O presente não existe: a física e nós.
O “presente” não existe, talvez seja melhor assim. Negar essa entidade opressora, nalguns casos, vê-se necessária. Por isso a ciência se nos é tão fundamental, e aqui especialmente a física, principalmente na viragem do famoso ano de 1905. Aprendemos em física que os conceitos de passado e futuro decisivamente não pertencem à imaginação que fazemos num cotidiano irrefletido dos conceitos. “Espaço” e “tempo” são conceitos que aparecem como “uma idealização e supersimplificação da estrutura real” (Heisemberg). Tudo começa com a repetição da experiência de Michelson, por Morley e Miller, em 1904 dando conta da evidência da impossibilidade de se detectar o movimento de translação da Terra por métodos ópticos, mais o decisivo artigo de Einstein, “Eletrodinâmica dos corpos em movimento”. Aí, talvez, o conceito de “presente” comece a ser discutido, quando, por exemplo, uma sineta posta num recipiente a vácuo não consegue fazer som, enquanto que a luz atravessa tranquilamente o volume esvaziado. Que presente é este que se “parcializa” em relação ao som? Algo se mostrava alvissareiro. O passo seguinte é a saída de cena do conceito [hoje] hipotético do “éter” – na época construiu-se que ondas luminosas pudessem ser ondas elásticas de uma substância totalmente leve e rarefeita, que foi batizada de éter, conquanto não pudesse ser vista ou sentida –. Com a formulação de Einstein, em que o tempo “aparente” de Lorentz passava a ser o tempo “real”, abolindo-se o conceito de tempo real de Lorentz, os conceitos estruturais de espaço e tempo e outros tantos problemas da física passaram a ser resolvidos. Daí, não se precisou mais da manutenção do conceito de um éter que estaria em repouso – o conceito em si perdeu o sentido -, porque todos os sistemas de referência que se movem em translação uniforme se tornavam equivalentes para descrever a Natureza. Poderíamos dizer que, filosoficamente, aqui, dar-se-ia um segundo sinal de afetação ao conceito de “presente”, com essa causação de minus ou de retiramento de substância no conceito mesmo de presente – essa é uma filosofia esgarçada, reconheço, mas ela cumpre um papel de abrir esse micromonolítico teorético que é a afetação do presente pela física –. Retrospectivamente, se quiséssemos, poderíamos não manter neste momento científico toda a afetação conceitual ao presente, já que historicamente há um chamado “princípio da relatividade de Galileu”, identificado como: “Se em um dado sistema de referência, o movimento dos corpos satisfizer as leis newtonianas, então isso será igualmente válido em qualquer referencial que esteja em movimento uniforme, sem rotação, com respeito ao primeiro.” Por que trago esse princípio de Galileu aqui? Porque sua funcionalidade [mecanicista, perdoe-se o pleonasmo] se liga ao presente pela explicação de um moto de cognição da realidade que se aplica ao “tempo” presente. Podemos chamar este de um sinal histórico, bem pretérito a Einstein, já que visava a um câmbio extremamente significativo da realidade vivida. Por fim, fica como definitiva a diferença entre a mecânica de Newton, que constroi o futuro e o passado como separados por um intervalo de tempo, ainda que infinitamente pequeno, o tal do “presente”, e a teoria de Einstein, com a realitividade, amplamente aceita, na qual há outra totalmente diferente situação: o intervalo que separa o futuro do passado é de tempo finito, variando a extensão segundo a distância espacial do observador. Insisto nisso: distância espacial, não “temporal” – sei que devo usar aspas aqui para contrapor “tempo” a espaço, mas esse câmbio paradigmático é a afetação definitiva num conceito filosófico de “presente”. Por isso, toda e qualquer ação só pode se propagar a uma velocidade menor ou igual à da luz, isso retira a “temporalidade” do presente, inserindo a espacialidade. Ou seja, 1) o instante em que um sinal luminoso é emitido da posição do evento, visando a alcançar o observador no instante da observação e 2) o instante em que um sinal luminoso emitido pelo observador no momento da observação, atinge o local considerado, não poderão 1) e 2) ser apropriados pelo observador em termos de conhecer ou mesmo influenciar qualquer evento espacialmente distante, que ocorra propriamente entre esses dois tempos descritos. A física se nos dando essas características dum conhecimento real da variabilidade e ao mesmo tempo estanqueidade nos conceitos de tempo-espaço, no mínimo pela obrigação de que qualquer ação exija uma velocidade menor ou igual à da luz, com os câmbios principiológicos aí verificados, permite divagações sobre o presente, não para destrui-lo raivosamente, mas para desmontá-lo com um jogo de paciência e destreza, estudo e observação que são próprios dos “loucos” que se dedicam a esses movimentos e buscas pelo real.
Jean Menezes de Aguiar
Nenhum comentário:
Postar um comentário