Assiste-se à estapafúrdia escolha de um desejosamente fundamentalista,
sabidamente contrário aos direitos humanos para presidir o tema. Pelo menos na
“Casa do Povo”, a câmara dos deputados. O problema não é mais a criatura, mas o
seu criador. Quem o alugou como tampão de última hora.
O deputado que aceitou o oba-oba politiqueiro da presidência da Comissão
praticamente não tem culpa. É um subproduto de um sistema diabólico de
conchavos, domínios e feudos partidários que acaba parindo escolhas absurdas
assim. Não tem o religioso profissional qualquer poder político de influir em
uma escolha tão nevrálgica e representativa. “Ninguém” nunca tinha ouvido falar
nesse deputado até seus desastres orais em xingar e justificar ódios e racismos.
Agora, em ser usado nessa presidência da Comissão que até o presidente da
câmara já não quer mais.
Em uma análise mais fria, o sujeito poderia ser digno de pena, em relação à
trituração política e pessoal que lhe impôs uma câmara ligada ao qualquer-um-serve-para-qualquer-coisa
aqui. Exatamente como se deu com a escolha para esse cargo. Ele estava quieto
em sua igreja do interior, rezando, fazendo milagres, curas e exorcismos na
madrugada. Talvez tentando ser um Edir Macedo, o sonho de todos.
Aí a Câmara o atira aos leões da crítica social, da intelectualidade e da
cultura, da mídia, da imprensa e da modernidade. É claro que o temente não tem
como se defender dessa turma mentalmente “descolada”, artistas, comediantes,
acadêmicos, pensadores, ativistas etc. Um grande saco de gatos agindo como
carrascos sociais das escolhas estapafúrdias.
O problema é: como a câmara dos deputados não pensou nisso antes? Como se
expôs, mais uma vez, à execração pública desse modo? Por que a câmara se
especializou em atrair tantas críticas e desconfianças? Já não bastam os 50
salários por ano? Algum corretinho de plantão berrará: não são 50, são somente
15. É a mesma coisa. Fora o que não tem nome de salário.
Está faltando à câmara uma inteligência para mediar seus atos, suas ações e
evitar essas colisões frontais com a sociedade. Alguém para dizer: não faça
isso, isso exporá toda a classe política. Por outro lado, esse sonho é
impossível. Ali ninguém se controla, ninguém manda em ninguém. Todo mundo é
excelência e há inúmeras fogueiras de vaidade política acesas.
Um outro problema é que isso tudo é patrocinado pela sociedade. A mesma
sociedade que precisa de atendimentos urgentes em Direitos Humanos. Mas, no
caso brasileiro, admitindo-se a redução doméstica apenas por ilustração, o que
são os tais Direitos Humanos?
Historicamente o Brasil vive um momento ligado a determinadas pautas e
discussões críticas. Ciclistas nas ruas; relações homoafetivas; mudanças de
sexo; liberdade da maconha; problema social do crack, todos os CRMs do país e
mesmo o Conselho Federal de Medicina reconhecendo a validade do aborto e outras
questões.
Se alguém, por exemplo, afirma que lugar de ciclista é em parque de diversões
aos domingos está, apenas, na contramão da história atual. Nada mais que isso.
Um ser pensante assim não pode representar a minoria, os ciclistas. Do mesmo
jeito que se alguém declara que uma relação homoafetiva justifica o ódio e as
agressões perpetradas contra os gays, como o atual presidente da Comissão de
direitos humanos declarou, não tem a mínima condição e equilíbrio para ocupar o
cargo.
Direitos Humanos continuam a ser uma hemorragia cultural no Brasil. Muita gente
boa não consegue entender o que são (conceito) os Direitos Humanos. Figuras
ilustres já propuseram, por exemplo, que a anistia fosse “bilateral”, como se
tudo fosse “igual”.
Nem tudo é “comparável”, nem tudo é “a mesma coisa”. O assassinato cometido
pelos nazistas na Segunda Guerra foi um assassinato “pior” que outros
assassinatos. Há, sim, gradação nos crimes. Direitos Humanos são uma
qualificação atribuída a um crime ou agressão praticados pelo Estado, pelo polo
forte das relações em que há um desamparado, um hipossuficiente, uma minoria.
Quem entende e defende que as minorias devem apanhar na rua porque provocam
ódio com seu próprio jeito de ser não pode ocupar um cargo público de defesa de
minorias.
O bandido mata e é uma tragédia. Mas isso se chama criminalidade. Já o Estado
não pode matar ou agredir. A menos que o Estado se insira no conceito de uma
entidade criminosa, o que é absurdo. Assim, seus responsáveis, ou “autoridades”
como gostam de pensar, não podem agredir, discriminar, aceitar preconceitos em
nome de um ou outro livro que acreditem ser sagrado. O Estado recebe dinheiro
da sociedade não para matar ou violar, discriminar ou difundir preconceitos.
Igrejas ou “denominações”, atividades privadas que são, financiadas por quem as
aceita e quer, “podem” ter seus preconceitos contra minorias. Mas nunca o
Estado.
A Comissão de Direitos Humanos da câmara dos deputados vai perder toda a
“possibilidade” de pujança, força e representação. Seu presidente está
condenado até por entidades religiosas e instituições globais como a Anistia
Internacional. O retrocesso não é apenas “implicância”, é fato. Esta Comissão é
para andar para frente, não para ser defendida de acusação de que está andando
para trás.
O excesso de politicagem e conchavo que permeia a política brasileira, e muita
gente acha isso “saudável”, ou “normal”, acaba gerando este cenário: uma câmara
dos deputados e mesmo a classe política, salvo raríssimas exceções, totalmente
desrespeitadas por deméritos próprios. Tudo bem que “somos” a câmara, esses
monstros são nossos, nos pertencem, saem das nossas entranhas. Mas estamos
horrorizados com a qualidade de veneno que produzem. Por favor, reduzam a
picaretagem. Jean Menezes de Aguiar.
A escolha do Deputado Feliciano pode ser visto de diversas maneiras: poder, corrupção, insanidade, politicagem, piada, etc. Pra mim, é um lembrete de que algo ruim sempre pode piorar. E vai piorar cada vez mais, até porque 2014 é ano de COPA, sendo as eleições um mero acessório. Vai que tua, Brasil!!!
ResponderExcluirImagina se o Brasil ganhar a COPA...política do "pão e circo"...genial!!!!
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