domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre a ditadura da Razão

Sobre a ditadura da Razão.
por Jean Menezes de Aguiar, terça, 3 de maio de 2011 às 21:57
Há uma linha que passou a ser esticadíssima, para filósofos primordialmente; secundariamente para cientistas, sobre o conceito e prestabilidade da Razão. O paradigma aqui é Paul Feyerabend, com a obra Adeus à razão. Criticado e odiado por não poucos e endeusado por outros, Feyerabend é um marco inegável. Uma acusação sedutora chama a atenção na centralidade de sua tese: a da vitória de um grupo então majoritário que acabou impondo e legitimando um establshment sobre o conceito de razão. Com isso, o Iluminismo teria sido tão-somente um slogan e não uma realidade; a afirmação de Kant sobre o Iluminismo ter libertado o homem da imaturidade, é outro dado falso; e, pelo conceito usual de Iluminismo, hoje em dia não se pode considerar a sociedade "iluminada", já que ela depende de "especialistas" sendo que, no caso da brasileira (que vergonha), cada vez mais de gurus, pregadores de plantão e orientadores espirituais com carnês. Ainda aí, Kant afirmou que o Iluminismo era a capacidade humana de fazer uso de sua compreensão sem orientação de um outro. Chegamos a isso? Pois é...
Não vou entrar em clichês tipologicamente dementes e piegas, repetidos como verdades científicas de que as crianças de hoje em dia são "mais inteligentes que as crianças de antigamente". Esse tipo de esdruxularia própria de pais hipermodais urbanos que frequentam padarias aos domingos com cachorrinhos histéricos e criancinhas feias & chatas, interativas & participativas, buscando, os pais, superqualificar os dândis manhosos não entra em cena. Nem precisa. Não se mede uma sociedade por uma afirmação patética e inquantificável (viva Galileu) como essa. Ainda que numa interpretação forçada, reconheço, ninguém menos que Clifford Geertz (Nova Luz sobre a antropologia, p. 169) já disparava "Os bebês, como se constatou, eram muito mais inteligentes, mais dotados de iniciativa do que reativos em termos de cognição, e mais atentos ao mundo social imediato a seu redor do que se suspeitara anteriormente." Ocorre que esse dado não se historiciza numa metodologia comparada entre o bebê de hoje e o de antigamente, apenas porque o de hoje tem computador e Iphone, o que representam apenas "informação" e "notícia", nunca conhecimento e percepção refletida. Se se quiser aí, a criança de antigamente "inventava" brinquedos numa criatividade que a ataraxia debilóide criançal de hoje simplesmente não sabe o que é. Mas deixemos esse orgulho jactancioso de pais hiperpreocupados em que seus filhos mimados sejam CEOs aos 15 anos de idade e partamos para discussões menos fúteis e mais suculentas, efetivamente selvagens, afinal não tô experimentando o meu facebox pra brincadeirinha de criança e elas não são bem-vindas aqui.(nem-fudendo.com.br)
Será que uma sociedade com essa preocupação ruptural com filhos mimados, modas e tendências, cantores sertanejos e baianos desqualificados às centenas é uma sociedade minimamente "iluminada"? E será que ser iluminada quer dizer ter a capacidade de compreensão sem necessidade de orientação do outro? Complicado isso.
É de todo preocupante a acusação original de Feyerabend, nada pontual, de que uma maioria ocidental (isso é por minha conta) implantou o Iluminismo e, aposteristicamente, a noção (aí sim) de que a ocidentalidade é o jeito correto de ser e viver. Passamos a ver o oriental, todo ele, como estranho, abstrato, fora do padrão e, claro, fora duma razão "nossa", como se fôssemos os síndicos da razão. Obama faz essa merda de mandar matar o cara e sumir com o corpo e nem responde por homicídio, formação de quadrilha e ocultação de cadáver, sendo que nesse ato em que impera (de imperialismo mesmo) uma razão-EUA vê-se uma aderência putarial do resto do mundo a essa tão razão, ou american way. E mais! Aqui, pela natureza jurídica do ato estatal envolvido declaradamente o serviço secreto, todo e qualquer historiador dirá que a presunção de suspeição vale contra o Estado americano no sentido de: matou mesmo? sumiu com o corpo mesmo? era o cara mesmo? Isso está longe de ser uma suspeita escatológica ou uma daquelas teorias usadas na ditadura em que o desconfiar era a moda.  Foda-se a moda. Não há se desconfiar para se "parecer" intelectual, para se tirar uma onda questionante de lançar um enigmático "será?" em tom blasé a la Paulo Francis. A desconfiança aqui passa dos pensamentos primários e secundários. Há sim, escachada possibilidade de não se crer no serviço secreto americano quando a história mostra que diversas coisas somente no trindecídio após veio a ser "verdadeiramente" revelada. Mas até aí muita gente se perdeu. Pois bem, essa é a "razão" desse hoje matador, esse hoje que aceita um presidente encomendar ao seu serviço secreto o assassinato. Foda-se Bin Laden, quer saber, o boçal islâmico de touca na cabeça, feio e narigudo, atrasado e gemendo pra Alá que morresse. Zero de pena desse idiota. Mas o que fica em pauta é a tal "razão". Daria tudo pra ver Baudrillard vociferando disso.
