Fev 2013, Nikon D3200, 24mp, objetiva Nikkor 55-300mm, puxada nos 300mm. JMA.
Artigo publicado no jornal O DIA, fev. 2013
O assunto teria como objeto uma
discussão sobre o consumismo, mas o entrave que se me apresenta é imenso.
Comprei um notebook aqui para substituir o velho e poderoso Philco, isso mesmo,
um montado na China como qualquer um. O novo, bem bonito, vem com o Window 8
que mais parece um joguinho de descoberta de como se maneja algo capcioso
criado somente para dificultar e manter a reserva de mercado de que somente
"eles" podem saber como fazer. Sem problema.
Aí pensei, fácil, estou num hotel na
7a avenida, em frente ao Madison Square Guarden, um estabelecimento com mais de
mil quartos e que para eu chegar do elevador ao apartamento preciso de exatos
150 passos. Deve haver uma "salinha" de internet.
Bingo, como dizem os americanos.
Para um hotel deste tamanho há uma sala com 5 computadores. Não posso
estranhar, a presunção é de que todos tenham o seu computador, menos alguns
como eu que estejam "em transição".
Vou à recepção e me cobram 20
dólares por uma hora de uso. Sinto-me razoavelmente assaltado. Não é aqui que
tudo é praticamente de graça? Ledo engano, algumas coisas são exorbitantemente
caras. Enfio o cartão e o troço começa a funcionar, ok. Procuro o Word, sim
aquele programa para digitar (não é este que estou usando, este é apenas o
WordPad - e, de novo, não sei se conseguirei enviar esta matéria - tomara!).
Não há Word.
Controlo o desespero. O que vale um
computador para mim sem Word? Nada. Joguinhos? Cruz credo, já sou
deliciosamente idoso e desalegre para curtir joguinhos (amigos do Facebook,
parem de me convidar para não-sei-o-que-Ville).
Consigo "ligar" um editor
de texto no computador do hotel, mas o teclado não funciona, ele não sabe que
existe o Brasil. Não há um acento gráfico em português. Vou ao meu Blog e copio
um artigo meu publicado. Tiro todos os acentos e sinais, os copio no arquivo do
novo texto e começo a escrever copiando e colando cada um dos sinais quando
preciso, um a um. Mas aí olho para o consumo miserável do "card" da
internet e ele já comeu quase 50% dos 20 dólares. Bate o desespero. Estando na
terceira linha com este método infernal, precisarei de uns quatro mil dólares
para mandar esta matéria. Sem chanche. Aborto.
Subo para o apartamento e peço à
namorada, novinha, sabe tudo de internet, que tente por o novo notebook em
português. Ela diz que não pode perder o dia da Macy's para tentar me ajudar (e
sou eu que quero correr para lá). Imploro e ela perde toda a manhã. Estava
certa, o Windows 8 foi feito para garotos viciados em computador, mas tudo bem.
Acesso a internet e pergunto ao Gúgle (pense com sotaque maranhense, ouvi assim
lá, é poético) como transformar o Windows em português. Vem um garoto com uns 8
anos de idade que não é brasileiro, ouvindo-se um martelar de obra ao fundo e
ensina, no Youtube. Eu amo esse garoto desconhecido. Consigo pôr o teclado em
brazuca. (Tomara que consiga "enviar", não tenho e-mail instalado
ainda).
Aí estou aqui, digitando a matéria
de hoje. Qual é mesmo o tema? Xi, já comi quase todo o tamanho da matéria
contando esse besteirol. Tudo bem, confio que serei perdoado, afinal estou
invocando o provincianismo de dizer que estou em NY. E foi a minha primeira vez
(não doeu).
O tema seria sobre uma
leitura do consumismo. Confesso que me surpreendi. Estamos acostumados a uma
interpretação vulgar do consumismo na visão da compra, o verbo consumir em si,
a coisa do shopping center, a pessoa cheia de sacolas. Por aqui há muito mais
que isso e os sacoleiros não são os novaiorquinos. Até porque os deslumbrados
com muamba somos nós, não eles.
Eles podem viver o
espírito do consumismo, nós vivemos sua mundanidade. O consumismo para eles
aparece num atendimento ruim, sempre apressado e mal humorado. Não gostam de
dar informações. Se não der gorgeta o cara lhe cobra acintosamente. Eles acham
que têm "direito" a gorgeta. Há essas "bobagens" nas
relações com eles. Mas há coisas densas que precisam ser analisadas.
Não se vive aqui o luxo
paulista fútil de os restaurantes terem que fazer reforma todo ano porque se
não o cliente "enjoa". A louça sanitária nos banheiros se funcionar
perfeitamente pode ser da época do pós-Guerra. Os aquecedores para calefação
também. A impressão é que os enfeites da coisa nova não precisam existir se a
funcionalidade estiver cumprindo seu papel. Isso é cultura.
O metrô tem uma cara
que parece imutável, não é mexida, não é reformada a cada prefeito com novos
tijolos que custarão bilhões de dólares como as calçadas paulistas, tudo feito
para piorar e quebrar, precisando de reformas e com chances a comissões
milionárias que o Ministério Público jura que vai investigar e nunca dá em
nada.
A funcionalidade
americana é desconsumista e desnatura o seu consumismo. Isso é muito bom de se
ver. Haveria um consumismo, sim, com suas garras afiadas, mas sem tomar o
espaço de um clássico que os países que apenas "imitam" querem
desovar em troca do "tudo novinho", o horror cafona da decoração toda
novinha sem nenhum peso.
Estou sem o contador de palavras e aqui não consigo visualizar o tamanho
do artigo. Vou aprofundar o tema dessa visão comparatória que achei fascinante.
Anotei diversas características em observações que tenho feito no frio de até 8
graus negativos. Ainda fico algum tempo aqui. Espero que a matéria de hoje
chegue sem grandes erros, cuja responsabilidade é somente minha pessoal. Agora,
a Macy's me espera. Jean Menezes de Aguiar.
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