segunda-feira, 5 de março de 2012

Marxismo e pós-modernidade, quem diria...



A força e a riqueza do marxismo sempre estiveram na tentativa mais radical de esclarecer o processo histórico em sua totalidade. Essa é a compreensão de Jean-Paul Sartre, na obra Questão de método, que, todavia, já reconhecia certa esclerose na conjuntura, mostrando ainda que o marxismo se via ainda jovem, quase que na infância. Passam-se décadas, “passa” Sartre – há para quem o magnífico tenha passado –, mas a centralidade da fórmula do Capital “O modo de produção da vida material domina em geral o desenvolvimento da vida social, política e intelectual”, à qual Sartre sempre aderiu sem reservas, parece desafiar o tempo.  Principalmente esses tempos pós-modernos.

Se “aplicarmos” a fórmula a uma pós-leitura da atualidade à qual o consumismo, a clivagem das relações humanas (a pressa nas relações), a revolução da tecnologia da informação e a “invenção” do chamado mundo corporativo como grande gestor ideológico de estruturas tão sensíveis e originariamente estéreis a modismos como a universidade, a religião, a medicina e outros segmentos clássicos, não teríamos uma explicação efetivamente central dessa sociedade pós-fútil e pós-moderna, pelo viés de produção da vida material como patronato "intelectual" do desenvolvimento da vida social política e intelectual?

O modismo quase que rácico de se imprestabilizar Marx, num desejo obsolescencial vazio de uma sociedade não pensante à qual o modelo de produção social [de tudo, material e imaterial] fica cada vez mais nítido com o fim da ética nas relações, os panos caindo, as máscaras esfacelando, faz com que o marxismo se “torne de novo possível”. Aqui os pensadores cairão na gargalhada com o “tornar” e o “possível”, mas eu acho que eles entenderão o que quero dizer. Não quero um Marx repaginado futilmente como essa sociedade tenta com Nietzsche; ou num remake artístico como se fez com Raul Seixas. Preciso estudar mais, achar teorias plurívocas insercionais, subsuncionais, não propriamente num marxismo cristalizado como apontado por Lukácz, exteriorizado na prática de se liquidar a particularidade, “procurar o todo por meio das partes”. Na pós-modernidade cessam as partes e o espírito nefasto de um todo se funcionaliza como um manto social perverso. Que estrago estamos vivendo. Jean Menezes de Aguiar.

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