[Autotitulação. DR. Formatura. Direito. República dos bacharéis.]
A autotitulação é uma coisa interessante. Nesses tempos malucos que não têm nada de novos do "tudo pode", afinal o "tô pagando" parece ser o móvel ético de muita gente a tudo poder, pode-se tudo mesmo, assim dizem. Pelo menos para quem pensa assim é isso mesmo, com esse "suave" desvio ético, como se o arranhão na ética fosse dosimetrável. Vi agora um aluno de graduação em direito mandar um e-mail com um tremendo DR em letras garrafais antes do próprio nome para o seu professor. Não estou aqui para "recriminá-lo", essa conduta "fácil" e pequenoburguesa. Se o DR lhe dá prazer mental e essa é a sua fantasia psicanalítica, que mal há nisso? Mesmo que eu achasse ridículo ou patético - ou numa ponta transgressiva e desviante [minha], achasse muito louco e ousado - o cara mandar pro seu professor autointitulando-se DR, isso não mudaria o mundo em absolutamente nada. O que é interessante é se analisar a autotitulação, sua necessidade, sua antropologia, o onirismo embutido aí, a lascívia mental, enquanto pertencente à famosa "república dos bacharéis", referenciada por Sergio Buarque de Holanda na obra Raízes, e outras leituras, modos e culturas.
Vez em quando bato, no Facebox, em alguma estrutura da justiça, essa equação alcoolizada que visa ao resultado da obtenibilidade de um julgamento justo, como se o homo sapiens fosse justo, não possuísse suas taras, vícios, demências e desejos -, e um ou outro aí (ou uma ou outra, “rs”) se insurgem contra, "defendendo" o sistema, como se o sistema não fosse prostibular e puterizado. Chega a dar uma peninha discreta, sem qualquer preconceito, de quem tem esses pequenos “zelos” morais, de quem "ainda acredita" que os gestores públicos não estão ocupados nos coquetéis com as prostitutas belíssimas, peitudíssimas, vaginíssimas e espetaculares, babando o terno fabricado com super200. Essa visão zelosa e de defesa é uma que pode ser crédula (um subproduto da imbecilidade) ou ortodoxa (um subproduto do autoritarismo), sugerindo deliciosamente o romancista Dumas Davy de la Pailleterie, mais conhecido como Alexandre Dumas “prefiro os canalhas aos imbecis. Os canalhas, pelo menos, descansam de vez em quando”.
Mas os que se autointitulam com algo antes do nome não são canalhas, nem imbecis, “rs”, podem ser estranhos, esquisitos, meio fora de tempo ou até porraloucas, mas talvez não obtivessem o direito de ser tratados por imbecis, muito menos por canalhas. A canalhice contém uma nobreza do mal, ou da verificação ou da pujança da realização dele que dificilmente se comprazeria com um sujeito se autointitulando DR, que, todavia, estima-se que seja “dotor”, já que doutor, com u, costuma ser para quem passou por um doutorado, e estes raramente fazem questão de qualquer coisa antes do nome. Karl Popper em seu livro A teoria dos quanta e o cisma na física, se autointitula um “Zé ninguém”, em nota de rodapé, negando pudesse ter influenciado Einstein em qualquer coisa. Mas Sir Popper, veja que titulação deliciosa, igual a de Mick Jagger, era uma doçura.
Voltando ao brazuca, a doutoragem, aí como autotitulação é uma sanha que assola alguns jovens (e valhacos com postos no Poder, claro). Imagine o sujeito pagar uma faculdade por 5 anos sem ter o direito de, pelo mesmo dinheiro – é basicamente só isso que manda – obter com mais rapidez o direito a ser “tratado” (?) por doutor. O cara surta. Conclui o curso e quer por quer ser chamado assim, pela noiva, pelos amigos de infância, pela mãe e pelo cachorro. Assim, se o problema é tratá-lo por DR, vamos lá DR Eydyvâncyo, DR Waldyslley, DR Syntyio, DR Regino, DR Uedysleywuylson e DR Uélyngthonw. Todos estão mais felizes agora, e nós também, já que fazer esta felicidade do Outro é tão fácil, basta um DR bem grande antes do nome. Jean Menezes de Aguiar (aqui Jeanzinho das Candongas, pelo amor de deus).
Seu Cynthyo das Candongas,
ResponderExcluirMe fez rir muito esse repertório doutorístico todo. Lembrei de mais alguns!! You´re THE MASTER.
Bjs!!
Dra. RASolyneyde Emerenciana ( com toda a fantasia psicanalítica possível, rs)