quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Bbb, o crack visual

[Matéria publicada no jornal O DIA SP de 19.1.2012]


O vidiota - muito além do jardim

Bom “golpe publicitário” o do delegado de polícia que “achou” o estupro no bbb. Juntou fome com vontade de comer. O escândalo é o primeiro de uma série, claro. Tudo encomendado pela emissora e previsível por qualquer observador atento. Se não forem os escândalos, agora até extramuros, o que será do bbb? Todos, os que assistem, querem exatamente isso, inclusive os que juram que não veem.

Com o escândalo a imprensa agradece ao delegado. A audiência bate picos lunáticos de alta. As TVs rivais faturam e saem do vermelho. O “Ilmo.” (de ilustríssimo; delegado) vira o delegado-bbb. O público começa o ano já em síndrome de abstinência, afinal bbb é um crack visual. E os críticos têm material de sobra; Veríssimo, por exemplo, foi impiedoso.

Quem perde com o episódio? Ninguém. O moçoilo “expulso” talvez esteja sorrindo secretamente com sua já sabida semana contratual de fama. Mais uns 100 mil reais no bolso para se deixar ser “acusado” nacionalmente de estuprador com a garantia global de que nada aconteceria. Teoria da conspiração? É claro que sim. Só ela explica 130 milhões de reais investidos aí.

O bbb está em queda. No exterior não existe mais. Mas aqui, o sexo é a bola da vez. A ditatorial homossexualidade também. Haverá o “beijo gay”, perguntam ociosos e provincianos mentais. A estupidez humana é formidável. O mesmo público que exige a expulsão do “estuprador” é o que sorve e voyeuriza cenas baixas e pobres. O farisaísmo sempre foi intrínseco à sociedade do falso moralismo.

Como eram ingênuos os primeiros contratos do bbb.“Aparecer” na novelinha com tudo gravado, até o xixi. Sem mentiras. Agora, dizem haver atores, cenas ensaiadas. Mas a evolução será o sexo explícito. A avidez social parece ser por esse quadro patético. Que falta faz Roberto Marinho.

Pela sociedade, não se pode “reclamar”, afinal, isso gera milhões de reais. É o que se quer, a degradação dateniana, ratiniana ou a alegria-matéria-plástica faustiana da mesma Globo.

                Há agora o problema legal que sempre tem um custo elevado, que foi o de se “brincar de estupro”. Ficam efeitos negativos para os patrocinadores. Após uma noitada de bebedeira solta, lasciva e autorizada, não havendo ali nenhuma criancinha, tudo pode ter acontecido. Até nascer, daqui a 9 meses, o primeiro bbbzinho.

Com estupro algumas coisas mudam. Mas só algumas, afinal tudo continua sendo bbb, Globo, Bial e pós-modernidade. Para que ética televisiva? Um bbb é: querer mostrar o que se acha que vai ser mostrado, depois não mostrar. Os patrocinadores, AmBev (Guaraná Antarctica), Fiat, Niely, Schincariol (Devassa) e Unilever (Omo), pagando cada um R$ 20,6 milhões, podem ter ficado “preocupadinhos”.

                Se foi armação todos ganharam. O delegado, a emissora, o “modelo” e os anunciantes. Mas se não foi, algum tiro saiu pela culatra. A moça já se apressou para reconhecer que “estava consciente”; mas também “não sabe o que houve”. O negócio é inocentar o sujeito, mas não totalmente. Essa é a sua lição de casa exigida pela emissora. Uma colega jornalista me disse ontem que a moça estava completamente chapada após alguns minutos da cena. Mas se ela jura estar consciente e nega o estupro, fim.

Se não houve toda essa conspiração e o jogo era “honesto”, como fica agora o “pobre” “modelo” expulso? Fica, também, com a fama nacional de estuprador? Mas a sociedade o perdoará não é verdade? Basta se “explicar” no Faustão, fazer cara de bom moço e negar até a morte.

É claro que bbb algum merece uma teoria complexa. Tudo já deu o que tinha que dar na boa e velha Casa dos Artistas, de Silvio Santos. Mas não é surreal que a Globo insista nisso porque a lógica sabida é: às favas com ética, educação e prestação de serviço à comunidade, o que manda é o dinheiro e ele entra a rodo. Isso tudo só patenteia um nível mental de pirilampo (perdoem insetos) da sociedade brasileira que não cessa de ver bbbs.

                Na esteira estapafúrdia do politicamente correto, a nova lei penal caiu na sedução social do “tudo é estupro”. A emenda da lei no campo penal foi chinfrim e ordinária, ainda que atendesse a um estrilo panfletariamente feminista. Agora não só a conjunção carnal, mas qualquer ato libidinoso é crime de estupro e não só o homem o pratica, mas a mulher também pode ser agente ativa. Viva o punitismo! O problema é que o crime exige “violência ou grave ameaça”, está na lei. Será que o delegado não sabe disso? Será que houve naquela promiscuidadezinha televisiva que todo mundo já esperava, num bbb, público para o Brasil, “violência ou grave ameaça”? Parece que exageraram na novelinha do sexo. Que falta faz a genialidade de um Daniel Filho.

                Tudo bem que a TV dê o que a sociedade quer. Esta sociedade que ao sair de um jogo no Pacaembu, por exemplo, precisa ser fisicamente separada por caminhões da PM para que as torcidas de homens-bicho (todos feios, já reparou?) não se matem. Com essa falência mental, intelectual, de educação, de ética da sociedade, um bbb é uma ilha do Caribe de prazer. Mas a Globo e anunciantes capitularem a esse baixo clero social beira à ofensa.

                Qual é o crítico ou intelectual que apoia, aprova ou valida um bbb? Esse questionamento seria totalmente primário se não coubesse em alguma medida. Busque o artigo de Veríssimo! Não há um patrulhamento às avessas de que o intelectual “tenha que odiar” o bbb ou se fantasie de inatingível ou blasé. Mas o baixo nível de um bbb autoriza o questionamento. E novos escândalos virão. É claro que virão. Ver somente como alguém se ensaboa ou lava prato não vende mais. Agora descobriram o “escândalo agregado”. Quando passar este, vem outro. E eu de minha parte fomentei a fofoca, sem nunca ter assistido a coisa. Tirei a minha casquinha do bbb, que vergonha. Mãe, me perdoe. Jean Menezes de Aguiar 

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