Neste episódio, a leoa conseguiu salvar o filhote porque o macho era o pai,
se fosse o novo líder, o filhote seria morto.
se fosse o novo líder, o filhote seria morto.
Parque Nacional de Serengueti, na Tanzânia. Fotógrafo Elliott Neep.
Aceite a vida como ela é,
sem disfarces ou explicações irreais. A natureza não é perfeita sob os nossos
valores, ainda que tenha uma lógica funcional própria.
No mundo animal, por
exemplo, quando um leão (Panthera leo) líder do grupo envelhece é
desafiado e vencido por um leão mais jovem. Ele é expulso do grupo, ferido,
para morrer em algum lugar. Morrerá abandonado por todas as fêmeas, que agora
têm um novo líder. Aí uma primeira lógica estranha a nós: o antigo líder não
poderia ficar no grupo para morrer “em paz”, diríamos nós, humanos? Não há essa
opção a ele. O novo líder não o permite mais ali.
Por outro lado, as fêmeas
com cria, às vezes filhotes de dias, entram em desespero, sabem que seus
filhotes serão mortos pelo novo líder se deixar a cria ali. Algumas fogem com os
filhotes e os esconde. Mas elas pertencem àquele grupo de leões, precisam viver
ali. O novo macho descobre os bebês, às vezes no alto de um morro, e, um a um,
os mata, para que no próximo cio da fêmea, copule as 3 mil vezes que copula em
3 ou 4 dias e conceba sua própria linhagem. Se deixar aqueles filhotes viverem,
será desafiado por eles no futuro, afinal, não é o pai deles.
Há uma lógica própria
nisso, mas à luz da Evolução. É-se-nos inimaginável pensar humanamente assim; sob
nossos valores, ou nossa racionalidade, ainda que também sejamos mamíferos.
Ver a matança do novo
leão aos filhotes é um horror, traumatizante sob nossos valores, todavia, a natureza é assim
e a Ciência (Zoologia) identificou o comportamento.
Precisamos olhar para a
vida como ela é. A velhice, a doença, a morte. Qual é o ser humano que gosta de
envelhecer ou ver um ente querido envelhecer e ir embora? Podemos construir
mentiras carinhosas que nos afaguem “o coração”, como a de que alguém que morre
vai para um lugar “melhor”. Essa mentira pode ter um valor humano imensamente
difundido entre nossa espécie, desesperada em apego à vida, para nos “proteger” de dores e sofrimentos. Mas
infelizmente não tivemos, racionalmente, uma comprovação dessa continuação da vida. Leia com serenidade: "objetivamente" nunca tivemos.
Se quisermos um
conhecimento objetivo e racional da vida, temos que vê-la como ela é. A “saída”
para esses "erros" da natureza, sob nossos valores humanos, pode ser o amor, a
gentileza, o carinho, a consciência familiar que nos une, o cuidado que os
jovens devem ter para com os velhos e a força para enfrentarmos com resignação
que nossos velhos irão antes, assim é a lógica não nossa, mas da natureza.
Para sermos doces, amigos,
e gentis não precisamos de explicações inventadas ou sobrenaturais, apenas de um pouco de
conhecimento racional da vida, e, alguma resignação oriunda da maturidade. A vida tem erros e querermos
enxergar “perfeição” em tudo e em todos os atos da vida beira à infâmia. A
perda de um filho inocente, a perda de uma mãe jovem são rápidos exemplos de
erros da vida. Saber que a vida “erra”, aos nossos olhos e valores humanos, como
se dá com os leões, e não só com eles, é aceitá-la como ela é. Talvez aí se
sofra menos, pela não criação, totalmente artificial, de expectativas sobre-humanas
de uma imortalidade que não existe. Infelizmente não existe. Jean Menezes de Aguiar.
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