segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A vida e sua lógica

Neste episódio, a leoa conseguiu salvar o filhote porque o macho era o pai,
se fosse o novo líder, o filhote seria morto.
Parque Nacional de Serengueti, na Tanzânia. Fotógrafo Elliott Neep.

 
Aceite a vida como ela é, sem disfarces ou explicações irreais. A natureza não é perfeita sob os nossos valores, ainda que tenha uma lógica funcional própria.

No mundo animal, por exemplo, quando um leão (Panthera leo) líder do grupo envelhece é desafiado e vencido por um leão mais jovem. Ele é expulso do grupo, ferido, para morrer em algum lugar. Morrerá abandonado por todas as fêmeas, que agora têm um novo líder. Aí uma primeira lógica estranha a nós: o antigo líder não poderia ficar no grupo para morrer “em paz”, diríamos nós, humanos? Não há essa opção a ele. O novo líder não o permite mais ali.

Por outro lado, as fêmeas com cria, às vezes filhotes de dias, entram em desespero, sabem que seus filhotes serão mortos pelo novo líder se deixar a cria ali. Algumas fogem com os filhotes e os esconde. Mas elas pertencem àquele grupo de leões, precisam viver ali. O novo macho descobre os bebês, às vezes no alto de um morro, e, um a um, os mata, para que no próximo cio da fêmea, copule as 3 mil vezes que copula em 3 ou 4 dias e conceba sua própria linhagem. Se deixar aqueles filhotes viverem, será desafiado por eles no futuro, afinal, não é o pai deles.

Há uma lógica própria nisso, mas à luz da Evolução. É-se-nos inimaginável pensar humanamente assim; sob nossos valores, ou nossa racionalidade, ainda que também sejamos mamíferos.

Ver a matança do novo leão aos filhotes é um horror, traumatizante sob nossos valores, todavia, a natureza é assim e a Ciência (Zoologia) identificou o comportamento.

Precisamos olhar para a vida como ela é. A velhice, a doença, a morte. Qual é o ser humano que gosta de envelhecer ou ver um ente querido envelhecer e ir embora? Podemos construir mentiras carinhosas que nos afaguem “o coração”, como a de que alguém que morre vai para um lugar “melhor”. Essa mentira pode ter um valor humano imensamente difundido entre nossa espécie, desesperada em apego à vida, para nos “proteger” de dores e sofrimentos. Mas infelizmente não tivemos, racionalmente, uma comprovação dessa continuação da vida. Leia com serenidade: "objetivamente" nunca tivemos. 

Se quisermos um conhecimento objetivo e racional da vida, temos que vê-la como ela é. A “saída” para esses "erros" da natureza, sob nossos valores humanos, pode ser o amor, a gentileza, o carinho, a consciência familiar que nos une, o cuidado que os jovens devem ter para com os velhos e a força para enfrentarmos com resignação que nossos velhos irão antes, assim é a lógica não nossa, mas da natureza.

Para sermos doces, amigos, e gentis não precisamos de explicações inventadas ou sobrenaturais, apenas de um pouco de conhecimento racional da vida, e, alguma resignação oriunda da maturidade. A vida tem erros e querermos enxergar “perfeição” em tudo e em todos os atos da vida beira à infâmia. A perda de um filho inocente, a perda de uma mãe jovem são rápidos exemplos de erros da vida. Saber que a vida “erra”, aos nossos olhos e valores humanos, como se dá com os leões, e não só com eles, é aceitá-la como ela é. Talvez aí se sofra menos, pela não criação, totalmente artificial, de expectativas sobre-humanas de uma imortalidade que não existe. Infelizmente não existe. Jean Menezes de Aguiar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário