JMA
Artigo publicado no Jornal O DIA SP, semana de 9.5.2013
Há uma piada interessante. Um rico empresário de
férias foi para uma ilha. Lá conheceu um pescador que pescava o que nenhum outro
conseguia. Sugeriu ao pescador que abrisse uma empresa. Como ele era muito bom,
teria sucesso, iria para a capital e ficaria rico. O pescador perguntou: mudar para
quê? O empresário respondeu: olhe para mim, alugo um jatinho e vou de férias para
uma ilha deserta. O pescador contestou: mas eu já vivo nessa ilha.
O que está em jogo aí são apenas “visões de mundo”. Do
pescador e do empresário. Há “pescadores” que quiseram se tornar empresários.
Há outros que não conseguiram. Há os que nunca nem pensaram na hipótese. Já
todo empresário, em regra, almeja um tipo de sucesso: o financeiro. Algumas lógicas
que costumam valer para todo empresário, podem não valer para “pescadores”, como
também para profissionais liberais, artistas, boêmios, e até trabalhadores em
geral.
Eric Robsbawm, falecido em outubro de 2012, em sua
magnífica obra A era dos extremos,
mostra que atualmente as empresas não passam muito mais de 30 anos de vida. A
lição se aplica a um mundo consumista e globalizado, ávido por não mais sonhar.
Um mundo no qual, em muitos casos, os valores de pais passaram a ser bastante diferentes
dos valores dos filhos, considerando que os filhos seriam os naturais
sucessores empresariais.
Se o conhecimento empresarial, e mesmo o pessoal, há
50 anos, podia ser testado pela experiência pessoal e pela paciência do
erro-acerto, atualmente com o futuro em velocidade máxima, qualquer erro pode
representar uma tragédia para a empresa. Num mundo em que o competidor vizinho além
dos computadores pode consultar profissionais espetaculares de várias áreas
como publicidade, mercado, marketing, análises variadas, estratégia,
negociação, prevenções jurídica e financeira etc., agir sozinho, pela própria
cabeça, pode ser uma temeridade.
Não se trata apenas da especialização do
conhecimento. O século 20 produziu mais ciência e tecnologia do que em toda a
história da humanidade somada. Diversos e novos saberes e conhecimentos se
impuseram como ciência ou como padrões seguros, ou a chamada “boa prática”. Saber
disso já é uma informação importante. Haverá quem quererá usar todo esse
conhecimento para ganhar dinheiro. E haverá quem acredite “ter a sua empresa na
palma da mão”. Uma espécie de cartomante dos negócios. Este ser sensitivo da
empresa pode estar fadado ao insucesso.
Os concorrentes podem não ser apenas os empresários
que reduzem 1 real no produto. São, em primeiro lugar, a tecnologia bastante invisível
e inacessível a quem não é um estudioso da área. No Guia PMBOK, por exemplo, no
conceito de “Conhecimento em gerenciamento de projetos” lê-se: “O conhecimento
completo em gerenciamento de projetos inclui práticas tradicionais comprovadas
amplamente aplicadas e práticas inovadoras que estão surgindo na profissão. O
conhecimento inclui materiais publicados e não publicados. Este conhecimento
está em constante evolução”.
Um projeto é “um esforço temporário empreendido para
criar um produto, serviço ou resultado exclusivo”, conforme o Guia. Ora, esses
conhecimentos novos interessarão tanto a quem quer criar um produto novo,
quanto a quem quer um resultado novo sobre um produto já sedimentado no
mercado. Exatamente aí é o lugar do consultor, um agente com competências
determinadas e notório saber.
Na Wikipédia lê-se: “Consultoria é a atividade profissional de diagnóstico e formulação de soluções acerca
de um assunto ou especialidade. O profissional desta área é chamado de
Consultor.” Repare que o consultor é como se fosse um médico, quando diagnostica
o problema e, ao mesmo tempo, um solucionador prático dele. Quem pode ser
consultor? O economista, o administrador, o engenheiro, o advogado, o
profissional de marketing, o publicitário etc. Mas também o músico, o artista,
o filósofo, o empresário, o cientista político. Qualquer um em sua área de
atuação que se dedique à consultoria.
Se
um restaurante, por exemplo, precisa criar um clima suave e envolvente, poderá
buscar num musicista e num decorador soluções atraentes espetaculares. Mas no querido
“Restaurante do Seu Gentil”, o dono porá um toca-fitas em cima do freezer para
a já vitoriosa feijoada dos sábados e comprará um vistoso pinguim de louça para “a
mudança de decoração”, no espaço entreaberto da cortina de plástico com
desenhos de flor. Se a pretendida ampliação de vendas for apenas na feijoada,
pode dar certo. Mas para o negócio como um todo, estima-se que ouvir um
especialista pudesse ser mais prudente. Ou totalmente necessário.
Um
colega professor da FGV, consultor sênior, brincou certa vez que o Brasil havia
se tornado uma grande Casas Bahia. Um outro do mesmo nível afirmou que qualquer
negócio aberto em São Paulo, por exemplo, precisa de 100% de competência, pelo
alto nível da concorrência. Ambas as falas veem-se acertadíssimas. Os impérios
empresariais do preço baixo se impuseram. E ao mesmo tempo alguns venceram. Mas
algumas conjugações de certos fatores, como preço atrativo, qualidade de produto
e competência de gestão costuma ser um grande quebra cabeça. Aí entram
consultores especializados em ler mercados; compreender tendências; prever
riscos e mudanças; estabelecer metas e padrões para um sucesso seguro da
empresa.
A
atividade empresarial moderna não resiste mais às ultrapersonalidades diretivas
singulares e alheias a conselhos e outras visões. Vitoriosos empresários já
perceberam que não dá para saber tudo, resolver tudo sozinho e planejar várias
frentes sem auxílio profissional.
Modelos
negociais e de gestão, altamente técnicos e complexos, foram desenvolvidos para
otimizar, rapidificar e mesmo criar sucessos. Um gestor centralizador de
antanho que entre num embate com um concorrente moderno assessorado terá bastantes
dificuldades.
O consultor não é um gênio da lâmpada, mas um profissional que porta competências valiosas para o cliente, seja em que área for. A não vinculação à empresa é um ponto positivo: suas análises serão isentas e ao mesmo tempo fiéis à contratação. Daí, consultoria para quê? Para que uma cabeça com notório saber sobre uma ou algumas áreas, traga ideias, questionamentos novos, soluções e novas dinâmicas e visões para a empresa. “Apenas” isso. Jean Menezes de Aguiar.
O consultor não é um gênio da lâmpada, mas um profissional que porta competências valiosas para o cliente, seja em que área for. A não vinculação à empresa é um ponto positivo: suas análises serão isentas e ao mesmo tempo fiéis à contratação. Daí, consultoria para quê? Para que uma cabeça com notório saber sobre uma ou algumas áreas, traga ideias, questionamentos novos, soluções e novas dinâmicas e visões para a empresa. “Apenas” isso. Jean Menezes de Aguiar.