sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Afinal de contas, disso eu entendo"





                        O argumento de autoridade é um nojo. No caso do título, uma jactância apoiada numa vontade de fazer o outro capitular subjetiva e arrogantemente a si próprio. A frase é tirada de Adorno e Horkheimer (Dialética do esclarecimento), quando discutem os judeus, no sentido de que, no momento que precedeu a era hitlerista, pareciam ter resposta para tudo, invocando uma pseudo sapiência pessoal que não contribuiu em nada para nada. Por isso os famosos autores disparam “Uma das lições que a era hitlerista nos ensinou é a de como é estúpido ser inteligente”, no sentido de os judeus negarem, com “argumentos bem fundamentados” as chances de Hitler chegar ao poder. Essa “superioridade bem informada”, como falam os autores, em verborragia pessoal exteriorizada pelo “afinal de contas, disso eu entendo” construíam statements (enunciados) tão sólidos que intimidavam, e, com essa funcionalidade da intimidação pelo conhecimento, viam-se inteiramente falsos, um subproduto de uma tal vontade do conhecimento.

Antes que se apresse em xingar a análise de Adorno e Horkheimer de uma panaceia racista (völkisch, na linguagem original deles), há se tirar lições importantes para o manejo do conhecimento, principalmente um conhecimento facista que busca vencer pela opressão de uma inteligência fabricada que esconde uma violência em não dialogar, mas buscar apenas a derrota do outro. Como advertem os autores “Não é fácil falar com um facista. Quando o outro toma a palavra, ele reage interrompendo-a com insolência. Ele é inacessível à razão porque só a enxerga na capitulação do outro”. E não se pense que apenas, no caso, os hitleristas eram “facistas”, estes sê-lo-iam buscando a dominação pelo poder primário da força, disfarçada de convencimento. Conseguiram, boçais, por um tempo. Mas há os facistas pela moeda do conhecimento, buscando a dominação “sofisticada” do saber fabricado de plantão, quando usam o argumento de autoridade. Se a opinião “não pensa, pensa mal”, e precisa ser “destruída” como ensina Gaston Bachelard (A formação do espírito científico); o argumento de autoridade é menos passivo, menos modesto, mais jactancioso e visivelmente mais bélico e arrogante. É claro que no mercado da imbecilidade, compra essa tralha mental quem quer, mas ela ainda faz inúmeros estragos na crença de que o conhecimento possa valer por um argumento vaidoso e autoritário como esse. Jean Menezes de Aguiar.

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