terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Todos riem, menos um.




Professores costumam reparar alunos que têm problemas e saem do padrão da turma. A um gracejo que 90% dos alunos riem, outros 9% sorriem discretamente e míseros 1 ou 2 alunos mantêm a cara premeditadamente fechada como se estivessem zangados, há uma fotografia “interessante” aí. É óbvio que as "palhaçadas" de professores não precisam alcançar a tal da unanimidade, mas se a cena descrita no início do texto se repete 10 vezes em 10 momentos diferentes, não serão as brincadeiras que são “ruins" nem todos os 99% da turma que são patetas, mas a cabeça do esquisito de plantão que precisa passar por um conserto, rs... Isso quando é consertável.

O que se retrata aqui é descrito com perfeição pelo filósofo clínico Lou Marinoff, na obra Mais Platão menos prosac: “As pessoas que procuram se ofender sempre encontram motivo para isso; consequentemente, são elas que têm um problema”. Assim, por exemplo, quando um funcionário da polícia ouve uma piada sobre a “sua” instituição e “problematiza” disparando uma zanga preventiva para todas as próximas brincadeiras, fechando a cara e pensando que não admite graça com a entidade, fica claro que o problema está nele, não nos ouvintes outros, ou no elaborador da brincadeira.

Em turmas de direito isso alcança ares de esquizofrenia, porque muitos do mundo jurídico acham que não podem ser alegres, felizes, gargalhar e se espalhar de uma graça momentânea, uma piada ou uma pilhéria que se faça, em típica falta de segurança e personalidade. É a síndrome de que autoridade não ri. (E quem é autoridade?).

A empatia estudada pelo biólogo Franz de Waal (A era da empatia), originariamente nos grandes primatas e depois “trazida” para a humanidade é um valor maravilhoso nas relações humanas. Mas ela nem depende  da nossa decisão, vê-se involuntária, conforme pesquisas de Ulf Dimberg, psicólogo sueco. No caso da sala de aula onde todos vivem a alegria empática momentânea de uma história e penas um aluno faz questão de não conviver essa alegria, por diversas vezes, fica nítido o seu "problema" na relação. Essa boa relação grupal requer bom coração, pessoas de bem, requer abertura para receber um gracejo e não ficar buscando problematizar, implicar, achar defeitos nas brincadeiras descontraídas, nas alegrias normais e mundanas dos outros. Quem vive querendo achar esses defeitos é que tem problema. No caso citado, como o professor aí tem adesão de 90% da sala para uma mera brincadeira, a reação zangada de 1 ou 2 em nada muda o quadro. Apenas o sujeito deve levar uma vida meio infeliz, cerceando seu riso espontâneo, sua alegria mundana como a de qualquer pessoa que não tem o espírito prevenido. Deve ser ruim viver assim. Jean Menezes de Aguiar.


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