quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Rapidinhas, quase sem gozo


13 Pensão a filha "solteira" de juiz de 43 mil reais
IG. "Desembargador devolve pensões de R$ 43 mil a filha “solteira” de magistrado.
Pedro Saraiva, da 10ª Câmara Cível, reforma decisão de juíza que cortara o benefício após matérias do IG. Márcia Couto se casou no religioso e teve dois filhos, mas nega matrimônio." Tem foto da moça de véu e grinalda em festa de "casamento". Mas aí ela se casa somente no "religioso", faz tudo que pode fazer no casamento, tem filhos, mas legalmente não é casada para não perder a pensão imoral. E o Judiciário "aceita" o legalismo malandro do não casamento. Antigamente as filhas de militares eram xingadas porque viviam este expediente "safado". "Agora" parece que outras entidades e "autoridades" aprenderam e copiaram. Mas também, são só 43 mil de pensão por mês, inclusive quando o teto constitucional é de 28. Isso retrata a passividade totalmente inculta e débil da sociedade brasileira gado manso que não reage. Só não queira ser "respeitada".


12 Pec 37 - delegados x promotes
Quando se veem 2 lógicas confrontantes, como no caso da discussão da Pec37 – delegados de polícia x promotores, ambas com suas “razões”, uma saída dada pela Metodologia é se buscar qual das lógicas contém mais “absurdos” ou mais visíveis negatividades ou suspeitas. Fica-se com a outra que contiver menos. Outro manejo metodológico é se investigar qual das lógicas está “mais” atrelada à Constituição de forma imediata, não de forma mediata ou “apenas” principiológica. MP tem a seu favor atual ter “conseguido” (conseguido!) condenar no Mensalão. Mostrou ao país que efetivamente pode enfrentar poderosos que nunca foram “nem” condenados. Ok. Mas o MP (o “m”não é de maçonaria, mas parece) além de ser sedento por poder (mas quem não é?) tem a seu “desfavor” no cotejo das lógicas sua própria missão central no processo penal que é acusatória. Sim. Com uma Constituição “Cidadã”, não é a acusatoriedade ou a investigatoriedade que “devem” ser "impulsionadas", mas os Direitos Humanos e aí está o fator 3 do tripé da “justiça”: a Defesa, Advocacia (essa mesma que a imprensa, nos casos de júri, por exemplo, detesta). Reforçar o MP é reforçar a acusação processual, ainda que ela possa prestar imensos serviços ao país, reconheça-se. Mas não é este o tônus maior da Constituição (dela não é!). Contrapor que se pode ligar as 5 naturezas jurídicas do MP (Guilherme Estelita) aos Direitos Humanos é válido e natural, mas persecução penal e acusação como “centralidades” de uma “reforma” são a contramão do espírito constitucional comprometido não com persecutoriedades, mas com Direitos Humanos.

11 Depardieu partiu
Gérard Depardieu para fugir de pagar 75% de impostos à sua própria França pediu cidadania russa, visando a pagar 13 e o Kremlin concedeu. A Rússia entra numa grana preta, já que o artista é milionário e, de quebra, ganha um astro mundial. A França sai “lesada” por uma jogada bem pouco ética do ator. Dinheiro x cidadania. Capitalismo x nacionalidade. Enquanto o “lucro dissociado”, na expressão de Alain Touraine comandar as cabeças teremos empresas apátridas e pessoas voando para paraísos fiscais ou Rússias. Depardieu pode ter sido “esperto”, mas o preço a pagar numa França rica e indefesa que não tem a agilidade de fazer o mesmo em razão da fama do ator, pode ser alto. E se a “lógica” dele estiver certa, a França se resumiria a quê? Pobres? Essas artimanhas históricas das classes dominantes inatacáveis são conhecidas. Enquanto isso Xerém, RJ, derrete e o imposto sobre grandes fortunas no Brasil, nada.


10 MP federal é "monstro" é?
Os procuradores paulistas do MP fizeram um abaixo-assinado contra a Proposta de Emenda Constitucional que rechaça o poder de investigação do Ministério Público. O debate vem de longe e é guiado por uma frase lançada pelo advogado Sepúlveda Pertence, quando deixou a função de procurador-geral da República (governo Sarney): “Eu não sou o Golbery, mas também criei um monstro, referindo-se ao MP federal". Carta Capital. Toda crítica cabal parida de dentro a uma instituição é saudável, renova os olhares, as análises e o próprio espírito da entidade. Parabéns a Sepúlveda. Representantes do MP poderiam "abrir" o debate. Mas estimamos que tenham medo. O esquecimento se lhes pode ser mais interessante.



