Matéria publicada no Jornal O DIA em 16.3.2012
Talvez não haja um exemplo melhor de grosseria humana do que a do homem que precisa se dizer “macho” em relação à mulher, com contornos da estupidez animal que, todavia, é natural nos animais. Ver na delicadeza e mimo com a mulher uma coisa idiota é própria do néscio. A melhor força e poder do homem podem estar, exatamente, em tratar a mulher como uma rainha.
Grandes filmes já exploraram o tema mil vezes. Em As pontes de Madison, talvez a história de amor mais linda de todos os tempos, o suntuoso Richard, vivido por Clint Eastwood é um fotógrafo da cidade grande. Moderno, trabalha para a National Geographic. É um homem delicado e amoroso a ponto de enfraquecer a inabalável fidelidade de Francesca, uma senhora casada vivida por Meryl Streep, estabilizada e com a vida funcionando bem em sua casa rural. Toda essa afetação à fidelidade dela ocorrerá em um único final de semana, dado o poder de Richard somado à talvez alguma carência de Francesca.
Grandes filmes já exploraram o tema mil vezes. Em As pontes de Madison, talvez a história de amor mais linda de todos os tempos, o suntuoso Richard, vivido por Clint Eastwood é um fotógrafo da cidade grande. Moderno, trabalha para a National Geographic. É um homem delicado e amoroso a ponto de enfraquecer a inabalável fidelidade de Francesca, uma senhora casada vivida por Meryl Streep, estabilizada e com a vida funcionando bem em sua casa rural. Toda essa afetação à fidelidade dela ocorrerá em um único final de semana, dado o poder de Richard somado à talvez alguma carência de Francesca.
Enquanto isso, o machismo é o mito do homem “macho”. Será seu credo e ao mesmo tempo sua jactância. Em vez de querer evoluir como humano, melhorar, este homem quererá regredir, “desumanizar-se” pela não delicadeza à mulher.
É claro que por trás disso há vários fatores, causas e consequências. O consumismo, tônica da sociedade moderna, é um fator central. Com sua característica mais marcante, a pressa, as relações humanas se transfiguram sensivelmente. O romantismo e o carinho requerem tempo físico para o encantamento. Cedem a coisas como consumação, penetração, certeza da conquista etc. Mulheres “vitimadas” chegam a teorizar o comportamento do homem-no-dia-seguinte: o que some, desaparece e não manda flores.
Fatores outros como o 1) machismo da própria mulher; 2) o sucesso do “mundo corporativo” que desliga-se de toda a conexão com o carinho e com a ética, visando somente o lucro, influenciando nerds do dinheiro a uma vida híbrida e imbecil, ou como se refere Zygmunt Bauman, “líquida”; 3) a crise da educação infantil; 4) os enterros catalépticos da poesia, da arte, da filosofia; 5) o estresse da vida urbana; e tantos outros vieses.
O mito central do macho talvez passe, atualmente, por uma metamorfose. Do machismo puro que se consubstanciava na “propriedade” da mulher como objeto, envolvendo tê-la, vê-se atualmente rebaixado à mera “posse” de parceiras desejosamente fungíveis e contratualmente descartáveis. Antes que alguém torça o nariz, há muito disso saído da própria mulher. Há, em muitos casos, desejos de mero consumo por parte dela.
A mudança de “propriedade” para “posse” inferiorizou a mulher. Na propriedade o homem discutia o domínio da mulher. Se isso era “horrível” para feministas, agora ficou pior. Se berravam contra a esposa-objeto, hoje vão ter que berrar contra a mera usuária-objeto. Esse morro abaixo do machismo talvez não estivesse nos planos da própria mulher que, apenas em certa medida, incentivou o homem vê-la assim.
Como se não bastasse, há fatos paralelos que vão interferir: os modismos da homossexualidade; a “vingança” da mulher que passou a querer usar também o homem, e toda uma superficialidade pós-fútil que foi coroada nas relações onde o “ficar” em uma noite é a meta, não mais o desastre. O preço: o triunfo da solidão.
Mesmo com todos esses fatores o homem perdeu o encanto do poder da delicadeza para com a mulher, uma delicadeza com ela e para ela que somente ele pode dar. Companheiras lésbicas fantasiadas de homens lutam o seu drama tentando imitar o que não são. É a tragédia gay mostrada no premiado filme O beijo da mulher aranha, por Luís Molina, William Hurt, ao teorizar que o que ele quer é um homem e o que o homem quer é uma mulher.
A força do homem em relação à mulher não está na necessidade de ele querer ser o que já é por natureza: homem. Mas a fraqueza dele estará em não ouvir o próprio coração quando se apaixona e não mima totalmente a mulher.
A mesma mulher que quer o homem forte a lhe dobrar os sinos, quer assistir a uma outra vitória, agora dela: quer saber ter dobrado os sinos daquele homem.
Homens inteligentes percebem esse discurso e não se sentem “ameaçados” com a delicadeza. Já os tolos não sabem pensar assim. O maior presente da mulher poderá ser a atenção a ela. Grandes mulheres já se desligaram até delicadamente de seus companheiros apenas pela falta de atenção.
Chico Buarque já cantou o homem bobo e machão. Sábios são os que estudam a mulher, uma que ao mesmo tempo é prática e executiva, fria nas correspondências de negócio, mas totalmente entregue quando sua atenção é despertada pela delicadeza inteligente de um homem poderoso.
Numa sociedade de imbecis, a gentileza se confunde com fraqueza, conforme ensinam Linda Kaplan Thaler e Robin Koval, (O poder da gentileza), e a delicadeza masculina se confunde com romantismo (mas que ótimo!). Os poetas, compositores, artistas, sensíveis e delicados, os apaixonados, os grandes amantes, os Richards do filme As pontes de Madison, continuam fazendo sucesso nos corações femininos, lá dentro. Já o restante, o máximo que conseguem é o corpo, esse mesmo que chega a ser objeto da profissão mais antiga do mundo. Mas o coração é infinitamente mais exigente, “elas” que o digam.