizador? Qualquer senadorzinho da República (esses que custam 85 mil reais por dia ao Estado) foi alfabetizado. Por que então essa discriminação odiosa para com os professores de 1º grau?

Depois vem mais.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mulheres reclamando de homens.

Publicado no jornal O DIA SP em 20.out.2011*
[Relações amorosas. Igualdade de direitos. Machismo. Evolução social. Príncipe encantado]
                 Barbara e Débora são professoras em algum lugar do país. Esta semana me perguntaram: por que homens somem? Inicialmente, a pergunta genérica causa dúvida. Somem como? Aí elas explicaram. Imagine, de verdade, um homem bonito que procura uma mulher bonita, ambos inteligentes, tudo fazendo sentido para uma “interação” amorosa saudável. O homem insiste, aparece em lugares inesperados, causa surpresa agradável e aí, num certo momento, some.
                 Inúmeras causas, graves, sutis, loucas ou secretas podem estar presentes aí. Não há resposta exata. Um ponto a se considerar, inicialmente, é resultante da própria sociedade, com sua “história motorizada”, na expressão de Theodor Adorno. A maior revolução social havida, na década de 1960, a pílula anticoncepcional, representou a 1ª onda de igualdade entre a mulher e o homem. Ali também se desafiava o mundo sob vários modos: firmou-se a invenção da juventude iniciada em 1950 com James Dean; inaugurou-se o cânone do sexo livre; Woodstock; revolução estudantil; os hippies, tudo fez parir uma nova era nas relações em todo o Ocidente. Aquela história densa se viu raptada pela poesia para fins espetacularmente libidinosos.
                 Cada um desses fatores contribuiu decisivamente para novas visões, novas percepções e até novos sentimentos. Sim, novos sentimentos foram inventados. O amor se tornou plúrimo e complexivo, o mundo ficou grávido de expectativas que vieram sendo vividas aos poucos, como uma criança que cresce. Aí veio a década perdida, 1980 e chegou-se ao mecanicismo da globalização; telefonia celular; e a notícia e a informação passaram a ser vividas em tempo real. Sabe-se que um carro bomba explodiu há 8 minutos no Iraque matando 2 pessoas. Essa hiper noticização da vida já gera alguma náusea social.
                Inicia-se uma 2ª onda, estima-se a mulher já “estabilizada” em suas conquistas oriundas da grande revolução sessentista e é “inventado” o consumismo. Este que pode ser traduzido por “pressa”, nada mais que isso, com efeitos devastadores nas relações pessoais, inclusive nos sonhos amorosos (Ronaldo e Cicarelli se casam em lindo castelo; por 90 dias). O amor, o romantismo, a delicadeza, o carinho, a meiguice e o lindo sonhar junto com olhar apaixonado passam a ser brega, cafona ou próprios de um lirismo que exigia tempo. E a moda urbanoide agora não era mais se perder tempo. O tempo-em-si deixa de ser dinheiro, lema velho, passa a ser obsolescência. A moça com 30 anos de idade não é mais titia, já caiu na vida da balada, desesperançada. O horror vence, junto com ele a desilusão. É a crise requentada.
                 O homem que sempre teve uma cultura machista e vivia a normal estabilidade do consumo apressado, inclusive consumo da mulher, passou a vê-la refém de um desejo igualitário, querendo consumir. Mas uma “cultura” não se sedimenta em meia dúzia de anos ou uma década, é um caldo que precisa engrossar a fogo brando.
                 Dizer que a mulher passou a viver um porre de liberdade pode ter algum sentido, mas quem fica tonto uma vez costuma aprender que se beber demais ficará tonto de novo. O fato é que com os “novos” direitos da mulher o homem passou, por seu turno, a exercer mais profundamente um viés machista e consumista. A jovem jornalista pergunta a Zygmunt Bauman como ele conseguia ser casado há 7 décadas com a mesma mulher, e ouve do sociólogo que a geração dela sequer saberá o que é esta riqueza.
                 Numa 3ª onda, o consumo das relações humanas, principalmente no Brasil onde a ética foi posta de lado, simplesmente explodiu. A TV perde o pudor em exibir nádegas e peitos femininos como catalisadores de uma audiência social fálica. As mulheres-objetos passam a ter orgulho em se intitular uma alcatra humana, surgindo mulheres-frutas, mulheres-legumes, mulheres-verduras, mulheres-proteínas e todo tipo de mulher-alimentação possível, desde que possuidoras de visíveis, muito visíveis nádegas; já que o seio é ponível.
                 Tem-se aí uma verdadeira esquizofrenia social pelo consumo carnal das pessoas, jogando-se no lixo vetores tão essenciais para a felicidade e a segurança nas relações. Flagram-se ministros de Estado em escândalos mensais com garotas e garotos “contratados”; religiosos enrolados com crianças a ponto de o próprio Papa ter que se manifestar. Há um sentido de desespero pelo consumo das relações que traça um desenho baixo e intelectualmente pobre da sociedade. Na arte, dá-se a perda da qualidade poética e romântica com a entrada de uma cênica estética totalmente formalista e, novamente, ligada ao corpo e ao sexo.
                 Uma das diferenças graves entre homem e mulher é que o homem continuou a consumir, mas a mulher não parou de sonhar. Aqui a disjunção do consumo. Em seu íntimo neoconsumista a mulher ainda se encanta com flores; uma frase delicada num guardanapo de bar; olhos aguados de emoção de quem lhe confessa emocionado com sua beleza que só ele vê assim; e outras coisas. O sonho é feminino e se o homem sonha, aqueles que sonham, certamente é seu lado feminino se mexendo, fazendo “estragos” sentimentais, lindos e próprios de quem sonha.
                 Ser bobo de amor e dar, de olhos fechados, à mulher o que o próprio coração pede que dê, não é para muitos, só para os fortes. A história vagarosa e perfumada do romantismo mostra isso. Os homens emotivos, apaixonados, entregues, carinhosos e sonhadores ficam cada vez mais raros e quando aparecem, parece que são disputados à tapa. O lado mãe de toda mulher interfere no seu “jeito” de amar. Ela cuida do namorado de 18 anos, tendo apenas 17, sem saber que aquele cuidar é o seu mistério feminino.
                 Por que homens somem? Há muitas respostas, até aquela velha que homem que some de mulher “sei não...”. Talvez caiba à mulher viver lições e sabedorias, para manejar futuras relações e usar seus mistérios encantadores. Isso pode ser “dar o que o coração quer dar”, mesmo que um homem possa sumir. Se ele sumiu porque é um imbecil, pode ser ganho e não perda. A mesma sabedoria também pode fazê-la não parar de sonhar, eternamente. Ela pode viver o sonho para ela, aí pode estar a felicidade. Vale a vida sonhada, numa delicada e amorosa busca por um homem que um dia sonhe junto com ela. O príncipe encantado existe e só as mulheres sabem dessa verdade, ainda que nas baladas algumas apenas “digam” que não. Mas os seus íntimos sabem que ele existe. Jean Menezes de Aguiar.