9 Natal
Poderíamos aproveitar o Natal para efetivamente refletir, pensar e repensar coisas. Já que há essa "onda" de que é a época da reflexão, então que fosse mesmo assim. Não deveríamos apenas "repetir" frases feitas, mas tentar melhorar o discurso, refazer caminhos mentais e buscar melhoras, aperfeiçoamentos. Reduzir o nosso nível de preconceito é sempre um caminho interessante, ou seríamos soberbos a achar que não temos isso? Pretender dizer coisas valiosas para o outro seria outro caminho, coisas que podem até ser ditas "usando-se" o momento de Natal, pouco importa. Penso que devemos dizer coisas que talvez não disséssemos ou teríamos vergonha de dizer ou publicar. A coisa do "é Natal", de alguma forma, nos "protege", sem alegações ou riscos de pieguice. E se alguém disser piegas, foda-se, rs. Pode dizer. Quando melhoramos o discurso, o primeiro que ganha somos nós mesmos. Temos mais uma semana acobertados por essa época, com os desejos de "feliz 2013". Mãos à obra, galera. Rasgando a fantasia.

8 Rede Globo
A Rede Globo é muito "safada" mesmo, como todas claro. Em sua cruzada contra os evangélicos donos da TV rival, ela percebeu que falar em religião dá audiên$ia. Aí ela manda um jornalista para Jerusalém no Globo repórter. Ok. Só que seu enfoque é totalmente outro, pertence ào cristianismo católigo. Por isso, por exemplo, sua ainda primeira dama, Xuxa, vive de tititi com os Padres, esses que passaram a imitar pastores cantantes e sendo "alegres". O mesmo diga-se da novela São Jorge, mais facciosismo que aquilo não existe, ainda que tenha Flavia gostosona Alessandra. Tudo bem que a plástica, a estética ou qualquer coisa parecida da Globo continua sendo infinitamente melhor que essas outras aí, as TVs cruz-credo, com suas deprimências tomando dinheiro do povo em carnês religiosos (já reparou que todo mundo jura que "na minha igreja não tem isso de dinheiro"? só rindo...). Mas ver a safadeza fina da Globo, maquiavélica, é uma aula de como se disfarçar coisas.

7 PUC SP

Golpe na PUCSP? A PUC tem ordinariamente o sistema de “escolha” do reitor que passa por duas fases. Primeiro, é eleita uma lista tríplice, depois é submetida ao grão-chanceler que efetivamente “escolhe” um destes. A professora Anna Maria Marques Cintra foi a terceira da lista em votação regular, sem vício. Só que no calor dos debates prévios com o eleitorado foi instada a assumir que só assumiria o cargo se fosse a mais votada. Aí está o golpe popular. O regime eleitoral não prevê esta democracia exclusiva do primeiro colocado, nem prevê a anulação da escolha pelo grão-chanceler. Poder escolher é poder indicar o primeiro, o segundo ou o terceiro. Há parcela política, de conveniência e lógicas do grão-chanceler que alunos não sabem e não têm que se meter. Anna foi escolhida sem vício. Alunos entraram com um “recurso” que é típico porre democrático, “querem” que só o primeiro seja o escolhido. Vão mudar o critério de escolha de reitor da PUC agora? Ou seja, querem tornar a escolha, uma eleição. A tirania de uma democracia numérica que não existe. É o mesmo sistema que há com a eleição do Quinto Constitucional, no judiciário, em que o governador escolhe um dos três indicados. Aí, levam a questão ao judiciário, como se houvesse um “conflito de interesses”, e tudo é paralisado.
6 Supremo x Câmara
Joaquim Barbosa (STF) dá paciente aula de direito a Marco Maia (pres. da Câmara). Se tem faltado habilidade política e negocial a JB em situações de enfrentamento que podem, sim, acabar mal, não faltou conhecimento jurídico para pôr coisas em seus lugares. O posto de Marco Maia, torneiro mecânico e metalúrgico, é essencialmente legítimo, enquanto representante do povo e seu poder é imenso, inclusive como catalisador do Legislativo, mas sugerir que a Câmara possa dar "asilo" aos seus membros condenados penalmente pelo Judiciário é uma manifestação “jurídica” (se é que Marco Maia “pode” se manifestar assim) das mais desastrosas que há. Legislativo julga de forma política e é assim. Judiciário exerce jurisdição (conhece, chama, coage, julga e EXECUTA). Este quinto elemento, "execução", após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, não é “transferível” ao Legislativo. É ato soberano de força do Judiciário. A Câmara tem, sim, sua “polícia”, mas esta não tem natureza jurídica de polícia judiciária. De novo, o Legislativo (Câmara e Senado) precisa melhorar o nível de sua assessoria jurídica interna, paga absurdamente a peso de ouro, inclusive porque vem permitindo que seus presidentes e representantes, alguns totalmente analfabetos em assuntos jurídicos, falem bobagens inomináveis e se exponham a mais esses ridículos.


