quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Fim de ano



Artigo publicado nos jornais O DIA SP e O ANÁPOLIS

 
                Não precisaríamos aproveitar o final de ano para fazer uma “reflexão”. É isso que mais fazemos aqui na Coluna por todo o ano, em temas variados. Se conseguimos alcançar os objetivos, já é outra história. Todavia, final de ano convida a não apenas uma, mas a diversas reflexões.

                Coisas inusitadas ocorreram neste ano. Sempre ocorrem, claro. Três figuras mundiais se foram, Whitney Houston, Steve Jobb e Oscar Niemeyer. A cantora que inventou um estilo deixa uma lista grande de imitadoras, mas só ela foi Whitney, só ela atuou em O Guarda costas. Jobb melhorou o mundo nos interligando de uma maneira melhor. Já Niemeyer será o único brasileiro lembrado daqui a 5 mil anos, estima-se.

                A corrupção estatal ao estilo brasileiro, sempre muito cuidadosamente impune e oficial, parece ter levado um susto, pelo menos isso. Ainda não se sabe bem. Chama-se Mensalão. Com ele o Supremo Tribunal Federal virou conversa de botequim e entrou na roda. Se há estudante no 2º grau querendo ser juiz; nos cursos de direito há os que querem ser ministros do Supremo. Joaquim Barbosa foi apelidado de “o meu Batman” e virou heroi de Facebook. Analistas discutem se ele concorrerá a presidente da República. Tudo é possível.

Na São Paulo do crime, dá-se nada mais que uma “guerra de inteligência”. O governo paulista versus o Pcc, a facção que as “autoridades” fingem não existir e já começa a se globalizar. Só pelos PMs assassinados em um ano, mais de 100, e os celulares em presídios que o governo não sabe o que fazer, fica claro que faltam competências aos gestores públicos. Em diversas áreas. A Gloriosa (PM) está nitidamente sendo usada para “enxugar gelo” nas ruas. Nada é mudado ou resolvido. A criminalidade só se agrava. Pcc 4 x 0 Governo. Um vexame.

                Na ciência, a descoberta do Bóson de Higgs aumentou ainda mais as explicações não fantasiosas sobre a vida e a natureza, sepultando cada vez mais o obscurantismo. No quesito criatividade brasileira, a mocinha leiloou a virgindade por 1,5 milhão de reais. Transgressores dirão: “genial!”. A este recorde de valor será o único no mundo. Merece Guinness. Nos EUA, Obama foi reeleito, para desespero dos ricos e alguma paz dos pobres. Bem como dos inteligentes.

                Dilma, que os fofoqueiros achavam que seria “pau mandado” de Lula, fecha o ano batendo recorde de aceitação e não envolvida em escândalo. Num país deles, merece um Nobel. Com a onda da transparência vazou a informação de salários de “autoridades”, muitas ultrapassando a obscena cifra dos 50 mil reais. Mas nada foi feito e nada será. Só marola mesmo.

                As Cpis continuam como sempre foram, meras futricas das oposições, raramente dando em alguma coisa. Ricardo “Cbf” Teixeira, com medo de prisão, largou o osso. Assumiu o que foi flagrado “guardando” uma medalhinha alheia no bolso. Mas ele jurou que não é ladrão. É o que basta. Tiririca continua sendo um bom deputado, para desespero dos conservadores que acham um absurdo alguém humilde e trabalhador representar o povo. Ser trabalhador no ambiente de “autoridades” já é o mérito. As obras da Copa conseguiram o agora enxuto Ronaldo-garoto-propaganda prometendo até disco voador. Tudo é possível.

                O setor aéreo demitiu 3 mil, num sucateamento ao qual a Anac não está nem aí. Aeroportos continuam “brasileiros”. O Santos Dumont, por exemplo, na capital turística mais importante do continente, o Rio, não tem ar-condicionado e a Infraero nem aí. Mas as “autoridades” juram que vão apurar rigorosamente. É o que basta.

                Motoboys continuam violando todas as normas de trânsito em São Paulo, mas o prefeito só quer saber do seu partido. Diz que não é de direita, nem de centro, nem de esquerda. Deve ser “acaju”, um tema que ele conhece bem. Fluminense e Corinthians “arrebentaram”. Bem, corintianos só conseguiram arrebentar o aeroporto. Em Tóquio a polícia os conteve. Mas as vitórias foram ótimas. Já o Palmeiras de hoje parece ser o Flamengo de amanhã.

                Stevie “Deus” Wonder veio ao Brasil. Cantou no Rio. Fui lá. Um show inacreditavelmente morno. Essa mania consumista de querer que a plateia cante junto – “interativa” – num país como o Brasil é uma tragédia. Só cantam junto com Ivete “Coxas” Sangalo e similares, que fazem uma massa biologicamente orgânica pular e não pensar. É isso que gostam e fim. Qualidade wonderista saiu de moda no Brasil. É o que basta.

                Além disso tudo, sobra o amor. Ele merece tanto mais atenção quanto pior estiverem as coisas. Sim, o amor ao outro, aos amigos, aos filhos, mesmo aqueles que não se dão conosco, aos primos, tios, vizinhos, clientes, estranhos e antipáticos. Mas amor principalmente aos inimigos. Quando cultivamos amor e gentileza antes de o outro se beneficiar por receber, nós é que melhoramos, por dar.