Aí está o problema da razão, a razão dos vencedores. Faz lembrar Darcy Ribeiro ao receber o título de Doutor Honoris Causa na Sorbonne, subindo para seu discurso e relatando ser um homem de 3 derrotas, vindo a ser ovacionado após dizer que não queria estar no lugar de quem lhe derrotou. Darcy era lindo e tesudo e a mulherada se abria inteira, mesmo velho, continuou a ser assim, morreu assim, o grande comedor de Copacabana, nunca perdeu a verve e a beleza, porque morreu intelectual e pensador. Mas sua razão andava na contramão, por vezes, com a segurança de um Feyerabend.
Assim, que razão vamos "sustentar"? (Mas que questionamento mais primário). Quase caí do cavalo ontem quando li em Ernst Mayr que Einstein praticamente não influenciou a biologia e as descobertas da década de 1920 foram hipertrofiadas pelos fisicalistas. Mas o mundo inteiro não mudou com a relatividade? Pois é, um Mayr velho e querendo criar uma verdadeira Filosofia da Biologia (ele não conseguiu, mas deixou semestes sérias) renega veementemente a prestabilidade disso para a biologia. Estarrecedor, inacreditável. Quem põe em xeque assim as razões historicamente assentes?
Por que a rapaziada dos 20 ou 30 anos de idade não tá mais se surpreendendo como se soubesse tudo? Que saber mal parido é esse que sai do notebook? Que conhecimento de merda que não reflete é esse que é manuseado como diamante, quando no fundo é um dejeto? Dominique Folscheid e Jean-Jacques Wunemburger na obra Metodologia filosófica reclamam que na França o ensino de filosofia nos 1o e 2o graus é "pouco". Esses caras tão de sacanagem... só podem estar, querem irritar os brasileiros. Aqui ninguém fala de filosofia. Um aluno meu de graduação há alguns anos me disse: - vc é o único cara que fala de "ciência" em sala de aula. Veja o nível da falência, isso numa "universidade". Em França os caras reclamam "mais" filo no primeiro e no segundo graus! É, certamente é por isso que o presidente frances corneado casa com a vedete tesuda (pra ele...) e as senhoras francesas não fazem greve de fome. Aqui se o Sarney largasse Marlysinha e casasse com Sabrina Sato (vc duvida?) a imprensa retrô, global & cia ia cair matando. 
Mas essas são as nossas "razões" reinantes. Prossigamos com elas. Somos ocidentais, acreditanos no Iluminismo, lemos ou tentamos ler Kant e pensar que não dependemos do outro para perceber (sacar), e no final do ano mandamos flores pra Iemanjá na praia de Copa ou Ipanema, outra qualquer do mundo será fake. Sim, somos preconceituosos e babamos nossos preconceitos. E vamos em frente nessa vida longa, que chega a cansar de tanto viver, com tantas variâncias e acontecimentos. Viva a Razão, afinal Feyerabend já cantou pra subir.
pós-escrito - passei a usar o facebox como um laboratório-berçário para textos meus, pois a publicidade obriga a um tipo de criação, que a produção interna não "causa". Peço desculpa aos amigos por tanta bobagem. Isso deve ter valor só pra mim e pra meia dúzia de caras. Parafraseio Vanzolini, o biólogo que disse isso perguntado por uma jornalista se não tinha que usar uma linguagem mais "acessível". O mestre disparou, faço o meu trabalho pra mim e pra meia dúzia de caras e cada um que faça o seu e me deixe em paz... Lindo o grande professor. Abraços gerais. Jean Menezes de Aguiar. (sem revisão)

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