5 "Autoridades"
Novos vereadores paulistanos terão aumento de 63%. Para quê?  Quem tem no país aumento de 63%? Nos finais de ano é sempre a mesma imundície oficial com um povo domesticado à não reação. Há 2 anos foram os deputados federais que se deram 67%. Pense isso na Espanha ou na Argentina, por exemplo, e veja o que acontece com o país. Há um pós-modernismo "totalitariamente relativizante" no sentido de que não se pode mais criticar ou rejeitar nada porque "tudo" pode ser como é e, por consequência, tudo tem que ser "aceito", sob pena de "discriminação", o modismo-biombo dos imbecis de plantão contra uma análise mais profunda. Este povo brasileiro é uma merda no item de fiscalização com a promiscuidade pública que campeia em TODOS os lugares onde está o Estado brasileiro, antropológica e essencialmente desonesto. JMA.

4 Programa de Fátima Bernardes
Programa de Fátima Bernardes (aquela senhora da Rede Globo). Afinal, o que é? Não tem mulher pelada. Não tem jornalismo. Não tem humor. Não tem sacanagem. Não tem intelectualidade. Não tem informação. Não tem atração infantil. Não tem revelação. Não tem futebol. Não tem fofoca. Aí, quando bate o recorde de baixa audiência em todo o país, como bateu, a poderosa Globo não sabe o que fazer. Isso que dá demitir Daniel Filho, o gênio comedor de todas, absolutamente todas, as atrizes globais de sua era.

3 Marcos Valério
Marcos Valério vai soltar o que sabe a conta gotas, está bem assessorado. Agora é Zezé de Camargo & Luciano que entraram no Mensalão. Ou assassinam Valério ou vai sair coisa a cada 15 dias. A "estratégia" dos acusados de dizer que o ex-número 1 das contas, Valério, agora "não sabe de nada" é bem ruinzinha. Lula está quase dizendo que não conhece Valério, grande Lula. Dizerem que "somente" porque o sujeitinho pegou 40 anos está "inventando" tudo também não é bem assim. Tem mais, se ele já está com 40 anos de pena nas costas, não terá medo de crimes idiotas como injúria e difamação. Tem muito neguinho na República sem dormir. A sociedade podia proteger Valério. Vai Valério, abre a boca mesmo.

2 Gurgel, bom malandro?
Falta ética? Gurgel, do MP, ter "esperado" o recesso de todos os juízes do Supremo para pedir a prisão, quando somente Joaquim Barbosa estaria ativo para "decidir" é algum tipo de "malandragem" ou  defalta ética? Será que os dois, Gurgel e Barbosa "combinaram" isso? Às vezes uma vitória de determinada tática pode expor um problema muito maior, ético. Por que o "medo" de a questão da prisão ser submetida ao plenário da corte? Muito feia a possível manobra. Aí a imprensa cai matando e eles ficam magoados. Tive um professor de filosofia, o grande Roland Corbisier que ensinava que "não se deve esperar ou imputar o absurdo ao Estado". Absurdo aí como antiético, ou situação que permita a leitura. Feia essa atitude do Estado neste apagar das luzes natalino de 2012, que não deve se comportar como um malandro, um que dá voltas.

1
A figura mais importante para jornalistas atualmente se chama Marcos Valério.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Falta amor


 
 
Artigo publicado nos jornais O DIA SP e O ANÁPOLIS sem. 20.12.12

                Não está fácil falar de amor com a moda do amor piegas. O sujeito “piegas” é visto na filosofia como uma pessoa primária. Mas, sobretudo, é um chato. O piegas é pegajoso. Obriga-se a sentir pena das pessoas e vive mostrando isso em público. Uma superioridade farisaica. Crê que essa publicidade do “bem” o torne melhor. A pieguice costuma desandar em preconceito e discriminação. Só o piegas e outros iguais acreditam que esse sujeito tem “bom coração”. O piegas é uma pessoa razoavelmente perigosa. Seu correspondente no mundo corporativo é o “politicamente correto”.

O amor acabou sendo vitimado. Em muitos casos passou a atrair uma pieguice hard, panfletária; pouco sincera e apenas manejada como um escudo para a pessoa se anunciar como boa. Será, por exemplo, que todas as pessoas que vivem com Deus na boca querem mesmo bem, de verdade, a qualquer um? Será que aceitam a quem “antipatizaram” ou “não foram com a cara”? Essas rejeições iniciais são sabidamente preconceituosas, isso sim.