http://www.jornalodiasp.com.br/edicoes/edicaoatual/index.html?pageNumber=4

Não importa o que eu escrevo, mas o que eu calo.

Com o filósofo romeno Cioran, na obra Silogismos da amargura, aprendemos que o que importa num escritor não é o que ele escreveu, mas o que ele calou. Assim, românticos podem multiplicar minhas eventuais doçuras à melosidade e críticos podem acidular minhas eventuais farpas ao ódio e desprezo profundos. O mesmo Cioran ensina que para que aprofundemo-nos, basta ir-se-nos às próprias taras, assim, cada um tem essa potencialidade subjetiva em si. Mas repare-se que quem fizer a doçura ou a acidez com um texto meu, fá-lo-á por sua conta e risco, ainda que passe a merecer mais admiração e interesse do meu coração. Afetuosamente, Jean Menezes de Aguiar.

Petição inicial - ação judicial contra "Rafinha" Bastos Hocsman

Petição inicial do advogado Manuel Afonso Ferreira contra "Rafinha" Bastos Hocsman
http://s.conjur.com.br/dl/marcus-buaiz-rafael-bastos-hocsman-acao.pdf


Carta aberta do sogro de Wanessa Camargo, sobre "Rafinha" Bastos http://www.sidrolandianews.com.br/0,0,00,1353-41515-SOGRO+DE+WANESSA+CHAMA+RAFINHA+BASTOS+DE+CRETINO.htm


Rafinha Bastos "Hocsman" (este é o sobrenome dele) parece que murchou, não é?

