Desafiadora
Semana passada pedi no meu
“Facebox” opiniões sobre o tema. Somente mulheres se manifestaram. Estranho
essa abstinência masculina à mulher, mas, como se diz popularmente, sem
discriminações.
Mulher brasileira é boa sob vários aspectos. Se não somos os rostos ou os cabelos de qualquer garçonete sueca, como muitos gostariam, Darcy Ribeiro dizia que aquilo é pobreza, riqueza é a nossa mistura. Viva Darcy. Mas nem tudo são elogios. Há crises numa sociedade consumista. Uma grave é a aparente substituição do conteúdo (o ser, o intelecto, a ética, o amor) pela forma (o corpo, as nádegas, o cabelo, a pose, a pegação). Para muitas esta situação passou a ser tristemente ditatorial.
Mulher brasileira é boa sob vários aspectos. Se não somos os rostos ou os cabelos de qualquer garçonete sueca, como muitos gostariam, Darcy Ribeiro dizia que aquilo é pobreza, riqueza é a nossa mistura. Viva Darcy. Mas nem tudo são elogios. Há crises numa sociedade consumista. Uma grave é a aparente substituição do conteúdo (o ser, o intelecto, a ética, o amor) pela forma (o corpo, as nádegas, o cabelo, a pose, a pegação). Para muitas esta situação passou a ser tristemente ditatorial.
Isso se dá pela troca de um
valor descartável, menor ou passageiro, por um que “deveria” ser central,
importantizado. É o acessório no lugar no principal. Meninas urbanas de classe
média ali pelos 15, 18 anos de idade buscam mais inteligência ou corpo? É claro
que há influências e educações aí. Cada um pode buscar o que quiser. Inteligência
e conhecimento também são valores, logo, escolhas. Se a tesuda Sabrina Sato
consegue ficar rica por sua beleza física, ou se mais 7 ou 20 da Tv ficaram,
são 7 ou 20 exemplos. Isso não é a regra, e deveria ser compreendido.
Ainda, “ser
rico” é também um valor que pode ser perseguido. Para muitos a troco de
qualquer coisa. Parece não haver dúvida de que com a “invenção” da periguete –
o ser fêmeo que resolveu disputar com profissionais do sexo a custo zero de remuneração
a clientela masculina e ainda se orgulha (nada contra) –; e com as notícias de
Tv sobre corpos que andam e falam e obtêm “sucesso” na vida, deu-se uma geração
de valores assim para muitas. Parece haver toda uma educação baseada nesses
valores. Mas ouçamos as próprias mulheres, em democracia.
Diana Nacur, advogada mineira,
sugere que o tema seja conciliado com a função materna. Aponta a grave dúvida
entre a carreira profissional e o papel de mãe. Difícil conciliação, mas não
impossível. Os homens precisam entrar na maternidade. A mãe pode não querer
mais ser a dona de casa que se anulava profissionalmente. Isso abre dilemas. Se
o homem reduzir em 30% sua atenção profissional, poderá ter reduzido em 30% o
seu “sucesso” que, em última análise reverteria para a família. Mas aí terá que
atuar conjuntamente com a mãe. Por seu turno, a mãe pode obter um sucesso que
ultrapasse os 30% a menos do marido. Ou ultrapasse em muito. O tom aí será a “harmonia”.
Monica Cristina, brasileira que
mora no Japão, país “pesado” contra a mulher, opina que a inteligência é o
pesadelo masculino. Não está errada. Mas há que se considerar com isso um
modelo de homem mais conservador. Um que não admitia ter uma mulher “também”
inteligente, isso na hipótese de ele sê-lo, o que nem sempre é o caso. O tema
cai nessa vala residual do machismo: este homem não tolera uma mulher com
sabedorias e genialidades. Quem precisa se desenvolver nesse caso não são as
moças, mas os rapazes. Acredita-se que entre jovens isso já esteja muito melhor
organizado. Meninas “parecem” não admitir mais ter sua inteligência
secundarizada.
