terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

“Criacionismo” na escola e violação infantil.



Criança e o seu direito ao conhecimento.

Criança deve estudar. Estudo envolve conhecimento. O conhecimento que é fornecido para a criança em todas as escolas do mundo envolve socialidade e ciência, aferível por métodos próprios que garantem o trinômio verdadeevidência - certeza.

Método é como o conhecimento será manejado, tanto no seu descobrimento quanto na sua transmissão que imprime lógica e garantia ao conhecimento. O processo de lógica e garantia no conhecimento é resultante de demonstração – o conhecimento precisa ser demonstrável objetivamente por si só (H2O é um fato que pode ser percebido em laboratório); também é resultante de repetição (procedimentos objetivos conseguem repetir aquele conhecimento); também a experimentação (o conhecimento é testável por qualquer um, não requerendo qualidades subjetivas especiais, dom, intuição ou crenças).

Crianças em todos os lugares do planeta vão à escola aprender disciplinas que obedecem aos mesmos métodos que, todavia, são mundiais, seja na história, na geografia, na matemática, na física, na química, na biologia etc., afinal a ciência é um processo de cumulação de saber metódico. O que orienta o conhecimento científico é o método.

No estudo do método, na metodologia científica, há 4 níveis de conhecimento, empírico, científico, filosófico e teológico. Alguém ensinar a outrem a refogar arroz sem adição de óleo, é uma forma de transmissão de conhecimento vulgar, válido e existente. Já a ciência vai mais além, se preocupa com detalhes, medidas e exatidão quantificada e qualificada, sendo o método mais importante do que com a descoberta em si, ou seja, será o método objetivo utilizado que qualificará o conhecimento como científico. Por terceiro, a filosofia que tem o mesmo rigor que a ciência, mas utilizando outro objeto de investigação, as realidades mediatas, imperceptíveis aos sentidos que não podem ser experimentáveis. Por quarto e último, conforme ensinam Cervo, Bervian e Silva (Metodologia científica) o conhecimento teológico “aceita explicações de alguém que já tenha desvendado o mistério”, ou alega que desvendou e se acredita nessa alegação, o que exige uma atitude subjetiva da pessoa de querer aceitar a explicação. Essa vontade de aceitação é conhecida por fé diante, então, do conhecimento “revelado”.

Escola, no mundo todo, é um lugar e uma ambiência em que impera e sempre imperou o conhecimento científico, e não crenças em santos, deuses, entidades e mitos em geral, seja o nome que for, Buda, Deus, Alá, Jesus, Maomé, Oxalá e qualquer outra divindade, força etc. Não se ensina 2 + 2 a uma criança fazendo-a “crer” que o resultado seja 4, mas utilizando uma compreensão objetiva, racional, demonstrável e essencialmente lógica. Qualquer criança não neural ou mentalmente lesada consegue ver, entender, perceber e testar que 2+2=4, com palitinhos, pedras, botões etc. Não se trata de “acreditar”.

Charles Darwin é um fato.

A Evolução, estudo capitaneado por Darwin deixou de ser uma mera teoria para se firmar em toda (!) a biologia como um fato incontestado – não há um biólogo sério no mundo que negue a evolução, conforme Richard Dawkins e Ernst Mayr. Mas um tema tem preocupado os estudiosos: o ensino do “criacionismo”, em escolas religiosamente fundamentalistas, em substituição à Evolução.

O criacionismo simpesmente nega, como se pudesse, todos os avanços, descobertas e confirmações da Evolução. A Evolução sofreu da própria ciência contestação por longos 80 anos após Darwin, até cessarem os argumentos contrários, calando toda e qualquer crítica quanto à sua existência e confirmação. Por isso deixou de ser uma “teoria” e se tornou um “fato”. Enquanto isso, religiosos radicais, os fundamentalistas religiosos, mantém-se no criacionismo por pura crença religiosa, sem qualquer início ou base científicos sérios, considerando o homem um produto de Deus. Que desenvolvam seus credos por seus medos, temores e mitos na fase adulta será um problema de cada um, mas querer impor isso às crianças será uma questão de interesse público, no sentido de ensinar algo sabido e cientificamente errado a quem precisa “aprender” conceitos não oriundos de uma ou outra crença, mas do conhecimento científico.

