São Paulo iniciou a internação involuntária para dependentes químicos graves. A imprensa de início ouviu estudiosos contrários que rapidamente ligaram o conceito a uma discriminação profunda, numa ponte com a loucura que, antes do século 17 era vista como a rejeição da estrutura de racionalidade que forma as normas da sociedade. Ali, como se pensava, os loucos “preferiam” a irracionalidade à razão. Será Michel Foucault que mostrará que Descartes rejeitou a loucura como fundamento e considerou, mediatamente, os loucos como uma ameaça à racionalidade e à moralidade alheias, com o seu “argumento cogito” (penso, logo existo).
Sobre os manicômios, na história, fez-se algum paralelo na SP atual, eles pioraram o tratamento, segundo Foucault, foram mais desumanos e partiam da premissa de que os loucos eram moralmente responsáveis pela própria doença. Se a internação involuntária em SP não tiver esse vezo ideológico atributivo da responsabilidade ao usuário de crack, por exemplo, como se fazia com o louco e em sua vida manicomial, um nítido ranço do pensamento conservador, o de que cada um é responsável pelo que faz, a prática atual paulista pode acabar representando um avanço.
Com uma fiscalização ativa da sociedade e da família, para quem tiver, do CRM e OAB, esta internação seria bem diferente daquela à qual os manicômios apareciam como defensores de uma norma homogênea da moralidade social (Foucault). Como os tempos são outros, e o grau de transparência pública se mostra muito melhor, a própria imprensa já começou a dar sinais (jornalísticos) de “apoio”. Que os dependentes químicos graves sejam tratados com respeito e tecnologia, carinho e decência por um Estado tão omisso e responsável diretamente com esse quadro devastador. JMA.
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