"A necessidade ontológica não devia ser nivelada ao anti-idealismo”. Com essa frase emblemática, contestando os conflitos acadêmicos entre as escolas, Adorno (Dialética negativa, p. 64) parece sugerir alguns estabilizados, estanques. O primeiro, a crítica à necessidade ontológica, até porque de seus estudos vê-se que ela ao lado da filosofia do ser seriam modos de reação. Por que a ontologia não é um naco natural desperceptível, mas um inteiramente posto [reação] numa teorética necessariamente agregável ao objeto em-si? A postura se lhe retira existência? Não deveria ser, porque ontologizar não é caminho de dentro do objeto para fora, mas de fora “para” [cognoscibilidade] dentro. Conquanto teoria não deveria ser jamais desperceptível porque ela [ontologia] só existe numa metapercepção teórica em que sua própria episteme possa ser tocada pela teorização, quase que numa circularidade, mas sempre em relação a um objeto, não a ela própria, porque senão seria uma volta epistêmica e um iter ontológico. Ela é em si a metaepisteme do objeto quando quer “conhecê-lo” (não é conhecimento, mas essencializá-lo, algo conteudístico) para transmudar-se no seu próprio ser, concebendo uma episteme outra – aqui da ontologia – como se a investigação epistêmica fosse uma e a ontologia supusesse uma outra episteme – supõe efetivamente –. O segundo estabilizado é a não nivelação da ontologia ao anti-idealismo. Se este é aberto, a ontologia concebe uma oclusão objetal mínima, quase que como Heidegger imprudentemente fez, conforme Adorno –: “um “pertencimento ao ser”. Repare-se que não é a ontologia em si a ser não nivelada, mas a sua necessidade. Há um apriorístico qualificativo subjetivista dela em jogo. A necessidade é menos que um sentir, mas um ir-se desquerido, em automação invenvícel. Se há isso, haveria o anti-idealismo, pois que este suporia a negação de um desejo concreto. Mas a negação é por si só um outro desejo. Assim o idealismo se equipara ao anti-idealismo se este não é um despercebimento mas uma pertença comportamental reativa, apenas assim. Essas imbricações entre os estabilizados teóricos, relativamente ontológicos, fizeram muito sucesso popular, conforme apontado por Heidegger. De toda sorte, o ser enquanto conceito mais elevado exige uma distância de segurança total, pois como ensina Adorno “quem diz ‘ser’ não tem o ser mesmo na boca, mas apenas a palavra.” A temerosidade é a infinitude da discussão ontológica, ou pior, do buscado epistemológico da ontologia. Jean Menezes de Aguiar.
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