quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Mulher brasileira: corpo x inteligência


Desafiadora
 
Artigo publicado nos jornais O DIA SP e O ANÁPOLIS - semana de 17.1.13

          Semana passada pedi no meu “Facebox” opiniões sobre o tema. Somente mulheres se manifestaram. Estranho essa abstinência masculina à mulher, mas, como se diz popularmente, sem discriminações.

              Mulher brasileira é boa sob vários aspectos. Se não somos os rostos ou os cabelos de qualquer garçonete sueca, como muitos gostariam, Darcy Ribeiro dizia que aquilo é pobreza, riqueza é a nossa mistura. Viva Darcy. Mas nem tudo são elogios. Há crises numa sociedade consumista. Uma grave é a aparente substituição do conteúdo (o ser, o intelecto, a ética, o amor) pela forma (o corpo, as nádegas, o cabelo, a pose, a pegação). Para muitas esta situação passou a ser tristemente ditatorial.

                Isso se dá pela troca de um valor descartável, menor ou passageiro, por um que “deveria” ser central, importantizado. É o acessório no lugar no principal. Meninas urbanas de classe média ali pelos 15, 18 anos de idade buscam mais inteligência ou corpo? É claro que há influências e educações aí. Cada um pode buscar o que quiser. Inteligência e conhecimento também são valores, logo, escolhas. Se a tesuda Sabrina Sato consegue ficar rica por sua beleza física, ou se mais 7 ou 20 da Tv ficaram, são 7 ou 20 exemplos. Isso não é a regra, e deveria ser compreendido.

 Ainda, “ser rico” é também um valor que pode ser perseguido. Para muitos a troco de qualquer coisa. Parece não haver dúvida de que com a “invenção” da periguete – o ser fêmeo que resolveu disputar com profissionais do sexo a custo zero de remuneração a clientela masculina e ainda se orgulha (nada contra) –; e com as notícias de Tv sobre corpos que andam e falam e obtêm “sucesso” na vida, deu-se uma geração de valores assim para muitas. Parece haver toda uma educação baseada nesses valores. Mas ouçamos as próprias mulheres, em democracia.

                Diana Nacur, advogada mineira, sugere que o tema seja conciliado com a função materna. Aponta a grave dúvida entre a carreira profissional e o papel de mãe. Difícil conciliação, mas não impossível. Os homens precisam entrar na maternidade. A mãe pode não querer mais ser a dona de casa que se anulava profissionalmente. Isso abre dilemas. Se o homem reduzir em 30% sua atenção profissional, poderá ter reduzido em 30% o seu “sucesso” que, em última análise reverteria para a família. Mas aí terá que atuar conjuntamente com a mãe. Por seu turno, a mãe pode obter um sucesso que ultrapasse os 30% a menos do marido. Ou ultrapasse em muito.  O tom aí será a “harmonia”.

                Monica Cristina, brasileira que mora no Japão, país “pesado” contra a mulher, opina que a inteligência é o pesadelo masculino. Não está errada. Mas há que se considerar com isso um modelo de homem mais conservador. Um que não admitia ter uma mulher “também” inteligente, isso na hipótese de ele sê-lo, o que nem sempre é o caso. O tema cai nessa vala residual do machismo: este homem não tolera uma mulher com sabedorias e genialidades. Quem precisa se desenvolver nesse caso não são as moças, mas os rapazes. Acredita-se que entre jovens isso já esteja muito melhor organizado. Meninas “parecem” não admitir mais ter sua inteligência secundarizada.

                Renata Strobilius, fonoaudióloga paulista, bonita, bem casada e mãe, demanda se fale do consumismo desvairado com campanhas publicitárias destinadas às mulheres. Com uma visão ácida, fala da maternidade consumista com bebês que passaram a ser itens na prateleira. Realmente, parece haver uma outra mulher nessa virada de século. Uma preocupada só com corpo, cartão de crédito e diversão. É um modelo cultural meio triste apontado por estudiosos. Felicidade passou a ser a balada de hoje, amanhã está muito distante. Conhecimento virou busca no Google de celular. O caso é que muitas mulheres ainda sonham e o sonho obedece a outro ritmo, encantamento, poesia, romantismo e amor. A publicidade parece ter se esquecido disso. Homens também.

                Rosana Miranda, advogada paulista reclama a mulher madura que após criar os filhos e voltar aos estudos não tem a devida valorização. De novo o foco parece ser o companheiro. Parece ficar sintomático que alguns “defeitos” da mulher são oriundos de defeitos primários de homens. A única saída: diálogo aberto e franco, o que alguns homens temem. Não há outro caminho.

                Liziane Cantini, bela gaúcha, perdoe-se o pleonasmo, morando em Tocantins, lembra que homens e mulheres se completam fisicamente. Realmente é assim, ainda que numa visão “clássica”. A vida se pluralizou e o modelo homem & mulher (para mim o único bom) continua o majoritário. Essa completude é tão espetacular que problemas graves são esquecidos quando um homem está aos braços protetores de sua leoa. E o paradoxo é imenso: o tal sexo frágil se mostra poderosamente protetor de seu menino. Aí a poesia fica querendo fazer barulho.

                Dayse Baqui, cantora no Rio, rasga a fantasia. Exibe-se como bem resolvida garantindo nunca ter chorado por nenhum homem, ao mesmo passo que se diz serviçal e cozinheira eterna de seu companheiro. Teoriza que a fome dele nunca acabará e ela será sua cozinheira até morrer, mas só ela. Um equilíbrio interessante, um manejo difícil, mas uma visão forte.

                Pois bem, inteligência, conhecimento, sabedoria ou corpo malhado? É muito polarizado um questionamento assim. Pode-se imaginar uma mulher bonita e inteligente. Nada exclui nada. O problema começa quando se “negam” certos valores. Quando se “quer” que o único valor seja, por exemplo, a beleza, ou o corpo. Aí, cai-se numa vala de futilidade ou de vulgaridade. Por outro lado, o próprio conceito de “vulgaridade” pode estar sendo revisto numa sociedade consumista.

Se mães põem suas filhas de 5 anos dançando sobre uma garrafa e esse padrão passa a ser o “comum”, é o conceito de “vulgaridade” que está sendo revisto. Os Bbbs, 19, 20 nunca pararam; há audiência, a sociedade insiste nisso.

                Talvez haja “uma” cisão na visão da mulher. Quem está “na balada” vê a mulher (se vê) de uma certa forma e este olhar não é ilegítimo. Quem está fora pode achar isso uma “pouca vergonha”, talvez uma visão meio conservadora. Ambas as “pontas” pudem rever suas análises em alguma medida. Há, inegavelmente, para o padrão comum e usual de vulgaridade uma onda dela solta por aí. O conceito nunca atendeu ao item inteligência, mas ao corpo. Corpo é lindo, belo e maravilhoso. Mas a “conversa” pela inteligência parece ser mais poderosa do que ele.

                A mulher feia, mas inteligente se torna encantadora e poderosa, conquista, vence e “tem”. A bonita e inteligente se torna um espetáculo. A “só nádegas” se torna o quê? Jean Menezes de Aguiar
 
Agradeço a colaboração das amigas citadas.

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