[Sociologia. Moda. Evolução tecnológica. Futilidade do retorno]
A imagem arrogancial, admita-se, da exaustão da tecnologia, autoriza a suposição do início do regresso. Um anúncio da revista de bordo da Gol deste mês (out. 2011), sobre as máquinas Lomo, de origem russa, consideradas modais exatamente pela desdigitalidade, e não como o paradigma do eterno disco vinil dos resistentes e fiéis, quando comparado aos propositadamente quebradiços CDs, na música, são o motivo para o texto. A opção pelo vinil, no caso, representa uma continuidade, não um salto quântico regressional em que a partir de um determinado momento “descobriu-se” o vinil. Ele não foi descontinuado, não chegou a dormir ou morrer, sempre se manteve. Ao contrário, as máquinas fotográficas passaram por processos evolucionistas que solaparam modelos e modos que se viram ultrapassalizados. Houve a vitória da tecnologia, da informação instantaneizada na não mais necessidade de revelação. Aí dão-se três leituras, uma vertical, uma horizontal e uma de viés. Tanto a tecnologia se autossuperou melhorando a qualidade, rapidez e exatidão dos equipamentos, obsolescenciando padrões que então se tornavam passados; quanto também reduziu a quantidade de equipamento necessário nem para o mesmo resultado, mas para um melhor; quanto a globalização fez com que todos os mercados passassem a ter tudo, retirando o encanto extraordinário de se ter que fazer uma viagem a Manaus ou ao exterior, ou se mancomunar espetacularmente com um criminoso do descaminho para que trouxesse equipamento de fora em alvissareira burla para com a polícia, a receita e outros implicantes e burocratas que tentavam impedir o livre exercício da profissão, tudo para comprar equipamento que o país não sabia como fabricar, e continua a não saber, como pianos elétricos e máquinas fotográficas.
Assim, houve tecnologias que foram descontinuadas e outras que foram mantidas. Mas o excesso de tecnologia cansa e o saudosismo passa a incomodar a quem não perdeu a memória. Se não fosse assim os mercados de pulga pelo mundo não reinavam absolutos no setor. Mas no caso emblemático das máquinas Lomo, não é tão-somente a exaustão da tecnologia em si que se dá. Há o modismo, de inopino, da exibição no grupo social do mais antigo. Este mais antigo passa a ser o após-moderno (retiro aí a emblematicidade conceitual e sociológica do pós-moderno para trabalhar com a linha do tempo). A esdruxularia do ultrapassado e a sociologia estética do mondrongo criam um espaço antes não existente, como também criarão o discurso da represtabilidade da tecnologia ultrapassada. Ou seja, haverá o retorno do sabidamente ultrapassado pelo aproveitamento que será carimbado de “retrô”, numa volta que não se sustenta internamente, mas tão somente a vista de uma estética modalizada. Claro que a possibilidade deste tipo de revitalização do ultrapassado obedece nem a uma visão romântica, mas a uma bastante e nitidamente futilizada, à qual a potência da posse do dinheiro em excesso gera a espuma da obtenibilidade do bem ocioso e fugaz, um que a própria retecnologização modal gerará obsolescência em curtíssimo prazo, mas viveu-se o discurso reestetizado de uma futilidade escondida no microestopim do microssensacionalismo. Jean Menezes de Aguiar.
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