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dia do professor.

[Reflexõezinhas.]

O que é um professor? Cada um que faça o seu desenho e o seu conceito, eu faço o meu, na boa. Professor é um cientista, um intelectual, um estudioso por uma vida inteira, necessariamente um metodólogo e um pensador. Tergiversa nas áreas de estudo, açambarcando história, sociologia, antropologia, ciência política, filosofia, direito, economia, artes, observação, matemáticas, biologia, metodologia científica, amor e saberes do mundo outros quaisquer que possam lhe confirmar questionamentos, transtornos e dificuldades pessoais com o conhecimento. Professor não é, jamais, o enganador que vai fazer um cursinho qualquer de mestrado por aí e fica puto porque “tem que ler” tantos livros. O meu professor não “lê”, estuda e rabisca livros, consome-os, devora-os. Estudar para este professor que desenho é um prazer, um tesão e uma felicidade, um pretexto para “matar trabalho”. Professor é um sujeito que trabalha profissionalmente com o conhecimento e com a trans-formação, “vende” conhecimento e deve ser um excelente profissional aí, precisamente aí, deve ter todo um comprometimento com a atitude de conhecer visando a transformar o aluno, melhorá-lo como pessoa, gente, agente do amor e da vida.
Conhecimento não é forma, é conteúdo, assim eventuais brilhos ligados ao formalismo de tratamento serão rechaçados, porque não próprios do conteúdo. Nenhum demérito há em ser o professor tratado por “você”, por exemplo, ao contrário, deveria ser esse o tratamento obrigatório porque um nivelador pedagógico do interesse do professor em se pôr no mesmo nível no aluno visando a puxá-lo para cima. Há total diferença entre o professor (educador) e os que “dão aulas”. Poucos minutos de conversa e essa diferença se mostra berrante na personalidade e na formação do agente. Se a formação universitária está de mal a pior, é lógico que a formação de “professores” acompanha e isso é totalmente claro. O sujeito piadista, simpático, que é “parceiro” no chope ou na azaração das alunas está muito longe de ser um professor. O professor desperta interesse e respeito dos alunos estudiosos, quietos, seguros e zelosos com a própria formação, principalmente estes. Quanto mais raro, quieto, estudioso, dedicado, concentrado e vitorioso como aluno for o aluno a gostar daquele professor, com certeza melhor será esse professor. Não interessa se uma turma inteira de baderneiros que dependa da cola na prova para viver não se “interessa” muito por esse professor, basta um sério e compenetrado aluno, sério estudante a ver e avaliar o quanto o professor sabe, para se ter a certeza de quão bom é esse professor.
Professores verdadeiramente sérios e estudiosos, proprietários de bibliotecas diversificadas e concentradas ao mesmo tempo, compradas ao longo de uma vida, até no lugar de carros e moradia, são cada vez mais raros. Professores que se dedicam com afinco ao conhecimento, a sério a diversas áreas que possam se interpenetrar de alguma maneira para aumentar a visão de mundo e melhorar a eficiência enquanto profissional do conhecimento, se tornam cada vez mais raros. E a conversa com esses raros intelectuais vai de delícia a um gozo extremo, dada a diversidade, a criatividade, a liberdade pensante, a leveza das críticas, a poesia do sarcasmo, a beleza do reconhecimento do outro, a suavidade da paciência e à imensa sabedoria que transborda sem querer, sem precisar fazer força, sem alarde, anúncio ou autopromoção. Basta um desses raros professores abrir a boca ou escrever algo que sua genialidade flui, apenas flui. Tive alguns raros professores assim na minha formação e ficava pasmado em imaginar como uma pessoa podia saber tanto. Imagino que minha visão do professor possa ser muito severa, ortodoxa e fechada. Mas para mim o professor deve ser alguém absoluto e definitivo em termos de conhecimento, ainda que muito do universo do saber ele, obviamente, não detenha, e tenha a segurança de dizer “não sei”, ainda que por seu imenso conhecimento, essa frase que ele diria firmemente, em sua boca seja efetivamente rara. Desejo sucesso a todos os jovens professores que buscam isso, exemplarmente isso: ciência, poesia, intelectualidade, romantismo, doçura, sabedoria e seriedade. Não se consegue isso rapidamente, eu continuo buscando, incansavelmente. Salvador Dali dizia que não precisamos ter medo de buscar a perfeição, porque não vamos alcançar mesmo. Essa busca se nos é um dever. Eu não parei, e cada um que continue ao seu jeito. Beijo geral pros professores. Jean Menezes de Aguiar.

domingo, 16 de outubro de 2011

Dalmo de Abreu Dallari, um monumento vivo.