                Como todo final de ano, registro aqui carinho por pessoas importantes, mas a relação é apenas exemplificativa. Roberta, Laerte & Célia, Fabs & João, as bichinhas & o bruto; a centenária Abet; Paulo Cruz & Luciana; Helena, Jandira e David; VicGeoBar, Leo, Celeste & Claudia; Claudinho, Marcelo & Lígia; Rita, minha portuguesa; Alice (AlArMor) & Marcia; Alinne minha antropóloga; Márlia; Roberto & Renata; Érica & Mônica; Ivanê, Fernanda & Ian Ni; Georgina Simões; Viviane & João; James & Jorge; Jassa,  Ivanaldo & Nina; Lyse Lobato; a bela Karen & o poderoso O DIA SP; Dilmar & o valente O ANÁPOLIS; Pri Pigosso; Cris & Belas; Othon e Rocha, guitarra; Fernando, baixo; Dayse e Gema cantoras; Claiton, piano; Sergio Manoel; SBPC, ABNT, OMB, OAB, Rotary Pinheiros; Rita & João; os amigos inseparáveis do Facebox & leitores do Blog; Cinthia Roldi, Monica Cristina, Lu Jayme, Diana Nacur, Ana Amélia Silva, Angela Santana, Rosana Miranda, Ernerto F. Silva, Maria das Dores Alexandre, Rodrigo Tardin, Paulo M.A. Reis, Ávila Póvoa, Henrique Braga Jr., Claus Glassenap; Kátia Haddad; José Eduardo Côgo; Otto Loth, Eliete Ceron, rapaziada da Castelo Branco, Colatina e da Fades, Dianópolis, além da nossa FGV. Ótimo 2013! Jean Menezes de Aguiar

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


MENSAGEM DE NATAL
 
Desejo um Lindo Natal a todos.
 
Jean Menezes de Aguiar.

A vida e sua lógica

Neste episódio, a leoa conseguiu salvar o filhote porque o macho era o pai,
se fosse o novo líder, o filhote seria morto.
Parque Nacional de Serengueti, na Tanzânia. Fotógrafo Elliott Neep.

 
Aceite a vida como ela é, sem disfarces ou explicações irreais. A natureza não é perfeita sob os nossos valores, ainda que tenha uma lógica funcional própria.

No mundo animal, por exemplo, quando um leão (Panthera leo) líder do grupo envelhece é desafiado e vencido por um leão mais jovem. Ele é expulso do grupo, ferido, para morrer em algum lugar. Morrerá abandonado por todas as fêmeas, que agora têm um novo líder. Aí uma primeira lógica estranha a nós: o antigo líder não poderia ficar no grupo para morrer “em paz”, diríamos nós, humanos? Não há essa opção a ele. O novo líder não o permite mais ali.

Por outro lado, as fêmeas com cria, às vezes filhotes de dias, entram em desespero, sabem que seus filhotes serão mortos pelo novo líder se deixar a cria ali. Algumas fogem com os filhotes e os esconde. Mas elas pertencem àquele grupo de leões, precisam viver ali. O novo macho descobre os bebês, às vezes no alto de um morro, e, um a um, os mata, para que no próximo cio da fêmea, copule as 3 mil vezes que copula em 3 ou 4 dias e conceba sua própria linhagem. Se deixar aqueles filhotes viverem, será desafiado por eles no futuro, afinal, não é o pai deles.

Há uma lógica própria nisso, mas à luz da Evolução. É-se-nos inimaginável pensar humanamente assim; sob nossos valores, ou nossa racionalidade, ainda que também sejamos mamíferos.

Ver a matança do novo leão aos filhotes é um horror, traumatizante sob nossos valores, todavia, a natureza é assim e a Ciência (Zoologia) identificou o comportamento.

Precisamos olhar para a vida como ela é. A velhice, a doença, a morte. Qual é o ser humano que gosta de envelhecer ou ver um ente querido envelhecer e ir embora? Podemos construir mentiras carinhosas que nos afaguem “o coração”, como a de que alguém que morre vai para um lugar “melhor”. Essa mentira pode ter um valor humano imensamente difundido entre nossa espécie, desesperada em apego à vida, para nos “proteger” de dores e sofrimentos. Mas infelizmente não tivemos, racionalmente, uma comprovação dessa continuação da vida. Leia com serenidade: "objetivamente" nunca tivemos. 

Se quisermos um conhecimento objetivo e racional da vida, temos que vê-la como ela é. A “saída” para esses "erros" da natureza, sob nossos valores humanos, pode ser o amor, a gentileza, o carinho, a consciência familiar que nos une, o cuidado que os jovens devem ter para com os velhos e a força para enfrentarmos com resignação que nossos velhos irão antes, assim é a lógica não nossa, mas da natureza.

Para sermos doces, amigos, e gentis não precisamos de explicações inventadas ou sobrenaturais, apenas de um pouco de conhecimento racional da vida, e, alguma resignação oriunda da maturidade. A vida tem erros e querermos enxergar “perfeição” em tudo e em todos os atos da vida beira à infâmia. A perda de um filho inocente, a perda de uma mãe jovem são rápidos exemplos de erros da vida. Saber que a vida “erra”, aos nossos olhos e valores humanos, como se dá com os leões, e não só com eles, é aceitá-la como ela é. Talvez aí se sofra menos, pela não criação, totalmente artificial, de expectativas sobre-humanas de uma imortalidade que não existe. Infelizmente não existe. Jean Menezes de Aguiar.