[Cerveja. Inteligência. Justiça. Estado. Violência. Chimpanzés. Biologia. Falta de conhecimento. Desastre]
Nada menos do que 15 representantes de Ministérios Públicos estaduais cismaram de querer proibir a cerveja em estádios na Copa do Mundo, mas nos camarotes, onde provavelmente alguns desses sujeitos vão tentar conseguir lugar, aí pode. Parece piada, mas não é. Algumas questões se abrem.
A primeira ligada à ideia de que cerveja e violência têm ligação direta. Quantos milhares de pais de família e outros e outras tantos em geral, pelos 4 cantos do país bebem cerveja nos estádios e jamais causaram qualquer violência, dessas próprias de boçais? Proibir a cerveja equivale a tirar o sofá da casa do sujeito que soube que a mulher deu nele (sofá). É a tentativa mal parida de explicar a causa da violência nos estádios pela difamação preconceituosa da cerveja, um uso estapafúrdia da Navalha de Ockham, à qual um fenômeno é explicável apenas por premissas necessárias, como se a cerveja fosse necessária à violência, mas com condões endógenos de ilogicidade e estapafurdice bastante explícitos. A violência não se “explica” jamais pelo uso da cerveja, ela não é, juridicamente, causa, nem concausa nem condição para o fenômeno da violência que não é, sequer, próprio do homo sapiens (lamento trazer a biologia para quem é monofásico cultural e só estuda direito). A justificativa oficialoide para a proibição da cerveja é a contenção da violência nos estádios. É isso que dá não estudarem o fenômeno da “violência” em sua complexidade, desandam a falar bobagem.
Ernst Mayr, na obra Biologia, ciência única, p. 54, ensina uma lição que muitos deveriam aprender, para sair do campo da crendice e do achismo: “Um dos achados mais chocantes talvez tenha sido a constatação da incrível semelhança entre os genomas do homem e do chimpanzé (Diamond, 1992). E foi precisamente a comparação com o chimpanzé que conduziu a uma melhor compreensão dos seres humanos. Já não podia ser negado, por exemplo, que muitos seres humanos têm uma tendência inata para comportamento fortemente agressivo, depois que se descobriu que chimpanzés também podem apresentar comportamento agressivo similar”. O que se vê em estádios de futebol é comportamento agressivo tipicamente primata, família à qual pertencemos juntamente com os grandes macacos (Franklin David Rumjanek, Ab initio – origem da vida e evolução, p. 130), nada mais que isso, bandos de homens correndo de um lado para o outro ao estilo vendaval com paus e pedras na mão. Este comportamento é também verificado em Frans de Waal (A era da empatia), outro famoso biólogo primatólogo de renome. Ligar este estrupo (é estrupo mesmo!) à cerveja é simplesmente patético, próprio de uma inferência simplista e primária, rasa. Talvez seja por essas coisas que Engels (Dialética da natureza, p. 13), disparava quando falava dos “gigantes do pensamento, da paixão e do caráter, gigantes da universalidade e da erudição” que “Os eruditos de gabinete eram exceção.”
Como o Estado brasileiro é ineficiente e mondongo para agir genialmente – como agiu o inglês – com seus milhões de soldados da PM todos ocupados no estádio com torcedores imbecis e violentos que nunca são identificados, inventa essa asneira de proibir a cerveja para todo mundo. O ministro dos esportes, Aldo Rebelo, sobre isso disparou: “Daqui a pouco vão proibir a cerveja no carnaval”.
A segunda questão é sobre a arrogância estatal, verdadeira invasão da mentalidade de funcionários públicos conservadores e autoritários na órbita privada do cidadão livre. A juíza de direito Maria Lucia Karan, do Rio, já defendeu que quem fuma maconha faz mal a si próprio e o Estado não pode se intrometer nessa vontade [burra] de cada um. Mas a arrogância do gestor oficial baba, ele acorda de madrugada prenhe de ideias “geniais” a legislar. Essa mentalidade tipicamente reacionária entende que ao Estado cabe regular a vida privada do cidadão – e não se tece qualquer ode a um liberalismo oitocentista, ao qual o cidadão possa tudo sem qualquer regulação interventiva e compensatória por parte do Estado –. “Cria-se” um tipo penal prévio, o da cerveja disparador de violência, constroi-se uma equiparação entre ela e o entorpecente e voilà, nasceu a proibição!
Ou será que tudo isso é saído da cabeça de algum dirigente de futebol chatissimamente correto que quer conceber o futebol como balé clássico, no sentido de que a elegante plateia preste atenção em silêncio e sobriedade etílica para não atrapalhar o evento cultural?
A terceira e última é a discriminação ínsita que há. Passaram a achar bonito chamar campo de futebol de “arena”, ou seja, praça de batalha entre feras e gladiadores, tipicamente um local concebido para violência e agressividade. Com essa proibição da cerveja “somente” para as galerias populares, jamais para os camarotes, criam-se duas castas, a de que a população barata, que compra ingresso barato e bebe cerveja é, pressupostamente violenta, a ponto de se ter que proibir a cerveja, e os nobres que podem pagar 5 mil reais por um camarote não cometem violências e estes podem se embebedar. Essa dicotomia locacional e preconceituosa é infame e das piores. Quem pariu essa ideia de proibição da cerveja para os pobres do futebol, mas garantindo a possibilidade da ingestão para os ricos deveria estudar Bobbio (A era dos direitos), Amartya Sen (A ideia de justiça), Kelsen (O problema da justiça) e outros tantos que relativizam essas ideias “geniais” e cartesianas de solucionáticas “justas”. Quando se “descobre” que a “eugenia”, no sentido de se “matar os imbecis para não se perpetuarem”, na suprema corte dos Estados Unidos, não está retratada em livros de direito, mas num de biologia (James Watson, DNA o segredo da vida), vê-se que há muita coisa faltando nas cabeças dos profissionais ou “operadores” do direito. Como a falta de conhecimento causa estragos. Jean Menezes de Aguiar.
To eu aqui no delírio de uma febre que há dias nao quer me deixar, e eis que me deparo com essa sandice , puta merda tem nome pra isso?
ResponderExcluirOk, se vc nao assiste de camarote vc eh uma pessoa violenta e fadada ao crime querido. Por isso que na minha volta quero tratamento VIP , senão posso ser confundida com a classe das arquibancadas amor.
E viva a breja
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