PÉROLA ATEMPORAL

Ensinamentos do professor Dalmo de Abreu Dallari

Em 1995, o professor e grande advogado Dalmo de Abreu Dallari, deu uma espetacular entrevista de página inteira a Jorgemar Felix, no Jornal do Brasil. Então com 63 anos de idade e 40 de profissão, dono de um inigualável poder de dizer coisas indefensáveis, Dallari é, juntamente com Fabio Konder Comparato e outros poucos por aí, um dos exemplos máximos de sabedoria no Direito. Um verdadeiro modelo que deveria ser ouvido e estudado por jovens e velhos, para que fosse criado juízo crítico latente na área jurídica, em contraposição à pasteurização pensante que domina a esmagadora maioria dos operadores do Direito.

 “O Judiciário é muito caro. É preciso ter um advogado, pagar custas, produzir provas, perícia para ter acesso ao Judiciário. A justiça é vendida, nunca é dada.”

 “A cúpula é a culpada, pois gosta de receber pequenos agrados e, em troca, não briga pela modernização do serviço.”

 “Quem não tiver dinheiro para comprar a justiça, não a tem. E o sistema estabelece que quem tem mais dinheiro tem mais justiça.” 

 “Quando alguém faz uma crítica a um tribunal, imediatamente o tribunal diz que estão criticando o Judiciário. É muito parecido com o que tem acontecido no Brasil em relação às Forças Armadas. Quando se diz que o Supremo agiu errado, alegam que é uma crítica ao Judiciário, e aí os juízes reagem corporativamente. Isso está acontecendo hoje na questão do controle do Judiciário.” “Esse controle atingiria especialmente as cúpulas judiciárias, que hoje estão completamente sem controle. No Tribunal de Justiça existe um corregedor, que é um desembargador. Esse corregedor jamais abrirá um inquérito contra outro desembargador.” 

 "O defeito não é só dos juízes, é do sistema jurídico, das faculdades, que se preocupam muito mais em ensinar processo do que ensinar Direito."

“Na verdade, é preciso que haja um cuidado maior na escolha dos ministros. O presidente indica e o Senado faz uma sabatina pública e depois decide. O que se tem verificado é que o Senado nesse caso tem sido absolutamente omisso.”

“Em muitos outros casos não se verifica se realmente o candidato proposto pelo presidente preenche os requisitos de vida ilibada e notável saber jurídico. Isso vem conduzindo a escolhas muito ruins. O povo não tem nenhuma informação sobre o processo de escolha e aí eu incluo as pessoas da área jurídica. Os advogados vezes muitas são surpreendidos com a indicação para o Supremo de alguém em quem nunca se ouviu falar. O Ilmar Galvão é um caso e o primo do Collor, Marco Aurélio Mello, é outro. O Supremo virou cabide de emprego de luxo.”

 “O Antônio Carlos Amorim, que foi presidente do Tribunal de Justiça do Rio, teve uma série de comportamentos totalmente incompatíveis com a posição de presidente de tribunal. Ele foi assistir à Copa do Mundo a convite da CBF, levando família, e depois de verificar que o presidente da CBF tinha processos na Justiça.” 

 “O Judiciário ainda realiza muita sessão secreta, coisa que não deveria acontecer.”

 “Aqui em São Paulo esse viaduto que se chamou Tribunal de Justiça é ridículo. Esse viaduto fica a sete quilômetros do tribunal, não tem nada a ver. Então por que chamá-lo de Tribunal de Justiça? Exatamente para anestesiar. E o Judiciário se sente homenageado, fica feliz. Só que enquanto isso acontece, ele não tem verbas para se informatizar e fica acomodado.”