A boca
Atenção:
o texto contém palavrões, não é recomendável para pessoas assustáveis ou
ofendíveis.
Podem ser arrolados 7
motivos reais para a mulher não falar palavrões. 1) a educação sulamericana e
patriarcal imposta a ela; 2) a sociedade machista a lhe acostumar à diminuição,
inclusive demandando leis formais com finalidades compensatórias
para proteção contra agressões físicas; 3) uma tendência regressiva de virginização
com a praga rosácea do hello kitty e sua infantilização mental em
mulheres mais que adultas, numa talvez disputa de espaço com filhas ou verdadeiramente
virgens; 4) a fuligem social do “politicamente correto” e seu patrulhamento por
tudo que possa ser passível de implicância por partes de pessoas que se arvoram
em vigilantes da moral; 5) praticamente toda a publicidade feita com
bonequinhos e desenhos animados infantis, até para vender automóveis ou
antibióticos, ou seja, a sociedade compra infantilidades na leitura dos intelectuais
da publicidade; 6) a renúncia da inteligência, da criatividade, da genialidade
e do poder pessoal com a invenção desse “mundo corporativo” que abomina livros
e saberes pesados como a filosofia, a sociologia, a antropologia, a história e
outros, para se dedicar a apostilas, treinamentos, cases e literatura “como” - auto ajuda (como trair
seu chefe sem ser flagrado, como trair seu marido sem ser descoberto, como passar
a empresa para trás sem que saibam etc.) uma leitura tipicamente
hora-do-recreio, “divertida”, bem facilzinha; e por fim 7) uma forte crença
pessoal feminina (subproduto nítido da educação peniana da sulamérica),
assolando muitas mulheres no sentido de que “não fica bem” mulher falar
palavrão.
A mulher quando dá para
ser cômica é uma delícia. Talvez pelo fato de os pós-chimpanzés machos de
gravata e paletó terem dificuldades com uma mulher contando piada ou soltando
um palavrão uterinamente profundo e, claro, pela graça feminina. Esse modelo de homem sempre temeu a mulher
solta, resolvida, absoluta, que não precise pedir autorização à estrutura peniana que costuma
pagar a sua alimentação em restaurantes para ser o que quiser, inclusive
descaralhada nos palavrões. Nem se discuta o “desconforto” que certos homens têm de falar
palavrão. E não adiantam, esses, darem de ombros dizendo - ué eu falo, quer ver?
- “merda”, pronto, falei. Não é isso. Falar palavrão não é uma resposta probatória
para se mostrar que se “pode” falar. Essa resposta não prova nada.
Uma explicação se faz
necessária. Não se defende aqui que palavrão seja um “valor” obrigatório para a mulher; que
toda mulher tenha que falar palavrões e a mulher que não falar será fraca ou
insegura. Há mulheres poderosas que não “precisam” de palavrões ou optam por
não falar. Mas as poderosas também se mostram por contornos muito
nítidos (é impressionante como o poder pessoal está cada vez mais raro nessa sociedade "levinha"). Palavrão é gosto, e gosto não se discute, talvez lamente-se.
Particularmente, acho bonito mulher ensandecidamente desbocada e sem pudores
com a própria boca. Ainda, o palavrão feminino é uma situação que serve para revelar como certos homens se
assustam, e recriminam a mulher, já que palavrão de outros homens eles não se “queixam”.
Começam recomendando, com um riso nervoso, que “não fica bem” mulher falar
palavrão, até carimbá-la de “bocuda” ou de boca suja, já num juízo que tenta psicanaliticamente
sujar a mulher, imprestabilizando-a socialmente.
Todas essas
comparações e análises são primárias, mas talvez contenham alguns
indicativos sugestivos. Há as mulheres comportadas; as esforçadas; as
obedientes; as preocupadas; as boas-moças; as de família; as que perguntam “o
que vão pensar de mim?”; e as que apenas não falam palavrões (talvez muitas das
primeiras vão querer “ser” estas últimas, dizendo que apenas não falam palavrões). E há
as desbocadas, as que mandam tomar no cu, com uma pronúncia
dolosamente lenta e muito bem nutrida. As comportadas se “defendem” justificando que
não fica bem, que não gostam de palavrões, que são educadas, que não é de bom tom
etc. Já as desbocadas parecem não se preocupar com construir uma explicação,
apenas falam o palavrão e apertam o botão do “foda-se” para o mundo. Essas são sedutoras. Jean Menezes de Aguiar.
ANEXO.
O doce H. L. Mencken
sobre bagagem mental, homens de negócio e mulheres, que “enxergam tudo, com olhos brilhantes e demoníacos”.
“Toda bagagem mental do
empresário médio, ou mesmo do profissional médio, é desordenadamente infantil.
Não se exige mais sagacidade para se levar adiante a conduta diária do mundo ou
desejar as doses habituais de burrice em nome da medicina e do direito do que a
de dirigir um táxi ou pôr um peixe para fritar.”
“Os gênios dos negócios
eram homens vigorosos e masculinos, o que os tornava bem-sucedidos num mundo
masculino. Intelectualmente, eram cartuchos de pólvora seca.”
“A advocacia exige apenas
um arsenal de frases ocas e fórmulas estereotipadas, além de um torpor mental
que põe esses fantasmas acima do bom-senso, da verdade e da justiça.” Por isso
as mulheres não se dão bem aqui, mas como enfermeiras, “uma profissão que
requer engenhosidade, raciocínio rápido, coragem diante de situações
desconhecidas e desconcertantes e, acima de tudo, capacidade para penetrar e
dominar seu caráter.”
“O homem de baixo nível
nunca tem total confiança em sua mulher, a menos que seja convencido de que é
inteiramente desprovida de suscetibilidade amorosa.”
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