Alguns conceitos precisam ser previamente explicados. Tomando-se como base o livro A goleada de Darwin, do biólogo brasileiro, pós-doutor por Harvard, Sandro de Souza, há:

“Teísmo” – a crença na existência de um ou mais deuses.
“Ateísmo” – ausência dessa crença.
“Deísmo” – crença numa força maior, não religiosa.
“Agnosticismo” – não se pode prova a existência de Deus, mas também não o rejeita.

Em contraposição à Evolução que em termos de existência, consistência e não questionamento se mantém um fato unânime na biologia, há nada menos que dez organizações que inventaram explicações criacionistas para a origem do homem, cada uma pipocando para um lado teórico maluco, como hérnias descontroladas, todas elas de origem americana.

1) CRIACIONISTAS DA TERRA PLANA – em patético contraste com estudos geológicos e fotográficos, acreditam esses lunáticos que a Terra é um plano, numa interpretação literal e primária da Bíblia. Em 2008 a tal Sociedade da Terra Plana ainda conseguia ter 12 mil membros;

2) GEOCENTRISTAS – a Terra é redonda mas discordam, em  afronta a estudos astronômicos e físicos, do modelo heliocêntrico do nosso sistema solar, são a The Criation Science Association for Mid-America;

3) CRIACIONISTAS DA TERRA JOVEM, para esses boçais não adiantam os estudos sobre a Terra, eles querem que ela tenha ínfimos 10 mil anos, sendo que todo material orgânico e inorgânico teria sido criado em 6 dias. O complexo e preciso sistema de “datação” aceito incontestavelmente pela ciência, que prova a estultice dessa crença imbecil de nada adianta para esses aí: seu fundamentalismo é separatista e preconceituoso, não aceitam sequer discutir o tema;

4) CRIACIONISTAS DA TERRA ANTIGA – esses são mais “razoáveis”, aceitam as demonstradas evidências geológicas da existência da Terra em termos de 7 bilhões de anos mas acreditam que um Deus lá atrás criou tudo, é a American Scientific Affiliation;

5) CRIACIONISTAS DA RESTITUIÇÃO – teria havido grande espaço temporal entre o Gênesis 1 e o 2, assim Deus teria recriado o mundo; está no livro Mysteris of the Ages, de Herbert Armstrong;

6) CRIACIONISTAS DIA/ERA – para esses “criativos” aí, cada dia da criação foi uma verdadeira era. Deus, para esses tontos devia ser muito moroso, com uma era por dia.

7) CRIACIONISTAS PROGRESSISTAS – aceitam a física, mas rejeitam a biologia mesmo com todas as comprovações e, claro, a Evolução. Teimosia é assim mesmo, fiel e imutável;

8) CRIACIONISTAS DO “DESIGN INTELIGENTE” – dizem que é implausível a complexidade da biologia a partir de fenômenos aleatórios, daí para um Deus é apenas um mergulho. Mitos e inexplicações sempre atraíram quem nunca quis estudar muito, é um atalho fácil.

9) CRIACIONISMO EVOLUTIVO – aceitam um pouquinho a ciência, mas uma  que possam ligar à Bíblia, a principal obra é Evolutionary creacionism: torah solves the problem of missing links, de Susan Schneider, outro bando de lunáticos que nega conquistas insuspeitas da ciência, mas cinicamente a usam, não por reconhecer seu valor, mas para “usar” a força da ciência em seus credos e crenças.

10) EVOLUÇÃO TEÍSTICA – Deus teria criado as formas vivas por meio da evolução, esses aí aceitam a Evolução, mas fazendo partir tudo de Deus. É a Igreja Católica com seus inúmeros padres cientificamente formados com mestrados e doutorados que, no item da Evolução, a que melhor se mostra inteligente e arejada mesmo mantendo sua crença. Seu principal pensador foi o teólogo Teillard de Chardin, com o livro The phenomenon of man.