Renata Strobilius, fonoaudióloga
paulista, bonita, bem casada e mãe, demanda se fale do consumismo desvairado
com campanhas publicitárias destinadas às mulheres. Com uma visão ácida, fala
da maternidade consumista com bebês que passaram a ser itens na prateleira.
Realmente, parece haver uma outra mulher nessa virada de século. Uma preocupada
só com corpo, cartão de crédito e diversão. É um modelo cultural meio triste apontado
por estudiosos. Felicidade passou a ser a balada de hoje, amanhã está muito
distante. Conhecimento virou busca no Google de celular. O caso é que muitas
mulheres ainda sonham e o sonho obedece a outro ritmo, encantamento, poesia,
romantismo e amor. A publicidade parece ter se esquecido disso. Homens também.
Rosana Miranda, advogada
paulista reclama a mulher madura que após criar os filhos e voltar aos estudos
não tem a devida valorização. De novo o foco parece ser o companheiro. Parece
ficar sintomático que alguns “defeitos” da mulher são oriundos de defeitos
primários de homens. A única saída: diálogo aberto e franco, o que alguns
homens temem. Não há outro caminho.
Liziane Cantini, bela gaúcha,
perdoe-se o pleonasmo, morando em Tocantins, lembra que homens e mulheres se
completam fisicamente. Realmente é assim, ainda que numa visão “clássica”. A
vida se pluralizou e o modelo homem & mulher (para mim o único bom)
continua o majoritário. Essa completude é tão espetacular que problemas graves
são esquecidos quando um homem está aos braços protetores de sua leoa. E o
paradoxo é imenso: o tal sexo frágil se mostra poderosamente protetor de seu
menino. Aí a poesia fica querendo fazer barulho.
Dayse Baqui, cantora no Rio,
rasga a fantasia. Exibe-se como bem resolvida garantindo nunca ter chorado por
nenhum homem, ao mesmo passo que se diz serviçal e cozinheira eterna de seu
companheiro. Teoriza que a fome dele nunca acabará e ela será sua cozinheira
até morrer, mas só ela. Um equilíbrio interessante, um manejo difícil, mas uma
visão forte.
Pois bem, inteligência,
conhecimento, sabedoria ou corpo malhado? É muito polarizado um questionamento
assim. Pode-se imaginar uma mulher bonita e inteligente. Nada exclui nada. O
problema começa quando se “negam” certos valores. Quando se “quer” que o único
valor seja, por exemplo, a beleza, ou o corpo. Aí, cai-se numa vala de
futilidade ou de vulgaridade. Por outro lado, o próprio conceito de
“vulgaridade” pode estar sendo revisto numa sociedade consumista.
Se mães põem suas filhas de 5 anos dançando sobre uma
garrafa e esse padrão passa a ser o “comum”, é o conceito de “vulgaridade” que
está sendo revisto. Os Bbbs, 19, 20 nunca pararam; há audiência, a sociedade
insiste nisso.
Talvez haja “uma” cisão na visão
da mulher. Quem está “na balada” vê a mulher (se vê) de uma certa forma e este
olhar não é ilegítimo. Quem está fora pode achar isso uma “pouca vergonha”,
talvez uma visão meio conservadora. Ambas as “pontas” pudem rever suas análises
em alguma medida. Há, inegavelmente, para o padrão comum e usual de vulgaridade
uma onda dela solta por aí. O conceito nunca atendeu ao item inteligência, mas
ao corpo. Corpo é lindo, belo e maravilhoso. Mas a “conversa” pela inteligência
parece ser mais poderosa do que ele.
A mulher feia, mas inteligente
se torna encantadora e poderosa, conquista, vence e “tem”. A bonita e
inteligente se torna um espetáculo. A “só nádegas” se torna o quê? Jean Menezes de
Aguiar
Agradeço a colaboração das amigas citadas.
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