domingo, 19 de fevereiro de 2012

Gentileza proativa



“Gentileza gera gentileza”. Gentileza.


[A gramática recomenda "pró-ativa", com hífen, registre-se]. Ser gentil é certamente um dos melhores traços conscientes de personalidade. Jamais se confunde com fraqueza, futilidade ou qualquer coisa negativa ou boba. Teorizada para o mundo dos negócios por Linda Kaplan Thaler e Robin Koval, na obra The powef of Nice (O poder da gentileza), o que se discute aqui é a gentileza como superproduto da inteligência, pensada, calculada e com resultados extraordinários e até previsíveis. Nada que ver com uma gentileza burra, falsa ou perceptivelmente mentirosa, própria de seres vulgares e primários.

A gentileza é boa, qualquer que seja ela, espontânea ou profissional, técnica ou estudada para negociações e relações de dinheiro. Há alguns princípios e questionamentos que parecem ser muito valiosos. Um primeiro ponto é de que gentileza é a antítese da mediocridade. O medíocre simplesmente não consegue ser gentil por desejo natural, pois que tem dificuldade de reconhecer eticamente o valor do outro; a disputa constante nubla sua visão, impede sentimentos verdadeiramente bons.

Os autores citados indicam um grupo de princípios interessantes: “agir corretamente faz com que a pessoa se sinta melhor”, aí parece estar uma auto-ajuda natural ou uma “pílula mágica” de bem estar. “Pessoas mais gentis têm mais sorte no amor”, ter sorte no amor é um espetacular fator de qualidade de vida. “Pessoas gentis são mais saudáveis”, saúde é indiscutivelmente o mais importante. “Pessoas gentis perdem menos tempo nos tribunais”, um ganho espetacular, porque processo judicial é um fator que pode ser compreendido como algo péssimo. “Pessoas mais gentis ganham mais dinheiro”, o famoso Daniel Goleman fez uma pesquisa e concluiu uma relação entre empresas com empregados com moral elevado e resultados finais alcançados pela empresa.

A gentileza requer um tipo de suavidade [sempre inteligente] que não se compraz com a pessoa tacanha, aqui medíocre. Aliás, a relação de antitetia entre gentileza e mediocridade é das mais vivas e interessantes. Nesta análise pode-se buscar, também, segmentos inteiros de atividades dolosas e desonestas que, pela própria concepção existencial envolvendo lucro + enganar pessoas, se mostram principiologicamente menos gentis. 


Mas há que se retomar o conceito de gentileza que jamais é tratar qualquer um por “senhor” ou “senhora” ou abrir a porta do carro [apenas]. Gentileza será uma visão de mundo em que se quererá para o outro um sucesso igual ao seu; será uma vontade de ver o outro crescer como você sem o tônus da disputa baixa; será o substrato ético de não revidar, mesmo quando o revide é fácil e está à mão; ou não ensinar alguma coisa, mesmo quando a lição engrandecedora para o outro não se lhe custa nada. O fato é que se se observar bem, o conceito de gentileza proativa – de novo, nada que ver com futilidade ou mesmo “mera” educação no tratamento do outro – é um traço de personalidade ao qual o agente será identificado como de bom coração, como aderido, como estimulante, como parceiro, como verdadeiro companheiro e como jamais demonstrando a vontade de precisar ou querer "rebaixar" o outro para subir, ao contrário, denotando todo um olhar sincero de cuidado com a situação do outro.

Essa gentileza é “aperfeiçoável”, mas talvez não seja totalmente aprendível, no sentido de nunca ter existido enquanto início no agente e ele melhorou com conhecimento técnico. Diz-se talvez porque conceber-se-iam 3 estados de personalidade aí: o medíocre, o híbrido e o originariamente gentil. O medíocre talvez não tenha “cura” em relação ao viés da gentileza proativa. No fundo ele reservará visões de inveja ou de comparações que produzirão efeitos negativos e exporão o próprio agente à baixa de qualidade ou nível que sua personalidade é e se lhe mostra ao mundo. O híbrido, imaginando-se uma pessoa efetivamente “normal” sem traços visíveis de gentileza, mas também sem traços de mediocridade, poderá aprender sobre a gentileza proativa e, se gostar, será um dinamizador dela no sentido de vivê-la bem; seria aqui um caso de mudança relativa da personalidade, para melhor, sendo que este agente sempre foi receptível a uma mudança assim. Por fim o originariamente gentil, entendendo-se por um ser basicamente educado e bem educado, às portas de uma gentileza originária. Este aperfeiçoará com facilidade e inteligência sua gentileza e migrará feliz para o gentil. Essa visão triádica que pode conter um tônus teórico ligado à biologia do indivíduo talvez não seja obrigatoriamente equivocada, se se supuser que [meramente] “há” pessoas boas e outras invejosas, e esses traços lhes parecem ser originais.

Noutra palavra, do mesmo jeito que pessoas mais inteligentes “não são” medíocres, podendo-se ligar, de alguma forma, a mediocridade a uma baixa de inteligência, pessoas mais inteligentes podem ser maravilhosamente gentis e proativamente gentis. A gentileza proativa é um superproduto da inteligência.

Gentileza, crítica e pessoas.

O gentil pode ser extremanente crítico em sua visão de mundo, mordaz, contundente, desafiador, desconstrutivista, devastador e totalmente despudorado, tudo sem deixar de ser totalmente gentil, que será no plano teórico uma forma honesta de defender suas posições, e no plano pessoal com pessoas que interaja continuar a se mostrar gentil e atencioso. Pessoas tenderão a confundir, já que a crítica assusta a muitos. Mas a crítica aplicada a gêneros indistintos de pessoas, a atividades específicas enquanto análises teóricas das atividades, enfim, a objetos abstratos nunca pode ser confundida com falta de gentileza. Do mesmo modo que o agente pode defender bandeiras e ideologias extremistas, discutidas, foras de padrão comum e, mesmo assim, continuar a ser extremamente gentil nas relações com as pessoas.

Pessoas gentis tendem a ser geniais, veem-se extremamente agradáveis e aderidas, incapazes de “originar” uma indelicadeza desejada, intencional. Pessoas gentis são mais bonitas, mais tesudas, mais apaixonantes, e muito melhores de se sentar num bar para conversar por horas a fio. Não estão preocupadas em disputas, vitórias, auto-afirmações, provas e marcação de lugar. O gentil “é”; sente-se bem em ser o que é; vive de uma calma felicidade construída nesse setor; não se vê ameaçável; não prolonga discussões histéreis com pessoas culturalmente híbridas e aceita perfeitamente a imagem de bobo ou de perdedor, se esta imagem satisfizer ao medíocre ou ao imbecil. O medíocre ou o imbecil não serão fontes da preocupação do gentil, pois tenderá o gentil a não manter grandes laços com esses pelo risco óbvio de se ver envolvido em alguma situação efetivamente danosa por obra do medíocre.

O gentil é uma delícia de estar próximo, de se ser amigo, de ouvir conselhos e dividir risadarias e gargalhadas. O gentil seria a salvação do mundo, se grande parte dele não fosse constituída de imbecis. Mas por outro lado, do mesmo jeito que os medíocres são unidos, os gentis se reconhecem e criam empresas e grupos de atuação sólidos, prósperos e vitoriosos. Uma mera consequência da inteligência, da sabedoria, mas sobretudo dessa gentileza proativa que é querer ver o outro bem, porque o mundo é muito grande e cabe todos bem. Jean Menezes de Aguiar.

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