Qualquer criança que vá ao zoológico fica admirada com a semelhança que o chimpanzé apresenta com os humanos, em termos de olhares, comportamentos, hábitos e gesticulações. Espontaneamente a criança se vira para o pai sem saber o que seja Evolução ou criacionismo e, neste momento, indaga que os macacos são impressionantemente “iguais” a nós. Neste momento a ciência “estimula” essa visão natural e óbvia da criança, enquanto que o criacionismo a “decepa”, sem o mínimo de fundamento sério, tudo atrelado a crenças e mitos, introduzindo na criança como que uma cepa viral de ignorância que proíbe a sua visão institiva, óbvia e correta da semelhança entre os primatas e o homem.

Diversas visões naturais outras serão também estimuladas pela ciência ou, contrariamente, amputadas pelo fundamentalismo religioso e seu preconceito. Daqui a pouco alguém decretará que será pecado levar criança para ver chimpanzé no zoológico, para não se estimular esse tipo de questionamento.

Adultos não deveriam fazer isso com suas crianças, mesmo sendo seus filhos. O fundamentalismo radical não deveriam querer anular o conhecimento científico. O adulto é livre para escolher o que bem entende, como leva e administra sua vida, que religião ou igreja se filie. Mas não deveria obrigar a criança a aprender coisas que são efetivamente erradas. Querer que H2O não seja água por crença ou mito é forçar a barra. Essa covardia contra crianças não deveria existir. Jean Menezes de Aguiar.


 Uma rápida discussão sobre criacionismo e Evolução pode ser vista em http://profs.if.uff.br/tjpp/blog/entradas/criacionismo-na-europa#comment_270353c2cc56f26abb1acaf064b8977b 

Um comentário:

  1. Bom dia Prof.
    Antes de mais nada, quando você vem, já parece que tem um ano.
    Li alguns artigos seus, com: "Uma aula sobre saudade", aquele antes desse sobre o sorriso e este agora, que inclusive aproveitei para copiar e arquivar na minha pasta de I.E.D, afinal de contas, estava bem melhor (sem comparações) que minha escrita e caligrafia.
    Estou lendo Dos delitos e das penas (Beccaria),e me lembrei do capítulo VII. DOS INDÍCIOS DO DELITO E DA FORMA DOS JULGAMENTOS p.45 do livro onde Cesare Beccaria diz: "Felizes as nações entre as quais o conhecimento das leis não é uma ciência".
    Nesta frase,ele explica que na época faziam os julgamentos sem bom senso: guia menos enganador do que todo saber de um juiz acostomado a só procurar culpados.
    Fiquei pasmo ao ler o artigo do Prof., e fiz uma comparação do seu artigo com o livro em minha cabeça. Será que "estamos" retrocedendo? Voltaremos a 1700, vamos enforcar,torturar e e.t.c...
    Espero que não, depois de sua aula, fui tomar uma gelada e resolvi conversar com um bebim que tava do meu lado sobre Teológia, fiquei curioso se ele entenderia o que e VERDADE ABSOLUTA e tentei explicar.
    Essa foi a 1ª aula que coloquei em prática na minha vida dentro do direito.
    O bebim era meu amigo, perdi o amigo rs..., virei anti-cristo kkkk.., isso por que sou católico e por aí foi, lembra daquela historinha do papai noel, pois é no final da conversa falei pra ele me apresentar Deus que eu apresentava o papai noel pra ele, dai acabou a conversa mesmo kkkkkkkk.
    Percebi então, que o defeito não estava em sua ignorância e sim em minhas explicações, afinal não e culpa dele ser ignorante, é culpa dele permanecer nela.
    Se talvez eu explica-se a ele como você nos explicou sobre os quatro níveis de conhecimento, fazendo feijoada sem gordura e arroz sem óleo, talvez eu disse talvez, ele me entenderia.
    Concluindo, aguardamos seu regresso o quanto antes em Dianópolis.
    Mais uma coisa, me informaram que vamos ter I.E.D só nos dois primeiros períodos, dária pra você começar a considerar a hipótese de lecionar aulas de direito penal pra gente ou outro contéudo, só para podermos fazer mais "ARROZ SEM ÓLEO" juntos!
    D.U.V.I.D.A., D.U.V.I.D.A., DUVIDAS,DUVIDAS é só perguntar ao Mestre Jean, não a mim hem.

    Alexandre Giacomim
    1º Período Direito (Fades/Faesto)

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