 Será que o mundo corporativo com seus slogans ultra-dolosos em efeitos-lucro é verdadeiro? Frases publicitárias como “vontade de servir”, “você merece ser feliz”, “você é especial para nós” soam totalmente mentirosas. Pense, por exemplo, nas empresas de telefonia. Parece não existir no Brasil uma única pessoa  satisfeita. Some-se a isso uma regulação estatal cínica.

Hospedei-me por 18 meses, toda semana, no hotel Ibis, na Serra, junto a Vitória, ES. Era tratado pelo nome. Certo dia precisei de 10 reais de troco no cartão para pagar o táxi até o aeroporto. Imediatamente deixei de ser o “seu Jean”. Com um sorriso adestrado a mocinha me informou: - “infelizmente senhor, não podemos lhe atender”. Será que isso é “vontade de servir”? Tudo bem que “treinamentos” empresariais apenas condicionam, não se pode exigir grandes atividades pensantes.  Mas a coisa descarou.

O filósofo Alain Touraine (Após a crise, 2011) ensina que há que se “reconstruir a vida social”; “dar um basta à dominação econômica” e ao “lucro desassociado”. O Brasil passou a vender virgindade na internet. Criativo, reconheça-se. Bater recorde em “exportação” de mulheres – Goiânia –, e outras esdruxularias. Talvez “faltem” estudantes matando 20 pessoas em escolas, todo mês como nos Estados Unidos, o “paraíso mítico da simulação”, segundo o filósofo Jean Baudrillard.

Obama sinalizou no episódio da matança última, que se precisa “fazer alguma coisa”. Certamente quis dizer repensar modelos educacionais. Obama é do bem e, sobretudo, tem essa sensibilidade. Mas sua própria sociedade parece não ter. O frenético ritmo das sucessivas bolhas e modismos não permite reflexões, que requerem tempo, maturação e calma.

                Por que falta amor? Bem, em primeiro lugar amor é querer bem ao outro como o outro é. Sem querer mudá-lo ou corrigi-lo. Sem joguetes, convencimentos, promessas e clichês de efeito. Sem dinheiros e recompensas. Sem um ideólogo vendendo condutas moralistas, sabidamente falsas. Mas em quais relações há esse amor gratuito e original? Parece que somente nas grandes amizades, amorosas ou não, e nas relações de pais e filhos. Desconfia-se que até em relações de tios e primos esse amor não exista mais.

                Outro dia perguntei no Facebook quando foi a última vez que um tio ou um primo seu “invadiu” sua casa, com carinho, pedindo para almoçar com você e sua família. A repercussão foi visível. As famílias conjuntas se esfacelaram. Ficou a tragédia nazista das “células”. Mais, alguns desses grupetes familiares puseram um biombo de inveja ou disputa na qual os sobrinhos e primos se dão muito menos do que “antigamente”. Para não se dizer que pararam de se dar verdadeiramente.

                É claro que se vive a geração egoísta, à qual o casal no restaurante não desgruda, cada um, de seus celulares, em vez de conversar repletos de carinho, amizade e amor. Amor não é cama, sexo, é toda uma relação de querer estar com o outro. Amor é muito e é tudo. É querer bem ao outro, sem obtenções, sem interfaces.

                Este amor está escasso. Certa vez uma querida aluna de graduação me chamou atenção. Disse:  - professor, os alunos não querem o seu amor, pare de dar amor para eles. Aí está a tragédia maior. Como se recusa amor? Na sociedade do consumo em que até a fé precisa de corretores, o amor gratuito gera estranheza.

                Há rótulos pós-modernos para tudo atualmente. Se um professor adverte que a prova em branco receberá um óbvio zero como nota, o aluno responde que isso é “assédio moral”. É patético. Se a tia repreende um sobrinho, a mãe do mimado declara guerra na família dizendo que isso é inadmissível. Com uma sociedade assim, em que o ódio se travestiu para atender a enrustidos do convívio familiar, da educação infantil, das relações de trabalho e mesmo das relações amorosas em que não se tem mais ciúme, se assassina, sobrevive?

                Dizer que “está tudo errado” não adianta. Que “antigamente” era melhor, é saudosismo bobo. O desafio está em se consertar as relações com pessoas que não querem mais ser educadas pelos pais, mas também só admitem o professor como um reles empregado e sob o preconceito baixo do “eu estou pagando”. Falar de amor com bestas é pior do que conversar com uma porta. Pelo menos a porta não responde. Já falar de amor com quem se sensibiliza e os olhos revelam por suas águas instantâneas a emoção de um carinho, a doçura de lhe ver bem é o que de melhor há. O segredo é se aprender a separar o joio do tribo, ainda que o joio esteja vencendo a guerra. Jean Menezes de Aguiar